segunda-feira, 7 de março de 2016

Papa deixa Vaticano para Exercícios Espirituais de Quaresma

2016-03-06 Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) – Têm início na tarde deste domingo (06/03) na Casa do Divino Mestre, na cidade de Ariccia, (nas proximidades de Roma) os Exercícios Espirituais da Quaresma para o Papa e a Cúria Romana.
A guiar as meditações será o Padre Ermes Ronchi, sacerdote da região italiana de Friuli-Venezia-Giulia, da Ordem dos Servos de Maria. Cerca de sessenta membros da Cúria Romana, entre responsáveis de dicastérios, bispos e cardeais, refletirão sobre as “Perguntas abertas do Evangelho”, eixo central das meditações.
Francisco e os participantes partem do Vaticano de ônibus às 16 horas (12h de Brasília). O início dos Exercícios Espirituais será no final da tarde, com a Adoração Eucarística. O retorno ao Vaticano está previsto para sexta-feira (11/03). Até lá, todas as audiências e atividades de trabalho do Pontífice estão suspensas.
Concluindo o seu encontro com os fiéis para a oração do Angelus, na Praça São Pedro, o Papa pediu a todos que rezassem pelo bom andamento dos Exercícios. 
(CM)
(from Vatican Radio)

"Fraternidade e autenticidade" em encontro ecumênico

2016-03-06 Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) – “Fraternidade e autenticidade, no estilo do Papa Francisco” marcaram o encontro de sábado (05/03) entre o Pontífice e a delegação da União das Igrejas Metodistas e Valdenses, de orientação protestante. A declaração é do Pastor Eugenio Bernardini, moderador da ‘Tavola Valdense’, principal órgão executivo da confissão, depois da visita ao Vaticano, a primeira da História.   
Colaboração
Emergiram no encontro duas áreas de colaboração possível: a primeira é a missão da Igreja, num mundo cada vez mais secularizado e distante do Evangelho: uma missão que se deve caracterizar por uma linguagem nova, sem proselitismo, mas no espírito do livre testemunho de Cristo. Em segundo lugar, uma cooperação no serviço ao mundo e à sociedade; o que chamamos ‘diaconia’ e que o Papa frisa sempre: o serviço aos últimos. “Falamos também sobre a grande tragédia dos refugiados e da imigração que interroga o nosso continente e nossas Igrejas”, revelou Bernardini. 
Troca de presentes
A delegação valdense e metodista presenteou o Papa com uma série de desenhos artísticos inspirados em histórias de refugiados e migrantes, confeccionados em um pacote construído em madeira dos barcos da ilha de Lampedusa. Por sua vez, Francisco ofereceu aos hóspedes os textos da Encíclica "Lautado si" e da exortação “Evangelii gaudium". 
O perdão do Papa
Em junho de 2015, o Pontífice esteve no Templo Valdense de Turim, e proferiu um discurso em que pediu “perdão, em nome da Igreja Católica, pelas atitudes e comportamentos não cristãos, por vezes até desumanos que, na história, tivemos com estes fiéis”. Excomungados pelo Papa no século XII, e perseguidos, os valdenses são cristãos pertencentes à família das Igrejas nascidas com a Reforma Protestante do Século XVI.  
Desde o início de seu ministério, Jorge Bergoglio tem reiterado a importância da unidade entre os cristãos.  Em outubro, irá à Suécia para as celebrações dos 500 anos da Reforma Luterana. Em fevereiro, realizou um encontro histórico com o Patriarca ortodoxo de Moscou e de toda a Rússia, Kirill, em Cuba.  
(CM)

(from Vatican Radio)
Fonte; News;VA

Contra o egoísmo

Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)

“Não seja egoísta”. Essa frase foi dita pelo papa Francisco em sua visita ao México, quando um rapaz o puxou pela mão desequilibrando o pontífice, que quase caiu sobre as pessoas. Pode até parecer que foi um gesto de carinho do rapaz, como também uma vontade de estar próximo, enfim a ação dele foi levada pela emoção e pegou o papa desprevenido, cuja reação humana foi repreender, dizendo: “Isso não se faz. Você não pode ser egoísta”.
Quem sabe em outra ocasião, menos cansado, com mais disposição o papa teria reagido de forma diferente. Vendo o vídeo, o seu rosto se transfigurou de forma bem irritada. Como disse o seu Porta Voz, Francisco foi extremamente humano, reagiu como qualquer um reagiria nesta circunstância. Eu, particularmente, gostei de ver um homem de Deus carrancudo, irritado, humano demais, normal como qualquer ser humano.
Aprendi com este episódio, que apesar de todas as coisas maravilhosas da vida, daquilo que somos e fazemos com alegria e bom humor, existem momentos em que acontecem coisas que nos desequilibram, nos tiram do sério. Nem sempre estamos preparados, e nem mesmo sabemos como se preparar para as surpresas da vida de cada dia. Tenho certeza que o papa não guardou raiva nem ressentimentos. Não faço ideia do que passou no coração daquele jovem. São duas pessoas que se encontram com tanto afeto que se machucam. Entendemos que tudo que é exagerado pode fazer mal, e estragar a amizade. A nossa capacidade de amar tem limites e impõe uma atitude de equilíbrio constante.
Em tempos de Quaresma, Ano Santo, vida do dia a dia, quando perdemos a paciência, quando pensamos só em nós mesmos, quando exageramos no comer e no beber, quando tratamos mal as pessoas mais próximas, quando criticamos fazendo julgamentos errados, quando queremos ser donos da verdade, quando dizemos palavrões, ou fofocas que matam o outro, enfim,  como faz bem alguém estar ao nosso lado e dizer : “Isso não se faz. Não seja egoísta”. Não se pode fazer de conta que não viu ou que não escutou, pois a omissão é o pecado que mais faz mal a si próprio e aos outros. A falta de coragem em ajudar, em corrigir, em dizer a verdade faz com cresçam sempre mais os egoístas e prepotentes. A prática da correção fraterna, que nas primeiras comunidades, e ainda hoje em comunidades que procuram viver o evangelho radicalmente, vivem e fazem, resolveria muito da hipocrisia e falsidade com que  vivemos o nosso cristianismo.
Que esse tempo quaresmal, que a vivência do “Ano Santo da Misericórdia”, nos provoque a um processo lento, mas progressivo de mudança de nossos vícios, de nossas manias e comportamentos não cristãos. “Esse é o tempo favorável, esse é o dia da Salvação”, nos diz o profeta. Será que vamos ter outra Quaresma, outra oportunidade para nos aproximar da salvação como temos agora?
Talvez, seja a última e a única oportunidade para colocar a Palavra de Deus em prática, e fazer uma verdadeira conversão pessoal. Eu também estou neste caminho, e busco cada dia na oração, na meditação da Palavra, na Eucaristia, no amor a cada um que encontro, a graça de Deus para ser cada vez melhor, mais humano e mais cristão. Que meu anjo da guarda, que pode ser você, esteja ao meu lado sempre para dizer: “Isso não se faz. Não seja egoísta”.
Fonte: CNBB

A história da Misericórdia

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)


Era uma vez um menino que tinha o meu nome, o seu nome, o nosso nome! Criado por amor, quis ser dono da árvore do conhecimento do bem e do mal (Cf. Gn 2, 17), desejoso de libertar-se de tantas amarras, pois, afinal, "eu sei o que estou fazendo!" Em nossas igrejas, certamente você já cantou ou ouviu assim: "Muito alegre eu te pedi o que era meu: partir, um sonho tão normal!" Tudo começa com um sonho, aventuras mil que se abrem como possibilidades para um coração juvenil, tenha a idade que tiver. Somos humanos e os horizontes se manifestam tentadores, com o pouco ou muito dinheiro de nossos bolsos. Muitas vezes não são os bens materiais a serem desperdiçados, mas a própria dignidade, vista como prisão diante da sonhada autonomia! Fazer o que eu quero, ser dono de minha vida, não depender de ninguém, correr todos os riscos, andar pela vida "sem lenço e sem documento!" Aqui começa a história da misericórdia, pois ela se inicia com uma partida, despedida, estrada aparentemente nova que se abre.
Partir sem rumo certo, apenas para aproveitar a vida, gastar, gastar, gastar. Há quem parte e nada dá, busca só sua liberdade! Continue a cantar: "Dissipei meus bens e o coração também. No fim, meu mundo era irreal" Verdade! Quando os bens, aqueles verdadeiros, são dissipados, vai junto o coração. Quem já entrou nas profundezas do pecado sabe o quanto ele faz mal, pois destrói em primeiro lugar quem a ele aderiu. Depois, faz mal aos outros e ao mundo. 
"Mil amigos conheci, disseram adeus, caiu a solidão em mim". Quem nunca ouviu a história do alcoólatra que entra num bar sem dinheiro, alimento não recebe, conselho menos ainda, mas sempre há alguém para oferecer um golinho de bebida? Nossos pais têm um refrão incômodo e salutar: "Cuidado com as más companhias". Basta olhar ao nosso redor para ver a quantidade de pessoas que vieram a cair nas sarjetas da vida, deixadas ao relento do tempo ou do afeto. Os falsos amigos dizem sempre adeus!
Você pode cantar e até chorar, se quiser: "Um patrão cruel levou-me a refletir: meu pai não trata um servo assim". Saudade do afeto! Saudade da casa do pai, cheia de regras e horários, conselhos em vista do futuro, repreensões. Saudade das amarras! Começou o caminho de volta, ainda interesseiro, mas sincero! Ouso dizer que na pele do filho mais novo se esconde um outro filho, o Filho único do Pai amado! Parece-me vê-lo lá longe, compartilhando até as misérias do menino que sou eu, corajoso para sujar os pés e as mãos no barro em que, junto com você, eu me meti! Porcaria inteira e acabada (Cf. Lc 15, 15), e Ele lá, ao nosso lado! Só com sua companhia, daquele que se humilhou, tomando a condição de escravo, servo obediente até à morte de cruz (Cf. Fl 2, 8), é possível fazer o caminho de volta, pois aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus (Cf. Ef 4,9). E o caminho é iluminado pela imagem dos servos, os empregados da casa do pai! Afinal, também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Cf. Mc 10, 45).
A história da misericórdia tem também um pai olhando para as curvas da estrada, com um coração que teima em não envelhecer, pois existe desde toda a eternidade. Deus nos espera desde sempre, sem cara fechada ou julgamento. Corra, filho querido! Venha descansar no regaço do "Pai" (com letra maiúscula, pois mudou a cena!). Veja a qualidade do Pai, descrita pelo filho que chega: "Nem deixaste-me falar da ingratidão, morreu no abraço o mal que eu fiz". É difícil descrever melhor o reencontro do que reconhecer a morte do mal no abraço! Da parte do filho, não pode brotar outro refrão a ser cantado com emoção: "Confiei no teu amor e voltei, sim, aqui é meu lugar. Eu gastei teus bens, ó Pai, e te dou este pranto em minhas mãos".
Ora, se o filho encontrou seu lugar, certamente acompanhado pelo "Filho" que desceu às profundezas para fazer-lhe companhia, agora é hora da festa, mesmo que alguém não entenda os exageros do Pai. Parece aquela outra festa da parábola: “Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos’. E quando o servo comunicou: ‘Senhor, o que mandaste fazer foi feito, e ainda há lugar’, o senhor ordenou ao servo: ‘Sai pelas estradas e pelos cercados, e obriga as pessoas a entrar, para que minha casa fique cheia" (Lc 14, 21-23). Aqui há lugar para o jovem gastador, pecador arrependido, acolhido com o calor do abraço. A  única propriedade que lhe restou era o pranto do arrependimento sincero! E este foi dado ao Pai, para se transformar em festa.
De lá para cá, os gestos do Pai foram transformados também em sinais de acolhimento na Comunidade cristã. A Eucaristia, presença do único sacrifício de Cristo, será sempre celebrada como a festa pascal, ponto de chegada e fonte de toda a vida da Igreja. No Batismo, a roupa nova da vida da graça foi dada a todos os que acolheram o Salvador e foram mergulhados na água santa, passando por ele, que é a verdadeira porta, para entrar na casa do Senhor. Ainda que frágeis e pecadores, entramos na festa ouvindo a exortação do Apóstolo São Paulo: "Protegei-vos com a armadura de Deus, a fim de que possais resistir no dia mau, e assim, empregando todos os meios, continueis firmes. Ficai, pois, de prontidão, tendo a verdade como cinturão, a justiça como couraça e os pés calçados com o zelo em anunciar a Boa-Nova da paz. Em todas as circunstâncias, empunhai o escudo da fé, com o qual podereis apagar todas as flechas incendiadas do Maligno. Enfim, ponde o capacete da salvação e empunhai a espada do Espírito, que é a palavra de Deus"  (Ef 6, 13-17). É o tempo do anel da nova aliança, nos dedos de todos os filhos pródigos da história. Neste anel está o nome novo (Cf. Ap 2, 17) da criatura redimida. Você pode cantar e agradecer: "Festa, roupa nova, anel, sandália aos pés, voltei à vida, sou feliz". O filho errante da parábola, que tem o seu nome, o meu nome e o nosso nome reencontrou o caminho, o Pai, o abraço, a dignidade. Voltou à vida. Cante com ele: "Confiei no teu amor e voltei, sim, aqui é meu lugar. Eu gastei teus bens, ó Pai, e te dou este pranto em minhas mãos". Esta história pode ter muitos outros capítulos e detalhes, que ficam por nossa conta, para mergulharmos com alegria no mar infinito da misericórdia de Deus, na graça do Jubileu.

Fonte: CNBB

Santo do Dia - Santas Perpétua e Felicidade - Mártires do segundo século

Santas Pérpetua e Felicidade - Mártires do segundo século
Jovens mães que foram até as últimas consequências defendendo a fé que professavam

Numa perseguição que se desencadeou em Cartago, foram presos nesta cidade cinco catecúmenos, entre os quais uma escrava chamada Felicidade e uma mulher, ainda nova e de posição, chamada Perpétua. A primeira estava grávida de oito meses e a segunda tinha uma criança de peito. Receberam o batismo enquanto estavam presas.
Permitiram a Perpétua que levasse consigo o filho para o cárcere. Chegado o interrogatório, ambas confessaram abertamente a fé e foram condenadas a ser lançadas às feras no aniversário do imperador Geta. A mãe foi então separada do seu filhinho. “Deus permitiu que ele não voltasse a pedir o peito e que ela não fosse mais atormentada com o leite”, escreveu Perpétua no diário que foi fazendo até o dia da sua morte. Narra em seguida uma visão em que lhe apareceu seu irmão Dinócrates, ao sair do Purgatório graças às suas orações, e outra em que lhe foi prometida a assistência divina no último combate.
Felicidade receava que, devido ao seu estado, não lhe permitissem morrer com a companheira, mas, três dias antes dos espetáculos públicos, deu à luz. Como as dores do parto lhe arrancassem gritos, um dos carcereiros observou-lhe: “Se tu te lamentas já dessa maneira, que será quando fores lançada às feras?”. “Hoje sou eu que sofro, respondeu a escrava; nesse dia, sofrerá por mim Aquele por quem eu sofro”. Deu à luz uma menina que foi adotada por uma mulher cristã.
Perpétua e Felicidade entraram alegremente no anfiteatro com os três companheiros. Envolveram-nas numa rede e entregaram-nas às arremetidas duma vaca furiosa. O povo cansou-se depressa de ver torturar as duas jovens mães, uma das quais ia perdendo o leite, e pediu que se acabasse com aquele espetáculo. Abraçaram-se então pela última vez. Felicidade recebeu o golpe de misericórdia impavidamente. Perpétua caiu nas mãos dum gladiador desastrado que falhou o golpe, “tendo-se visto ela própria na necessidade de dirigir contra o pescoço a mão trêmula do gladiador inexperiente”. Estes martírios deram-se na era de 203.
Santas Perpétua e Felicidade, rogai por nós!

Liturgia Diária - 4ª Semana da Quaresma - Segunda-feira 07/03/2016

Primeira Leitura (Is 65,17-21)
Leitura do Livro do Profeta Isaías. 

Assim fala o Senhor: 17Eis que eu criarei novos céus e nova terra, coisas passadas serão esquecidas, não voltarão mais à memória. 18Ao contrário, haverá alegria e exultação sem fim em razão das coisas que eu vou criar;
farei de Jerusalém a cidade da exultação e um povo cheio de alegria. 19Eu também exulto com Jerusalém e alegro-me com o meu povo; ali nunca mais se ouvirá a voz do pranto e o grito de dor.
20Ali não haverá crianças condenadas a poucos dias de vida nem anciãos que não completem seus dias. Será considerado jovem quem morrer aos cem anos; e quem não alcançar cem anos, passará por maldito.21Construirão casas para nelas morar, plantarão vinhas para comer seus frutos.


- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.

Salmo de Hoje (Sl 29)


— Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes!
R- Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes!


— Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes, e não deixastes rir de mim meus inimigos! Vós tirastes minha alma dos abismos e me salvastes, quando estava já morrendo!
— Cantai salmos ao Senhor, povo fiel, dai-lhe graças e invocai seu santo nome! Pois sua ira dura apenas um momento, mas sua bondade permanece a vida inteira; se à tarde vem o pranto visitar-nos, de manhã vem saudar-nos a alegria.
— Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade! Sede, Senhor, o meu abrigo protetor! Transformastes o meu pranto em uma festa, Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!


Compreendendo e Refletindo

A fé seja o elemento fundamental na sua casa e na sua família nesta jornada da vida

“’Teu filho está vivo’. Então, ele abraçou a fé, juntamente com toda a sua família” (São João 4, 53).Em Cafarnaum, um funcionário do rei tinha um filho que estava bastante doente e ele sabia que Jesus podia fazer algo por ele, podia curá-lo. O Senhor podia restituir-lhe a vida, e é por isso que ele vai de forma insistente atrás de Jesus.
Permita-me dizer, ele não era um judeu, mas um pagão que demonstrou toda sua fé e confiança em Jesus. Ele precisava de um sinal do céu, pois estava com a alma desolada, triste, buscava em Cristo a vida de que seu filho precisa, a vida perdida, que foi jogada fora pela enfermidade. Aquele homem precisava que Jesus tocasse seu filho. Mesmo sem ir onde estava o enfermo, Jesus proclamou a cura dele e o menino foi curado.
Eu fico pensando em tantos pais e mães necessitados de que Jesus faça algo por seus filhos. Sobretudo, que os tire do caminho da morte, do caminho que não leva à vida. Muitas vezes, quando os filhos se desencaminham, é o pai ou a mãe que precisa ir buscar a vida em Jesus, em favor dos seus filhos.
Eu quero unir-me ao coração de cada mãe, de cada pai que está suplicando ao Senhor: “Vinde tocar minha filha, vinde tocar meu filho!”. Mas, ao mesmo tempo, preciso dizer para cada mãe, para cada pai: “Não se desespere, confie, porque Jesus quer dar a vida ao seu filho. Jesus quer o seu filho vivo!”.
Eu sei que, por outro lado, há o coração de tantos pais desolados, tristes, porque a violência, as drogas, seja o que for, ceifaram a vida de tantos dos nossos filhos. Mas não deixe de confiar, não deixe de ser consolado pela misericórdia divina, mesmo para aqueles que já partiram. Encontre em Deus o seu consolo; encontre na Mãe querida o seu refúgio, pois é o Senhor o bálsamo de que seu coração precisa. O mais importante é que você faça como esse pagão da Palavra, que abrace a fé com toda sua família e se deixe ser abraçado, envolvido pela fé!
Deixe que a fé mova seus passos, conduza sua vida, ilumine seus caminhos. Deixe que ela dê uma direção à sua vida. Não perca a fé nem se perca por falta de fé. Que ela seja o elemento fundamental na sua casa e na sua família nesta jornada da vida.
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo- Canção Nova

Evangelho (Jo 4,43-54)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.


Naquele tempo, 43Jesus partiu da Samaria para a Galileia. 44O próprio Jesus tinha declarado, que um profeta não é honrado na sua própria terra. 45Quando então chegou à Galileia, os galileus receberam-no bem, porque tinham visto tudo o que Jesus havia feito em Jerusalém, durante a festa. Pois também eles tinham ido à festa.
46Assim, Jesus voltou para Caná da Galileia, onde havia transformado a água em vinho.
Havia em Cafarnaum um funcionário do rei que tinha um filho doente. 47Ouviu dizer que Jesus tinha vindo da Judeia para a Galileia. Ele saiu ao seu encontro e pediu-lhe que fosse a Cafarnaum curar seu filho, que estava morrendo. 48Jesus disse-lhe: 'Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais.' 49O funcionário do rei disse: 'Senhor, desce, antes que meu filho morra!' 50Jesus lhe disse: 'Podes ir, teu filho está vivo.' O homem acreditou na palavra de Jesus e foi embora.
51Enquanto descia para Cafarnaum, seus empregados foram ao seu encontro, dizendo que o seu filho estava vivo. 52O funcionário perguntou a que horas o menino tinha melhorado. Eles responderam: 'A febre desapareceu, ontem, pela uma da tarde'.
53O pai verificou que tinha sido exatamente na mesma hora em que Jesus lhe havia dito: 'Teu filho está vivo'. Então, ele abraçou a fé, juntamente com toda a sua família. 54Esse foi o segundo sinal de Jesus. Realizou-o quando voltou da Judeia para a Galileia.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

sábado, 5 de março de 2016

O Filho Pródigo Moderno

Dom Caetano Ferrari
Bispo de Bauru


No Evangelho da Missa de hoje, Lucas narra a Parábola do “Filho pródigo” contada por Jesus - Lc 15,1-3.11-32. Para quem Jesus a contou? Para publicanos e pecadores que vieram ouvi-Lo, também para fariseus e escribas, ali presentes, que, porém, murmuravam: ‘Esse homem recebe os pecadores e come com eles’. A essas pessoas Jesus, então, contou a parábola que fala de um pai, que tinha dois filhos, e que era ao mesmo tempo um fazendeiro, com muitos empregados. Esse homem era bom e justo. O filho mais moço desejou aventurar-se pela vida, na liberdade, levando a parte da herança que lhe cabia. Sabemos o que lhe aconteceu, e como, sentindo-se pecador, voltou arrependido para a casa do pai. O filho mais velho, observador e cumpridor da lei e da tradição, revoltou-se contra o pai porque perdoara o filho aventureiro, que, além do mais, cometera grandes pecados. 
Peço sua licença, prezado leitor e leitora, para, tendo em vista o paradigma da parábola de Jesus, destacar três tipos de pessoas que eram religiosas, observantes uns mais outros menos dos mandamentos de Deus, e fazer uma comparação com paradigmas consentâneos aos dias de hoje. 
Os três tipos da parábola de Jesus são: Primeiro, os justos ou santos que são o fazendeiro e os empregados. O fazendeiro é ao mesmo tempo o bom pai que ama seus dois filhos e o bom patrão que trata com justiça os seus empregados; filhos e empregados vivem felizes, sem nada lhes faltar, trabalhando contentes na fazenda. Segundo, os pecadores que são os publicanos cobradores de imposto e ouvintes de Jesus, e o filho mais moço, o esbanjador da herança com prostitutas e bacanais. Terceiro, os observantes que são os fariseus e os escribas, murmuradores contra Jesus, e o filho mais velho, revoltado contra o pai; aqueles e este são cumpridores da lei.
Conforme crença generalizada, nos paradigmas reinantes hoje não existiriam mais pecadores. Alguém inclusive já escreveu que abaixo da linha do Equador não há mais pecado. Portanto, restariam somente duas categorias de gente: Justos e Observantes. Pecadores não mais se teriam no mundo. Dá para se ver bem, hoje, que é raríssimo que alguém admitisse cometer algum erro, crime, pecado, e, caindo de joelhos, como fez o filho pródigo, dizesse: ‘Pai, pequei contra vós e contra Deus”. Se alguém, objetivamente, errar ou pecar, subjetivamente, não quer assumir a falha, nega ou tergiversa, racionaliza ou justifica, atribuindo a culpa a qualquer razão externa alheia à sua vontade ou conferindo a responsabilidade às normas que estariam caducas ou aos outros que não gostariam dele, seriam invejosos, disputariam com ele vantagens, ou até mesmo à vida que seria madrasta, enfim, à má sorte. Modernamente, atribuem-se os erros, crimes e pecados às pressões sociais da política, da economia, da luta pela vida, e às condicionantes da psicologia e dos distúrbios mentais ou de outras doenças que tirariam qualquer responsabilidade pessoal. Pessoas que assim pensam nem se dão conta de que, então, não existiria mais a liberdade neste mundo. E o que todo mundo mais deseja e defende é a liberdade. Que contradição: quanto ao erro e pecado ninguém se julga ter a liberdade para evitá-los, quanto ao prazer todos desejam a total liberdade para buscá-lo. Num caso não há a liberdade, noutro ela é um direito fundamental da pessoa humana, ai de quem ameaçá-la. O fato é que hoje, no novo paradigma, aceito sem nenhuma crítica por muita gente, parece, em suma, que erradas estão as leis de Deus com sua justiça e direito, as quais é que devem ser mudadas para se adequarem aos valores supremos da liberdade, da felicidade e do sucesso. Certamente, o filho pródigo moderno não estaria arrependido pelo pecado que fez, ter ofendido o Pai e a Deus, mas frustrado porque o seu projeto de ser livre e feliz não dera certo. Não por sua culpa, é claro, mas por causa dos outros que teriam se aproveitado dele, do seu dinheiro e prodigalidade, ou por causa da sociedade injusta que não o teria amparado na pobreza, ou por causa de Deus mesmo que não o socorrera no aperto, ou porque o mundo é que seria injusto. Para não morrer de fome, o filho pródigo moderno voltaria ao pai, sim, porque sabia que o pai é bom. No entanto, não se deixaria converter ou mudar, substancialmente, na sua compreensão da vida, da fé, da ética e da moral. O filho pródigo moderno, obcecado pela ideia da liberdade, felicidade e sucesso, jamais se ajoelharia para pedir perdão ao pai e a Deus por algum pecado pessoal, porque não crê que exista o pecado nem que seja um pecador. O super homem não admite que erra e peca nem aceita a sua insuficiência essencial. Essa é a idolatria do sujeito que se julga igual a Deus, que adora a si mesmo, um pecado contra o primeiro mandamento.         
A questão é: Como ter misericórdia com quem não é capaz de bater a mão no peito, reconhecendo o seu pecado, nem de se arrepender, suplicando humildemente o perdão? Difícil, não? Porque a misericórdia pressupõe a justiça, e a justiça começa reconhecendo os direitos de Deus de estabelecer um código de conduta como Ele nos deu, os Dez mandamentos, de ser amado e respeitado por nós, amor que somente o podemos provar obedecendo-Lhe e observando as suas leis divinas e eternas. “Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama” (Jo 14, 21). “Não é quem diz ‘Senhor, Senhor’ que entrará no Reino dos Céus, mas aquele que cumpre a vontade de Deus” (Mt 7,21). Deus faz misericórdia até a milésima geração para com aqueles que o amam e guardam os seus mandamentos (cf. Ex 20, 6). 
No entanto, Jesus no alto da cruz, olhando para os que o crucificavam, disse: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Uma tentativa derradeira de abraçar com misericórdia todos os pecadores, a fim de movê-los à conversão e à salvação. Só não se salva quem não quiser acolher a misericórdia de Deus. Quem acolhe a misericórdia de Deus acolhe também a justiça dos seus mandamentos, e se porventura pecar contra algum deles, reconhece humildemente que merecida é a sua culpa e justa a pena do seu pecado, o qual ao que tem coração contrito e arrependido Deus sempre perdoa, como no caso da parábola do filho pródigo. “Porque Deus é bondoso e misericordioso, lento para a ira e cheio de amor, e se compadece da desgraça alheia” (Joel 2, 13).
Fonte: CNBB

Alegra-te!

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


O IV Domingo da Quaresma é chamado de Domingo “Laetare”- alegra-te! Na Antífona de Entrada do missal romano, está escrito, para esta Missa: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós, que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações”. São palavras do Profeta Isaías, no capítulo 66, 10s. 
Este convite à alegria a essa altura da Quaresma, e logo após as “24 horas para o Senhor” é muito oportuno! Pensando nos nossos pecados, em tantas de nossas infidelidades e escândalos que nos cortam o coração, poderíamos ser tentados a desanimar, em pensar que não temos solução e na dificuldade em debelar o mal que se incrusta no nosso coração.
O Senhor nos convida à alegria; convida a Igreja, nova e eterna Jerusalém, à alegria, convida-nos a nós, que amamos a Mãe católica – tão sofrida pelas fraquezas de seus filhos –, convida-nos a nós à alegria: “Reuni-vos, vós todos que a amais; vós, que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações”. Quais seriam as consolações da Igreja entre tanta desolação? Sem dúvida, aquelas que vêm do Senhor que é fiel, que Se entregou por nós, que amou a Sua Igreja e nela permanece sempre com invencível fidelidade! E todo aquele que se une ao Senhor e nele permanece pode experimentar tal consolação.
A Primeira Leitura deste domingo recorda a chegada dos israelitas à Terra Prometida. Eles celebraram a Páscoa ao partirem do Egito e, agora, chegando à Terra Santa, celebram-na novamente. Aí, então, o maná deixou de cair do céu. Coragem, também nós: estamos a caminho: nossa Terra Prometida é Cristo, nossa Páscoa é Cristo, nosso maná é Cristo! Ele, para nós, é, simplesmente, tudo! Estão chegando os dias solenes de celebração de sua Páscoa.
A Segunda Leitura, tirada da Carta de São Paulo aos Coríntios, nos ensina que, em Cristo, Deus reconciliou o mundo com Ele e fez de nós criaturas novas. O mundo velho, marcado pelo pecado, desapareceu. Em nome de Cristo, Paulo anunciou: “Deixai-vos reconciliar com Deus! Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que Nele nos tornemos justiça de Deus”!
Quanto ao Evangelho, chama-nos atenção hoje a parábola do filho pródigo. Por que está ela aí, na Quaresma? Recordemos como Lucas começa: “Naquele tempo, os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para escutá-Lo. Os fariseus, porém, e os escribas criticavam Jesus. ‘Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles’”. Então: de um lado, os pecadores, miseráveis sem esperança ante Deus e ante os homens, que, agora, cheios de esperança nova e alegria, aproximam-se de Jesus, que se mostra tão misericordioso e compassivo. Do outro lado, os homens de religião, os praticantes, que sentem como que ciúme e recriminam duramente Jesus! É para estes que Jesus conta a parábola, para explicar-lhes que o Seu modo de agir, ao receber os pecadores, é o modo de agir de Deus.
O capítulo quinze do Evangelho segundo São Lucas contem três parábolas chamadas “da misericórdia”: a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido. Tudo perdido! Mas, se invertermos o quadro temos o bom pastor que busca a ovelha, a boa mulher que busca a sua moeda e o bom pai misericordioso que espera e ama o seu filho pródigo. 
Tanto o pastor quanto a mulher têm atitudes que não são nada comuns; o mesmo diga-se do pai do filho pródigo. Nem naqueles tempos nem hoje em dia se atuaria dessa maneira! Pense comigo: se você fosse um pastor e tivesse cem ovelhas, delas perdesse somente uma, será que deixaria as noventa e nove sozinhas, com perigo de se perderem, para procurar somente aquela desgarrada? Será que é lógico deixar noventa e nove ovelhas sozinhas e procurar somente uma? Eu, pelo menos, deixaria a pobre ovelha pra lá, não correria o risco de perder noventa e nove ovelhinhas por causa de uma. E se você tivesse dez moedas e perdesse uma, faria como aquela mulher da parábola: acenderia a luz, varreria a casa, colocando-a quase de cabeça para baixo, para encontrar a única moedinha perdida? Como se não bastasse: convidaria os amigos para dar uma notícia tão efêmera como essa do encontro de uma mísera moeda?
A lógica do Evangelho é outra! Sem contrapor a justiça à misericórdia, a parábola nos apresenta um pai que não é o comum dos pais dessa Terra, mas o pai que só pode ser Deus. O Papa Francisco está sempre lembrando que Deus não se cansa de perdoar, e somos nós que nos cansamos de pedir perdão. Este é o motivo de grande alegria! Ele é o nosso Pai, cheio de amor para conosco. Nós, culpados e pecadores, cheios de boas intenções e, também, cheios de intenções torcidas e más ações, somos os queridos de Deus. Já está justificada a nossa alegria para todo o dia de hoje: Deus é Pai! Eu sou seu filho! Deus é muito bom, e os sacerdotes, no Sacramento da Penitência, têm o Coração de Deus e, por isso, compreendem sempre. Essa é a recomendação do Papa Francisco aos padres: acolham com carinho o que se aproxima do Sacramento da Penitência. É o rosto misericordioso de Deus que, em Cristo, se manifesta como perdão através da Igreja. Por isso, não tenha medo, e caso ainda não se confessou, esta é a oportunidade. 
Como embaixadores de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus! É este o tempo, é este o momento da graça. Quem está em Cristo é uma nova criatura e pode ser fermento na massa de um mundo novo. O mundo velho desapareceu e tudo se faz novo... Alegra-te, povo de Deus, exultai de alegria!
Fonte: CNBB

A fé me faz cuidar da Casa Comum

Dom Rodolfo Luis Weber
Arcebispo de Passo Fundo


A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 convida-nos insistentemente a cuidarmos da nossa Casa Comum, da Mãe Terra. Por que devemos cuidar? Quais as razões que nos convencem e nos colocam em ação? 
O cristão quando olha para o mundo, ele o olha à luz da fé. Inspira-se nos ensinamentos bíblicos e na doutrina social cristã. Olhemos o saneamento básico com esta ótica, ou com este ponto de vista. No livro do profeta Amós 5,24, lemos: Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca.
Na Bíblia encontramos uma progressiva revelação de Deus e de seu plano de amor. A plenitude da revelação vem com Jesus que nos revela os valores do Reino de Deus. Os textos bíblicos falam das relações entre as pessoas, das relações com Deus, das relações com a natureza, das relações com os bens materiais. Fala de tudo que envolve a vida humana e deseja construir uma vida feliz.
 O mundo é apresentado como um jardim que oferece condições favoráveis para a vida feliz. Com frequência é usada a imagem da água límpida que corre nos rios como sinal de abundância e de vida. Assim como rio que corre permanentemente, assim também deve correr o direito e a justiça para organizar a vida da comunidade. Quando acontecem os desequilíbrios, fruto das injustiças e explorações, surgem vozes proféticas que admoestam as pessoas para restabelecerem a ordem necessária para a vida fraterna.
O Papa Francisco na encíclica Laudato Sí escreve: O amor cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político, manifestando-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor (...) Ele também fala do amor social: Para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor na vida social – nos planos político, econômico, cultural – fazendo dele a norma constante e suprema do agir (nº 231). Cuidar da casa comum é uma questão de fé, de amor a Deus e ao próximo.

 Fonte: CNBB

O preço da cultura

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)



As crises que pesam sobre os ombros da sociedade, sacrificando os cidadãos, precisam ser enfrentadas, mas não de modo qualquer. Sua superação exige a permanente consideração do tecido da cultura, substrato que alicerça a determinação na busca de soluções, na elaboração de respostas e na configuração de um modo cidadão de ser que empurre o conjunto da sociedade na direção da justiça almejada, da paz sonhada e dos equilíbrios políticos sociais. 
Quando comprometida a qualidade do tecido da cultura, o caminho é percorrido em areia movediça, com surpresas desinteressantes e com pouquíssima resiliência para se alcançar metas com força de efetivar novos cenários. Não basta, por isso mesmo, que o esforço de dar nova dinâmica à economia, com a superação dos seus descompassos em desempregos, desigualdades, corrupção e indiferenças, se faça pela via dos números. Por critérios frios na definição das taxas de juros, da lucratividade ou fortalecimento egoísta de setores.  
O Papa Francisco, nesse horizonte, reforça a importância dessa compreensão com uma advertência pertinente. Na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, no capítulo segundo, sobre a crise do compromisso comunitário, sublinha a responsabilidade de cada cidadão. É preciso que cada pessoa, particularmente os formadores de opinião, construtores da sociedade, intelectuais e religiosos, assuma o compromisso de indicar soluções eficazes para as crises e os problemas. E mais, adverte a todos pelo desencadeamento dos processos de desumanização que podem se tornar irreversíveis, dentre eles, o da violência que permeia todos os âmbitos de nossa vida em sociedade. 
Nesse contexto, vale refletir com profundidade sobre as várias faces dessa violência, desde a doméstica, com estatísticas absurdas de agressões a mulheres, crianças e idosos, silenciada na privacidade dos lares, às sofridas pelos cidadãos e que atentam contra a inteireza da dignidade humana, até aquelas perpetradas com inteligência doentia nos atos de terrorismo, na corrupção e pelas grandes organizações criminosas.
Os progressos atuais da humanidade são incontestáveis em vários campos do saber tecnológico e da cultura, mas ainda não são capazes de fazer frente a essa triste realidade. São igualmente desafiadoras a exclusão social e a pequenez na estatura cidadã, que precisa urgentemente alavancar processos de mudanças e operacionalizar ações que tenham força para transformar a realidade que hospeda a cidadania no conjunto da sociedade contemporânea. 
Vale-nos reportar ainda ao Papa Francisco, na citada exortação apostólica, quando constata o desvanecimento da alegria de viver, em consequência do recrudescimento da violência e da falta de respeito, patentes especialmente na imensa desigualdade social. Prova da incompetência de governantes e de segmentos variados da sociedade, na efetivação das mudanças capazes de reconfigurar os humilhantes cenários que atingem frontalmente a cidadania. 
Os saltos velozes, qualitativos e quantitativos, verificados no progresso científico e nas inovações tecnológicas, nos diferentes âmbitos da natureza e da vida precisam contar com a qualidade do tecido da cultura, do qual cada cidadão é portador. Esse tecido cultural, como substrato no caráter e na compreensão do mundo, é determinante para que tenha impacto em cada cidadão de modo a formar os sentidos comunitário e social que deem rumos novos e soluções às crises. 
A exemplaridade da cultura mineira, que se desdobra em muitas, convence e explicita o quanto a qualidade do tecido cultural alavanca possibilidades enormes de progresso, pelos valores em tradição, patrimônio, religiosidade, e até na culinária e nas dinâmicas familiares. Patrimônio que exige tratamento adequado por parte de todos, particularmente de seus líderes. Não se pode pensar que o conjunto de uma sociedade regional ou local se desenvolva e aposte em outros crescimentos, esperando que os recursos “caiam do céu”. Ou ainda, que os investimentos venham de fora, criando relação de submissão a novas formas de poder, muitas vezes anônimo.
A cultura é um capital da mais alta relevância no desenvolvimento e nas transformações urgidas pela realidade.  Uma sociedade, como a mineira, precisa debruçar-se mais sobre os seus segmentos, da história às expressões variadas, da geografia aos seus monumentos e ao jeito de ser do povo, para contabilizar os preços dessa rica cultura. Em razão, especialmente, das necessidades de desenvolvimento, de soluções dos problemas urgentes e do desenho de novos cenários é indispensável que nosso tecido cultural tenha mais investimento em educação, consciência social e políticocultural. É preciso ir além das lamentações, das constatações e da falta de força nas ações. 
O tecido da cultura existente pode ser o “pé de apoio” para se dar um salto adiante e não enjaular-se na mediocridade de alguns governantes, líderes religiosos, intelectuais. Mergulhados e afogados na burocracia, não apostam em processos e projetos, não valorizam a oportunidade de estar e de ser parte dessa cultura chamada sociedade mineira. Assim, paga-se o preço de não avançar e de habituar-se a estilos acanhados demais, vivendo na pobreza, apesar de fazermos parte de uma história de grandes riquezas e sermos detentores de um patrimônio singular em sua relevância. 
A cultura expressa nos hábitos, na consciência histórica e política, na valorização “quase bairrista” do nosso patrimônio com sua inteligente utilização e cuidado, é a alavanca para mudar e fazer crescer, com força maior do que os royalties e certos “dinheiros”, redimindo, assim, dirigentes, lideranças - cidadãos todos - da mediocridade. É hora de buscar novos rumos e respostas.
Fonte: CNBB

No signo do Jubileu, Papa abrirá iniciativa "24 horas para o Senhor"

2016-03-03 Rádio Vaticana
Cidade do Vaticano (RV) - O mundo inteiro vai imergir na misericórdia de Deus com a iniciativa “24 horas para o Senhor”. Na tarde desta sexta-feira (04/03), com a celebração penitencial na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco abrirá a inciativa, que parte de Roma, mas cresceu muito rapidamente e ganhou alcance mundial.
De fato, durante a liturgia penitencial dioceses dos cinco continentes estarão unidas espiritualmente ao Santo Padre para oferecer a todos a possibilidade de fazer experiência pessoal da misericórdia de Deus.
De volta, sexta-feira e sábado, “24 horas para o Senhor”. A iniciativa, que este ano chega à terceira edição, nasceu com o intento de recolocar no centro a importância da oração, da adoração eucarística e o do dom do sacramento da Reconciliação.
“24 horas para o Senhor” representa uma ocasião aberta a todos, até tarde à noite, no coração de nossas cidades, para haurir a misericórdia de Deus – diz um comunicado do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, dicastério vaticano responsável pela organização do Jubileu extraordinário da Misericórdia.
O lema do Ano jubilar “Misericordiosos como o Pai” constitui o fio condutor do evento cujos temas nas precedentes edições de 2014 e 2015 foram, respectivamente, “O perdão mais forte do que o pecado” e “Deus, rico de misericórdia”.
Promovida pelo referido dicastério vaticano com a imediata adesão de muitas dioceses, “24 horas para o Senhor” foi fortemente querida pelo Pontífice. Em 13 de março de 2015, segundo aniversário de sua eleição à Cátedra de Pedro, justamente durante a celebração penitencial Francisco anunciou o Ano Santo da Misericórdia.
Na Bula de convocação do Jubileu (Misericordiae Vultus), o Papa escreveu:
“A iniciativa “24 horas para o Senhor”, a ser celebrada na sexta-feira e sábado que precedem o IV Domingo da Quaresma, deve ser incrementada nas dioceses. Muitas pessoas estão se reaproximando do sacramento da Reconciliação e, entre estas, muitos jovens, que nesta experiência muitas vezes reencontram o caminho para voltar para o Senhor, para viver um momento de intensa oração e redescobrir o sentido da própria vida.”
O presidente do referido organismo vaticano, Dom Rino Fisichella, afirma que é importante ressaltar que “a misericórdia não se reduz ao sacramento da Reconciliação, ela tem um horizonte muito mais amplo, que empenha cada um de nós a tornar-se instrumento da misericórdia para o próximo”. (RL)
(from Vatican Radio)
Fonte: News.VA