Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Sábado, dia 28 de janeiro, memória de
Santo Tomás de Aquino, tive a graça de ordenar dois novos bispos
auxiliares para a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro: D.
Joel Amado Portela e D. Paulo Alves Romão, que se juntarão aos demais
bispos auxiliares para nos ajudarem a pastorear o povo santo de Deus
nesta nossa grande, bela e complexa cidade.
A Igreja tem a missão de anunciar e
propagar o Reino de Deus até os extremos confins da Terra, a fim de que
todos os homens creiam em Cristo e assim tenham a vida eterna. A Igreja
é, portanto, anunciadora da misericórdia. É dessa missão que brotam as
tarefas, a luz e as forças que podem contribuir para construir e
consolidar a comunidade dos homens segundo a Lei divina.
O Bispo é o princípio visível de unidade
na sua Igreja; é chamado a edificar incessantemente a Igreja particular
na comunhão de todos os seus membros e, destes, com a Igreja universal,
vigiando a fim de que os diversos dons e ministérios contribuam para a
comum edificação dos crentes e com a difusão do Evangelho.
Como mestre da fé, santificador e guia
espiritual, o Bispo sabe que pode contar com uma especial graça divina,
conferida na ordem episcopal. Tal graça o sustenta no seu consumir-se
pelo Reino de Deus, pela salvação eterna dos homens e também no seu
empenho para construir a história com força do Evangelho, dando sentido
ao caminho do homem no tempo.
O Bispo, diante de si mesmo e dos seus
deveres, tem presente como centro que delineia a sua identidade e a sua
missão o mistério de Cristo e as características que o Senhor Jesus quer
para a sua Igreja, “povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do
Espírito Santo” (LG, 4). É, de fato, à luz do mistério de Cristo, Pastor
e Bispo das almas (cf. 1Pd 2,25), que o Bispo compreende sempre mais
profundamente o mistério da Igreja, na qual a graça da ordenação
episcopal o colocou como mestre, sacerdote e pastor para guiá-la com a
sua mesma autoridade.
Uma das mais belas figuras do bispo é a
do Bom Pastor, pois ela ilustra o conjunto do ministério episcopal
enquanto manifesta o seu significado, a sua finalidade, o seu estilo e o
seu dinamismo evangelizador e missionário. Cristo Bom Pastor indica ao
Bispo a fidelidade cotidiana à própria missão, a plena e serena
consagração à Igreja, a alegria de conduzir para o Senhor o Povo de Deus
que lhe é confiado e a felicidade em acolher na unidade da comunhão
eclesial todos os filhos de Deus dispersos (cf. Mt 15, 24; 10,6).
O Bom Pastor ofereceu a vida pelo
rebanho (cf. 10,11) e veio para servir e não para ser servido (cf. Mt
20,28). Além disso, aí se encontra a fonte do ministério pastoral pelo
qual as três funções: de ensinar, santificar e governar devem ser
exercitadas com os traços característicos do Bom Pastor. Para
desenvolver o ministério episcopal fecundo, o Bispo é chamado a
conformar-se com Cristo de maneira toda especial na sua vida pessoal e
no exercício do ministério apostólico, de tal forma que o “pensamento de
Cristo” (1Cor 2,16) penetre totalmente as suas ideias, os seus
sentimentos e os seus comportamentos, e a luz que provém do rosto de
Cristo ilumine “o governo das almas, que é a arte das artes”. (“Regula
Pastoralis” de São Gregório Magno, 1).
Quando o Papa Francisco esteve no Brasil
por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, ele fez um discurso aos
Bispos do Brasil no dia 27/07/2013. Na ocasião, o Papa Francisco retomou
o que tinha dito antes, em Roma, aos Núncios Apostólicos, sobre os
critérios a seguir ao preparar as listas dos candidatos ao serviço do
episcopado. Segundo o Papa Francisco: “Os Bispos devem ser Pastores,
próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e
misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como
liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e
austeridade de vida. Homens que não tenham “psicologia de príncipes”.
(Retirado do site:
http://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/desdobramentos/393-discurso-do-papa-ao-episcopado-brasileiro-coragem-para-mudar-estruturas.
Último acesso: 26/01/2017).
“Homens capazes de vigiar sobre o
rebanho que lhes foi confiado e cuidando de tudo aquilo que o mantém
unido: vigiar sobre o seu povo, atento a eventuais perigos que o
ameacem, mas, sobretudo, para fazer crescer a esperança (o Bispo tem que
cuidar da esperança do seu povo): que haja sol e luz nos corações.
Homens capazes de sustentar com amor e paciência os passos de Deus em
seu povo. E o lugar do Bispo para estar com o seu povo é triplo: ou à
frente para indicar o caminho, ou no meio para mantê-lo unido e
neutralizar as debandadas, ou então atrás para evitar que alguém se
atrase, mas também e fundamentalmente, porque o próprio rebanho tem o
seu faro para encontrar novos caminhos”. (Retirado do site:
http://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/desdobramentos/393-discurso-do-papa-ao-episcopado-brasileiro-coragem-para-mudar-estruturas.
Último acesso: 26/01/2017).
Como tive ocasião de dizer na homilia da
Missa de Consagração: D. Joel Portela Amado e D. Paulo Alves Romão,
como bispos se abrem à universalidade, embora provenham de situações bem
concretas, porém agora não mais pertencem a um movimento,
espiritualidade, grupo pastoral ou a uma paróquia, mas sim à Igreja em
sua universalidade concretizada na Arquidiocese. São chamados a ser
sinais da unidade da Igreja em comunhão perfeita e íntima com o seu
Arcebispo, com os demais bispos da arquidiocese, com o regional e toda a
Igreja do Brasil – consequentemente unido ao sucessor de Pedro e a toda
a catolicidade da igreja. Serão homens da Igreja em favor do povo de
Deus, procurando servir aos que mais sofrem e que vivem nas “periferias
existenciais”.
D. Joel Portela Amado escolheu como
lema: “Omnibus omnia propter Evangelium”, “Tudo para todos pelo
Evangelho”. (1Cor 9,22) e D. Paulo Alves Romão escolheu como lema:
“Vivere Christus est”, “Viver é Cristo”. (Fl 1,21). Aí está o resumo da
caminhada episcopal: viver para Cristo e consumir-se pelo rebanho!
Que o Senhor nos conceda transmitir e
ser para o povo a figura do Bom Pastor, acolhendo, servindo, indo ao
encontro das ovelhas, em especial da desgarradas e colocando todos no
caminho de Cristo Jesus.
Fonte: CNBB
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