segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O valor da reconciliação

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)



As ideias e os estilos de vida das pessoas se apresentam diversos, tanto de indivíduo para indivíduo, como de comunidade para comunidade. As cabeças são diferentes, a forma de agir é de cada um, mesmo levando em conta a influência do contexto social. De uma mesma realidade ou convivência, cada pessoa é uma pessoa, com dons e fraquezas, fazendo a diferença entre uma e outra.
O Evangelho fala de um pai que tinha dois filhos. Tiveram a mesma formação, mas as reações eram totalmente diferentes. O mais novo abandonou a casa paterna, e outro não. A forma como isto aconteceu criou uma grande barreira entre eles. Só um processo de reconciliação era capaz de aproximar os dois. Isto supõe sacrifício e perda na zona de conforto, o que o mais velho não quis aceitar.
A reconciliação é caminho de construção de nova forma de vida, normalmente fundamentada na fraternidade. Podemos até dizer que é recomeço de relacionamento, essencial para a normalidade da convivência no ambiente comunitário. É também condição para que a pessoa passe a experimentar o sentido e a força do calor humano, revitalizador inclusive da serenidade e da saúde física.
Quaresma é tempo de reconciliação. É um gesto bonito na vida de quem reconhece as próprias fraquezas, fragilizado por não ter convivência fraterna. A inimizade, a vingança e a violência fazem mal e destorcem a essência da dignidade da pessoa. Ela se torna um ser infeliz e carente de gestos de acolhida. É feliz quem é capaz de fazer a via da reconciliação, seja com Deus ou com o irmão.
É gratificante a pessoa ter um aprendizado no sentido de viver, começando pelos erros praticados e descobrir aí a gratuidade da vida, que sempre se renova com o passar do tempo. Isto não depende de aparência, de cultura, de inteligência, de posse ou de habilidade para manipular os relacionamentos. É uma questão baseada na conduta da pessoa em busca do bem.
Reconciliados em Cristo Jesus, tornamo-nos criaturas novas, renascidos com atitudes renovadas. Tal postura cria impacto na sociedade porque passamos a ser diferentes, testemunhando uma prática de vida autêntica e transparente. Nisto está o valor da reconciliação, porque abre caminho para uma convivência fraterna, onde o espírito de comunidade fala mais alto do que o individualismo.
Fonte : CNBB

Quaresma do Ano Jubilar

Dom Genival Saraiva de França
Bispo Emérito de Palmares (PE)


É comum haver a rememoração de acontecimentos do passado, mediante comemorações, em determinadas datas, em razão de sua significação social, cultural, política, religiosa. Assim, no universo religioso, pode-se considerar um fato do passado como, por exemplo, a Paixão de Cristo. Todavia, quando relembrado numa encenação, tal como acontece em Nova Jerusalém e em outros lugares, esse fato se distingue das celebrações litúrgicas, nas paróquias e comunidades, porque estas fazem memória e tornam atual o mistério de Cristo que é celebrado ao longo do Ano Litúrgico. 
Na fase preparatória da celebração da Páscoa, a Igreja vive o tempo da Quaresma que é muito rico, no plano da espiritualidade e da ação pastoral. No conjunto das celebrações do Ano Litúrgico, a Quaresma tem sempre um lugar especial porque prepara os fiéis para a celebração da Ressurreição do Senhor que é centro da vida da Igreja. Em qualquer contexto, a misericórdia faz parte da natureza da Quaresma, como expressão orante e como prática corporal e espiritual, porém, em razão do Ano Santo da Misericórdia, essa linguagem se reveste de um significado particular na Quaresma de 2016, como frisa o Papa Francisco na Bula Misericordiae Vultus (O rosto da Misericórdia). “A Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus. Quantas páginas da Sagrada Escritura se podem meditar, nas semanas da Quaresma, para redescobrir o rosto misericordioso do Pai! Com as palavras do profeta Miqueias, podemos também nós repetir: Vós, Senhor, sois um Deus que tira a iniquidade e perdoa o pecado, que não se obstina na ira, mas se compraz em usar de misericórdia. Vós, Senhor, voltareis para nós e tereis compaixão do vosso povo. Apagareis as nossas iniquidades e lançareis ao fundo do mar todos os nossos pecados (cf. 7, 18-19).” O Papa também encontra no Profeta Isaías uma fonte de meditação e prática da misericórdia na Quaresma deste ano: “Acaso o jejum que eu prefiro não será isto: soltar as cadeias injustas; desamarrar as cordas do jugo; deixar livres os oprimidos, acabar com toda espécie de imposição? Não será repartir tua comida com quem tem fome? Hospedar na tua casa os pobres sem destino? Vestir uma roupa naquele que encontras nu e jamais tentar te esconder do pobre teu irmão? Aí, então, qual novo amanhecer, vai brilhar a tua luz, e tuas feridas hão de sarar rapidamente. Teus atos de justiça irão à tua frente e a glória do Senhor te seguirá. E quando o invocares, o Senhor te atenderá, e ao clamares, ele responderá: ‘Aqui estou!’ Se, pois, tirares do teu meio toda espécie de opressão, o dedo que acusa e a conversa maligna, se entregares ao faminto o que mais gostarias de comer, matando a fome de um humilhado, então a tua luz brilhará nas trevas, o teu escuro será igual ao meio-dia. O Senhor te guiará todos os dias e vai satisfazer teu apetite, até no meio do deserto. Ele dará a teu corpo nova vida, e serás um jardim bem irrigado, mina d’água que nunca para de correr” (58, 6-11).
A Quaresma da misericórdia, como apropriadamente está sendo chamada este ano, contém apelos muito concretos que devem ser acolhidos pelas pessoas, famílias e comunidades, na linha da espiritualidade, da caridade, da justiça, da liberdade, da responsabilidade, do direito, do dever. Por ser um “momento favorável”, a Quaresma do Ano Jubilar fala ao coração de  quem pode ser portador de misericórdia junto a quem necessita desse dom de Deus.
Fonte: CNBB

Papa recebe Patriarca etíope: perseguição une os cristãos

2016-02-29 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) - A segunda-feira de Francisco, 29 de fevereiro, foi marcada por um encontro ecumênico. O Papa recebeu em audiência, no Vaticano, o Patriarca da Igreja Ortodoxa  Etíope Tewahido, Sua Santidade Abuna Matthias I.
Em seu discurso, o Pontífice recordou os elos fraternos que unem as duas Igrejas, e os encontros precedentes entre o então Patriarca Abuna Paulos com S. João Paulo II e Bento XVI. Francisco citou ainda o trabalho levado avante pela Comissão Internacional conjunta entre a Igreja Católica e as Igrejas ortodoxas desde 2004. “Como já foi observado várias vezes, disse Francisco, aquilo que nos une é muito maior do aquilo que nos divide.”
Ecumenismo dos mártires
Atualmente, este elo se tornou ainda mais forte com o ecumenismo dos mártires, isto é, a perseguição e o assassinato de cristãos em todo o mundo. “Hoje, o sangue de tantos mártires pertencentes a todas as Igrejas se torna semente de unidade dos cristãos.”
O Papa falou da história da Igreja Ortodoxa etíope, que foi desde o início uma Igrejas de mártires. “E ainda hoje, são testemunhas de uma violência devastadora contra os cristãos e contra outras minorias no Oriente Médio e em algumas partes da África. Não podemos nos eximir de pedir, mais uma vez, aos que detêm o futuro político e econômico do mundo que promovam uma coexistência pacífica baseada no respeito recíproco e na reconciliação, no mútuo perdão e na solidariedade.”
Preservação do meio ambiente
Francisco mencionou ainda os esforços da Etiópia para melhorar as condições de vida da população e para construir uma sociedade sempre mais justa, baseada também no respeito do papel das mulheres. De modo especial, o Papa falou do problema da falta de água, com as suas graves repercussões sociais e econômicas e da possibilidade de fortalecer a cooperação neste campo entre as duas Igrejas.
Nova era
Por fim, Francisco fez votos de que este encontro marque um novo tempo de amizade, pedindo perdão pelas incompreensões do passado. “Que o Espírito Santo continue alimentando em nós a esperança do dia em que estaremos unidos em volta do altar do Sacrifício de Cristo, na plenitude da comunhão eucarística.”
O discurso do Papa foi precedido por um colóquio privado e pela apresentação da delegação etíope. Após os pronunciamentos dos dois líderes, houve a troca de dons.
(BF)
(from Vatican Radio)
Fonte:News.VA

Papa aos Carabineiros: serviço indispensável em São Pedro

2016-02-29 Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (29/02), na Sala Clementina, no Vaticano, os Carabineiros (Polícia Militar Italiana) da Companhia Roma-São Pedro.
O Pontífice agradeceu aos militares pelo serviço desafiador e indispensável que prestam à comunidade, dedicando suas energias na tutela da segurança e da ordem pública, junto com outras forças. 
“Graças também a vocês as pessoas são ajudadas a respeitar as leis que regulam a convivência serena e harmoniosa. A sua presença no território se torna um elo da solidariedade concreta de toda a comunidade. Em particular, as pessoas desfavorecidas podem encontrar uma ajuda preciosa em suas dificuldades”, disse o Papa. 
Grandes eventos
Francisco destacou que os militares da Companhia Roma-São Pedro colaboram com os organismos competentes da Santa Sé no andamento tranquilo dos eventos que, durante o ano, se realizam na Praça São Pedro e redondezas. 
“Agradeço-lhes pelo seu trabalho que se coloca a serviço dos peregrinos e turistas. Trata-se de uma atividade que requer profissionalismo e sentido de responsabilidade, como também atenção às pessoas, muitas das quais idosas, paciência contínua e disponibilidade para com todos. São qualidades não fáceis para as quais é importante contar com a ajuda de Deus”, disse ainda o Pontífice. 
“O Ano Santo da Misericórdia abre a todos nós a possibilidade de se renovar, partindo de uma purificação interior que se reflete na maneira de se comportar e também no exercício das atividades cotidianas. Esta dimensão espiritual do evento jubilar impulsiona cada um de nós a se perguntar acerca do compromisso real ao responder às exigências de fidelidade ao Evangelho, ao qual o Senhor nos chama a partir de nosso estado de vida. O Jubileu se torna desta forma uma ocasião propícia de verificação pessoal e comunitária, e o paradigma sobre o qual nos avaliar são as obras de misericórdia corporais e espirituais”, reiterou o Papa.
Acolhida
Francisco recordou aos militares as seguintes palavras de Jesus:  ‘Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram.’
“Que este ensinamento de Jesus sirva de guia também para vocês, responsáveis pela tutela da ordem pública, e lhes ajude a ser em toda circunstância promotores de solidariedade, especialmente com os fracos e indefesos; a serem custódios do direito à vida, através do compromisso com a segurança e incolumidade das pessoas”, frisou o Papa. 
“No desempenho desta missão, recordem que toda pessoa é amada por Deus, é sua criatura e merece acolhimento e respeito. Possa a graça do Jubileu Extraordinário da Misericórdia renovar o espirito com o qual vocês se dedicam à sua profissão, conduzindo-os a vivê-la com um suplemento de atenção, dedicação e generosidade”, concluiu Francisco. (MJ)
(from Vatican Radio)
Fonte: News.VA

Papa: que não haja lugar para o desprezo em nosso coração

2016-02-29 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco iniciou a semana celebrando a missa na Casa Santa Marta. A sua homilia foi inspirada nas leituras do dia, que nos falam da indignação: Naamã, o sírio que se indigna por um leproso e pede ao profeta Eliseu que o cure, mas não aprecia o modo simples com que esta cura pode acontecer. E se indignam também os moradores de Nazaré diante das palavras de Jesus, seu conterrâneo. É a indignação diante do projeto de salvação de Deus que não segue os nossos esquemas. Não é como nós pensamos que seja a salvação, a salvação que todos queremos. Jesus sente o desprezo dos doutores da Lei que buscavam a salvação na casuística da moral e em tantos preceitos, mas o povo não tinha confiança neles:
“Os saduceus que buscavam a salvação nos compromissos com os poderes do mundo, com o Império... uns com grupos de clérigos, outros com grupos de políticos, procuravam assim a salvação. Mas o povo percebia e não acreditava. Sim, acreditava em Jesus porque tinha ‘autoridade’. Mas por que este desprezo? Porque na nossa imaginação, a salvação deve provir de algo de grande, de majestoso; somente os poderosos nos salvam, aqueles que têm dinheiro, que têm poder: eles podem nos salvar. E o plano de Deus é outro! Se indignam porque não podem compreender que a salvação vem somente do pequeno, da simplicidade das coisas de Deus”. 
“Quando Jesus faz a proposta do caminho de salvação – prosseguiu o Papa – jamais fala de coisas grandes”, mas “de coisas pequenas”. São “os dois pilares do Evangelho” que se leem em Mateus, as Bem-aventuranças e, no capítulo 25, o Juízo final, “Vem, vem comigo porque você fez isto”:
“Coisas simples. Você não buscou a salvação ou a esperança no poder, nas negociações... não... fez simplesmente isto. E isto indigna a muitos. Como preparação à Páscoa, eu os convido – também eu o farei – a ler as Bem-aventuranças e a ler Mateus 25, e pensar e ver se algo disso me indigna, me tira a paz. Porque o desprezo é um luxo que somente os vaidosos, os orgulhosos podem se permitir. Se… no final das Bem-aventuranças, Jesus diz uma palavra que parece...  mas por que isso? ‘Bem-aventurado aquele que não se escandaliza comigo’, que não despreza isso, que não sente desprezo”. 
O Papa Francisco assim conclui a sua homilia:
“Fará bem a nós tomar um pouco de tempo – hoje, amanhã – ler as Bem-aventuranças, ler Mateus 25, e ficarmos atentos ao que acontece em nosso coração: se existe desprezo, e pedir a graça ao Senhor para entender que o único caminho da salvação é a ‘loucura da Cruz’, ou seja, a aniquilação do Filho de Deus, de Deus, e fazer-se pequeno. Representado, aqui, no banho no Jordão ou na pequena aldeia de Nazaré”. 
(CM/BF)
(from Vatican Radio)
Fonte: News.VA

3ª Semana da Quaresma - Segunda-feira 29/02/2016 -Liturgia Diária-Primeira Leitura (2Rs 5,1-15a)

Leitura do Segundo Livro dos Reis.

Naqueles dias, 1Naamã, general do exército do rei da Síria, era um homem muito estimado e considerado pelo seu senhor, pois foi por meio dele que o Senhor concedeu a vitória aos arameus. Mas esse homem, valente guerreiro, era leproso.
2Ora, um bando de arameus que tinha saído da Síria, tinha levado cativa uma moça do país de Israel. Ela ficou a serviço da mulher de Naamã. 3Disse ela à sua senhora: “Ah, se meu senhor se apresentasse ao profeta que reside em Samaria, sem dúvida, ele o livraria da lepra de que padece!”
4Naamã foi então informar o seu senhor: “Uma moça do país de Israel disse isto e isto”. 5Disse-lhe o rei Aram: “Vai, que eu enviarei uma carta ao rei de Israel”. Naamã partiu, levando consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa. 6E entregou ao rei de Israel a carta, que dizia: “Quando receberes esta carta, saberás que eu te enviei Naamã, meu servo, para que o cures de sua lepra”.
7O rei de Israel, tendo lido a carta, rasgou suas vestes e disse: “Sou Deus, porventura, que possa dar a morte e a vida, para que este me mande um homem para curá-lo de lepra? Vê-se bem que ele busca pretexto contra mim”. 8Quando Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei de Israel havia rasgado as vestes, mandou dizer-lhe: “Por que rasgaste tuas vestes? Que ele venha a mim, para que saibas que há um profeta em Israel”.
9Então Naamã chegou com seus cavalos e carros, e parou à porta da casa de Eliseu. 10Eliseu mandou um mensageiro para lhe dizer: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e tua carne será curada e ficarás limpo”.
11Naamã, irritado, foi-se embora, dizendo: “Eu pensava que ele sairia para me receber e que, de pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, e que tocaria com sua mão o lugar da lepra e me curaria. 12Será que os rios de Damasco, o Abana e o Fartar, não são melhores do que todas as águas de Israel, para eu me banhar nelas e ficar limpo?” Deu meia-volta e partiu indignado.
13Mas seus servos aproximaram-se dele e disseram-lhe: “Senhor, se o profeta te mandasse fazer uma coisa difícil, não a terias feito? Quanto mais agora que ele te disse: ‘Lava-te e ficarás limpo”’. 14Então ele desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado.
15aEm seguida, voltou com toda a sua comitiva para junto do homem de Deus. Ao chegar, apresentou-se diante dele e disse: “Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda terra, senão o que há em Israel!”

- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.

Salmo de Hoje- Responsório (Sl 41)

 Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: e quando verei a face de Deus?
R- Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: e quando verei a face de Deus?
— Assim como a corça suspira pelas águas correntes, suspira igualmente minh’alma por vós, ó meu Deus!
— A minh’alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus?
— Enviai vossa luz, vossa verdade: elas serão o meu guia; que me levem ao vosso Monte santo, até vossa morada!

Compreendendo e Refletindo


“Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4, 24).
Deus precisa de cada um de nós para que sejamos profetas em Seu nome, para que falemos em nome d’Ele e possamos ser presença amorosa onde estivermos, nas coisas importantes. O profeta, enquanto homem e mulher que escuta o Senhor, tem ouvidos e coração voltados para Ele, abertos a ouvir Sua voz.
Só pode falar de Deus quem O escuta; só pode profetizar em nome d’Ele aquele a quem Ele se achega ao coração e se abre para ser, de fato, Seu anunciador onde quer que esteja.
Quando falamos dos profetas, é óbvio que vem à nossa mente aqueles que estão designados para tal função, seja o padre em nossa comunidade, o bispo na diocese e o Papa onde estiver; talvez ainda seja aquele outro, que é um bom pregador da Palavra, que tem o dom de falar… Mas a profecia da qual falamos aqui é bem mais ampla.
Todo pai, toda mãe, todo homem e mulher de Deus são chamados a exercer a profecia, essa é a graça que recebemos em nosso batismo. Que bom se cada mãe soubesse ser uma profetisa no exercício do seu dom e do seu ministério materno! A mãe que escuta Deus é aquela que pode falar d’Ele para seus filhos. Imagine um pai profeta, que escuta o Senhor e pode falar d’Ele para seus filhos, pode instruí-los segundo o Pai, ter o discernimento segundo Deus e a sabedoria que vem do coração d’Ele.
Imagine se cada governante, cada pessoa não desistisse do seu trabalho, sabendo exercê-lo na docilidade de Deus. Como o mundo de hoje necessita de profetas, de homens e mulheres voltados para Deus, para escutá-Lo e falar sobre Ele! Profeta é aquele que anuncia a Palavra do Senhor, que O tem em seu coração. O profeta é aquele que também denuncia às mentiras, desigualdades e injustiças.
Profeta é aquele que tem discernimento do que convém e do que não convém. Ele não é dono da verdade, não é o “sabe-tudo”, mas é o mais humilde de todos, é aquele que se coloca à disposição para escutar Deus, sabe se rever, reposicionar-se, distinguir o que é humano do que é divino, sabe divinizar suas próprias ações e humanizar quando há excesso de divinização no meio da humanidade, para que possamos nos olhar com misericórdia e bênção.
É verdade que o profeta tem muita dificuldade para ser aceito no meio dos seus. Quando a mãe vai falar de Deus para o filho: “Lá vem a mãe de novo com essa história de igreja!”. Quando a mulher vai falar para o marido: “Lá vem novamente mais desculpas!”. É assim mesmo! Pode ser que os seus não o escutem ou não lhe deem a devida atenção. Não seja menos profeta por causa disso; pelo contrário, aplique-se a ouvir mais o Senhor, porque Sua sabedoria é que conduz os nossos passos.
Entenda uma coisa: quando você fala algo, mas a pessoa não o escuta e até despreza aquilo que você falou, com certeza, amanhã, essa palavra vai cobrar dela um preço. Por isso, o profeta, quando fala, mesmo que não seja ouvido, não pode deixar de anunciar, porque a seu tempo as coisas terão um porquê.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo- Canção Nova

Evangelho (Lc 4,24-30)

 O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!
Jesus, vindo a Nazaré, disse ao povo na sinagoga: 24“Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 26No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 27E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio”.
28Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até o alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 30Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Novas Oportunidades

Dom Caetano Ferrari
                                                                     Bispo de Bauru


A parábola da figueira estéril ou parasita, que suga o húmus da terra e nada produz, contada por Jesus, segundo o relato feito por São Lucas no trecho lido na Missa de hoje - Lc 13, 1-9 - é uma história da paciência de Deus que dá novas oportunidades na esperança de que as pessoas se convertam. Essas pessoas são a multidão dos judeus que ainda não entendiam os sinais dos fatos presentes, não sabiam compreender a vinda de Jesus, sua presença no meio deles, a chegada do Reino de Deus. Por isso, estavam a rejeitar Jesus, progressivamente, pois Jesus subia a Jerusalém para morrer. Esse povo era realmente de cabeça dura, não mudaram em nada em sua antiga fé e no modo de vivê-la, mas persistiam nas velhas crenças e práticas. Assim sendo, estavam a choramingar a morte de Judas, o Galileu, e de seus companheiros no entrevero que tiveram com a polícia de Pilatos. Jesus disse a essas pessoas que era também inútil chorar a morte daquelas 18 vítimas do desabamento de uma torre em construção no bairro de Siloé. Elas continuavam a acreditar que essas vítimas de morte violenta estavam a pagar por pecados pessoais próprios, como um castigo divino de vingança pelos erros e pecados que elas mesmas teriam cometido. Jesus estava percebendo que a sua pregação, que Ele começou dizendo - “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15) - estava sendo infrutífera. Essa multidão de judeus da Galiléia e de Jerusalém, sobretudo seus líderes religiosos e políticos, não se convertiam nem davam a entender que quisessem se converter, ao contrário,continuavam hipócritas e cegos que estão a rejeitar a Jesus, recusando a salvação que Ele, em nome do Pai, veio lhes trazer. Então, Jesus disse: “se vós não vos converterdes, ireis todos morrer do mesmo modo”, isto é, de morte violenta igual à daqueles galileus. Eram como a figueira da parábola, estéril e parasita. Assim como seria melhor cortar a árvore já, para não continuar ocupando e sugando a terra em vão, melhor seria também que tivessem a morte já, porque do modo como se comportam não passam igualmente de parasitas. No entanto, Deus está a lhes dar novas oportunidades, acrescentando-lhes os cuidados da sua graça e bênção, na esperança de produzirem dignos frutos de conversão e de bem, à semelhança da nova chance que o dono da vinha dá à figueira, mandando cavar em roda e pôr adubo, confiando que para o ano ela venha a produzir os frutos esperados. 
Figueira e vinha são imagens muito usadas na Bíblia. Particularmente os profetas usavam as imagens da vinha e da figueira ora para ressaltar que elas são símbolos da prosperidade, paz e tranquilidade da nação e da fartura de bens para o povo, ora para afirmar que elas são o próprio povo e que Deus é o seu proprietário, que dele cuida com todo o desvelo como o agricultor delas cuida com zelo. 
A mensagem evangélica da Liturgia de hoje também nos questiona com toda crueza e dureza: Somos uma videira estéril, uma figueira parasita? O que somos e o que desejamos ser? A Quaresma é tempo de conversão e mudança de direção e de vida. Com toda a paciência de pai e mãe, Deus está a nos dar novas oportunidades e a derramar sobre nós graças e bênçãos, como adubos da melhor qualidade, confiando que venhamos, enfim, a produzir frutos de arrependimento, de bens espirituais em relação a Deus, que nos divinizam, e materiais em relação aos outros, especialmente, àqueles que voltam seus rostos feridos e aflitos, esperando de nós o calor da proximidade e o gesto da misericórdia, que nos humanizam.   
Será que, hoje, Deus se queixaria de nós como, outrora, pela boca de profetas se queixou de seu povo, e os ordenou a vaticinar contra o povo com severas advertências? “Que se poderia fazer por minha vinha, que eu não tenha feito? Por que, quando eu esperava vê-la produzir uvas, ela não deu senão uvas verdes?... Esperei deles a prática da justiça e eis o sangue derramado; esperei a retidão, e eis os gritos de socorro” (Is 5,4-7).  
 “Vou reuni-los todos e os suprimirei, oráculo do Senhor. Não ficará uma só uva na vinha, nem figo na figueira. Todas as folhas murcharão”..., porque pecamos contra Javé (Jr 8,13-14). “A vinha secou, a figueira murchou; a romãzeira, a palmeira, a macieira, todas as árvores definham; a alegria, envergonhada, foi para longe dos homens” (Jl 1,12).
O mesmo profeta Joel, profeta quaresmal, se dirige a nós, mais uma vez trazendo como oráculo do Senhor, um convite especial de Deus para nós nesta Quaresma: “Agora, portanto, oráculo do Senhor, retornai a mim de todo vosso coração, com jejum, com lágrimas e gritos de luto. Rasgai os vossos corações, e não as vossas roupas, retornai a Javé, vosso Deus, porque Ele é bondoso e misericordioso, lento para a ira e cheio de amor, e se compadece da desgraça”. (Jl 2, 12-13). 
Que o Senhor nos conceda a graça da conversão quaresmal e de possuirmos um coração misericordioso e compassivo como o de Jesus. 
 Fonte: CNBB

Riacho que não seca

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)



“Riacho que não seca” é poesia inspiradora do profeta Amós - presente no capítulo cinco de sua profecia - lema da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic).  O profeta refere-se ao desejo de ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca. Direito e justiça, um binômio para alicerçar as mudanças que precisam ser realizadas nas dinâmicas da cultura brasileira. A partir da Campanha da Fraternidade 2016, todos que assumem o compromisso de testemunhar a fé em Jesus Cristo, em diferentes denominações religiosas, são convocados a contribuir para transformar a realidade. O foco está na exigência de novas posturas diante da natureza, nesse horizonte interpelador de olhar o mundo como “casa comum”. Nesse sentido, cada pessoa é convocada a refletir sobre a distribuição dos bens materiais, que deve ocorrer de forma mais justa.  É preciso encontrar caminhos para que os bens sejam utilizados na edificação de uma sociedade com mais igualdade, exatamente na contramão de apropriações que alimentam a ganância de muitos.
O progresso econômico que não produz igualdade é insustentável, alimento de injustiças. Gera prejuízos como a corrupção e o aumento da violência. É dinâmica que ameaça a todos, mesmo os que se refugiam em verdadeiras fortalezas, com sofisticados esquemas de segurança, e acreditam estar protegidos. Imprescindível é buscar garantir a efetivação de direitos fundamentais à vida humana e cuidar bem do planeta. Isso é parte fundamental da justiça, que precisa ser como “um riacho que não seca”. Sem ela, não há como combater a corrupção e a violência que estão destruindo a ordem e a harmonia da criação de Deus. A falta do sentido de justiça alimenta o caos social e empurra inexoravelmente o planeta rumo ao colapso ambiental. 
A justiça não pode ser apenas mecanismo para mensurar a própria honestidade. Ela requer o compromisso de todos os cidadãos, que devem intervir mais decisivamente em processos de transformação  social, buscando acabar com sofrimentos que pesam sobre os ombros dos mais pobres, principalmente. Em uma lista de urgências, ao se considerar o cuidado com a “casa comum” como responsabilidade de todos, a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 busca a união de esforços para assegurar que sejam ampliados os serviços de saneamento básico, o que é indispensável para efetivar o adequado cuidado com o meio ambiente e com as pessoas.  Esse é um tema relevante no contexto brasileiro, que precisa qualificar e ampliar a oferta de inúmeros serviços relacionados ao abastecimento de água, ao adequado manejo dos esgotos sanitários, águas pluviais e resíduos sólidos, ao controle de reservatórios e dos agentes transmissores de doenças.  Esses serviços refletem diretamente na saúde das pessoas e, consequentemente, nas condições de vida das comunidades. 
As questões ligadas ao saneamento básico abrangem, assim, justiça social e cuidado ambiental.  Por isso, têm que ser prioridade. Estudos a partir de números e estatísticas devem mostrar a real situação de municípios, bairros e comunidades.  Sem os investimentos adequados, a sociedade continuará a sofrer com defasagens nos serviços de saneamento básico, um peso injusto, sobretudo sobre os ombros dos mais pobres. O ponto de partida da discussão é efetivamente reconhecer o saneamento básico como essencial; direito do cidadão e dever do Estado. Nesse sentido, governar bem, de modo adequado e justo, é investir na universalização desse serviço. No Brasil, mesmo considerando avanços nesse campo, permanece ainda um enorme desafio a ser vencido. 
Quando se considera estatísticas sobre o saneamento básico, constata-se que há, ainda, carência de investimentos. Sem robustos programas nessa área fica comprometida a saúde. Sabe-se que, a cada dois minutos e meio, no planeta, uma criança morre por não ter acesso à água potável e por falta de condições básicas de higiene. Assim, neste ano eleitoral, será importante avaliar, dentre outros aspectos, se os candidatos contemplam em suas propostas as ações concretas relacionadas ao saneamento básico. O ponto de partida será sempre, no coração e no entendimento de cada cidadão, o desejo de querer “ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual um riacho que não seca” (Am 5,24).
Fonte: Cnbb

Conversão, Penitência e Misericórdia

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)


"Chegaram algumas pessoas trazendo a Jesus notícias a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando o sangue deles com o dos sacrifícios que ofereciam. Ele lhes respondeu: 'Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que qualquer outro galileu, por terem sofrido tal coisa? Digo-vos que não. Mas se vós não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que qualquer outro morador de Jerusalém? Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo'" (Lc 13, 1-15). 
Alguém pode até pensar que se trata de crônica policial, com fatos hoje corriqueiros e incapazes de nos assustar, tal a frequência de massacres, violência e acidentes! Mas aqui se trata de uma proposta séria de reação inteligente, baseada na fé, diante dos acontecimentos. Não dá para passar ao largo de todas as muitas provocações vindas do dia a dia, sem acolher a misteriosa e efetiva mensagem que Deus quer efetivamente oferecer-nos, exigindo nossa reação. Deus nos fala continuamente e pede sempre o mesmo, a conversão, palavrinha provocante que significa mudar de mentalidade e de rota!
Mudar de mentalidade! A Campanha da Fraternidade em curso remete os cristãos que dela participam e apela a todas as pessoas de boa vontade para o cuidado com a nossa casa comum, a partir do intrigante tema do saneamento básico. Impressiona o fato de que se torna necessário que os responsáveis pela vida eclesiástica tenham que vir a público, quase a suplicar que alguém se desperte e tome providências efetivas quanto ao cuidado com a água, o recolhimento do lixo, o esgoto sanitário e daí por diante! São elementos tão "escondidos" até debaixo da terra, cujo cuidado já deveria ser dado por descontado pela cidadania e pelos responsáveis pela administração pública! Só que a mente precisa ser mudada para que as ações a ela correspondam. O bem dos outros e o bem comum, no qual cada um de nós está incluído, há de passar na frente do escandaloso prazer de sujar ruas e praças ou desperdiçar água, ou ainda destruir o patrimônio público! Mais ainda, há de mudar a banalização da vida, vilipendiada e destruída diante dos olhos de todos.
Podemos ir mais a fundo na questão, com a coragem de perguntar ao conjunto da sociedade a respeito dos motivos para tanta inversão de valores! É que começamos a plantar há muito tempo. Quando Deus deixa de ser o centro e o polo de referência, todo o resto desmorona. O ser humano, a natureza ou qualquer outro ideal, jogam fora o próprio sentido, quando Deus é excluído! Não somos fruto do acaso! Quando a humanidade "escolheu o acaso", gerou o individualismo, espalhou-se como relativismo, confundiu as peças do tabuleiro da sociedade e da vida! Reconstruir tudo, ajuntando os cacos já está dando trabalho e pedirá muito esforço do conjunto da sociedade.
A Palavra de Deus e a experiência sofrida e maravilhosa dos cristãos suscitaram alguns passos. É incrível, mas começa quando paramos, tomamos consciência de nossos inúmeros erros, temos a coragem de reconhecê-los como "pecados", descobrimos que prejudicar os outros ou a própria vida e ainda a natureza toca na raiz de nossa existência! E lá vai o pecador, arrependido e suplicante, corajoso para se enrubescer de vergonha no confessionário, pedir perdão e sair disposto a recomeçar pela enésima vez, levantar a cabeça e melhorar! Vem da sabedoria do Papa Francisco uma magnífica palavra: "A confissão não deve ser uma tortura. Todos devem sair da confissão com a alegria no coração, com o rosto radiante de esperança, mesmo se às vezes, como sabemos, molhado pelas lágrimas da conversão e da alegria". Sim, o mundo já mudou para melhor quando alguém começou a ser diferente! 
Saindo dos muitos confessionários à disposição, trata-se de mudar a rota! Começar a amar o próximo que está ao nosso redor, tratar os bens da natureza com maior carinho, privilegiar o bem que é feito, diminuir a amargura com a qual se comentam os fatos da sociedade, fazer menos propaganda dos crimes correntes, relatar experiências positivas, participar de iniciativas comunitárias, quem sabe reaprender a sorrir e cumprimentar com maior delicadeza, fazer-se um com os outros, sem pretender justificar as opções egoístas de quem quer ficar "na sua" e ainda afirma que ninguém tem nada com isso!
A quem considera irreais tais propostas, aqui está o resto da conversa de Jesus, por sinal à disposição dos interessados nas missas do terceiro domingo da Quaresma. Vale a pena acolhê-la e ainda ir à missa para ouvir a Boa Nova proclamada e celebrada na Igreja: "Jesus contou esta parábola: 'Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi lá procurar figos e não encontrou. Então disse ao agricultor: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Para que está ocupando inutilmente a terra?’ Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa-a ainda este ano. Vou cavar em volta e pôr adubo. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então a cortarás'" (Lc 13, 6-9). O tempo não perdoa quem não o respeita! Há que aproveitá-lo e transformá-lo em oportunidade de salvação. Não desperdiçar a paciência de Deus, que oferece de tudo para o nosso crescimento e a conversão. Fazer penitência para afofar a terra de nosso coração, acreditar nas graças que são oferecidas! Temos tempo!
Há poucos dias, em Ciudad Juarez, no México, o Papa Francisco, referindo-se é pregação do profeta em Nínive, assim se expressou: "Jonas ajudou a ver, a tomar consciência. Que se passa depois? O seu apelo encontra homens e mulheres capazes de se arrependerem, capazes de chorar: deplorar a injustiça, deplorar a degradação, deplorar a opressão. São as lágrimas que podem abrir o caminho à transformação; são as lágrimas que podem abrandar o coração, são as lágrimas que podem purificar o olhar e ajudar a ver a espiral de pecado em que muitas vezes se está enredado. São as lágrimas que conseguem sensibilizar o olhar e a atitude endurecida, e sobretudo adormecida, perante o sofrimento alheio. São as lágrimas que podem gerar uma ruptura capaz de nos abrir à conversão. Foi assim com Pedro, depois de ter renegado Jesus; chorou e as lágrimas abriram-lhe o coração. Hoje esta palavra ressoa vigorosamente no meio de nós; esta palavra é a voz que clama no deserto e nos convida à conversão. Neste Ano da Misericórdia, quero implorar convosco neste lugar a misericórdia divina, quero pedir convosco o dom das lágrimas, o dom da conversão". Pedindo o dom da conversão, deixemo-nos envolver com o manto da misericórdia!
Fonte: CNBB