sábado, 28 de fevereiro de 2015

Setor Universidades de Fortaleza realiza encontro de colaboradores

O Setor Universidades da Arquidiocese de Fortaleza promoverá na manhã deste sábado, dia 28 de fevereiro, às 10h, no Centro de Pastoral Maria Mãe da Igreja, localizado à Rua Rodrigues Júnior no número 300 (com estacionamento), seu Encontro de Colaboradores.
Participam da reunião os responsáveis das pastorais, associações, congregações, movimentos e novas comunidades pela evangelização nas universidades. Professores, acadêmicos e dirigentes de movimentos estudantis interessados na proposta são convidados.
O Setor Universidades pertence a Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, que surge com a finalidade de favorecer a integração e o diálogo entre diferentes experiências e iniciativas atuantes nas Instituições de Ensino Superior de todo o Brasil para criar uma rede de unidade e comunhão comprometida com a mensagem do Evangelho e com o respeito a pluralidade cultural no meio universitário.
Para maiores informações contate o Secretariado de Pastoral nos telefones 085 3388 8701 e 085 3388 8723.
Por Guilherme Azevedo

O Calvário visto do Tabor

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

A Quaresma é uma busca constante e concreta de Deus. As leituras do Segundo Domingo deste precioso tempo colocam-nos diante de uma realidade bela e profunda. Na primeira leitura, quando Deus pede a Abraão tudo quanto ele tinha: "teu filho único, Isaac, a quem tanto amas". Isaac era tudo para Abraão: por ele, tinha deixado Ur na Caldéia, por ele, tinha esperado mais de trinta anos, por ele, tinha suportado todas as provas. E, agora, já idoso, sem nenhuma possibilidade de ter mais filhos, agora que o menino já está crescido e Abraão pensava poder descansar, Deus o pede a Abraão. A fé de Abraão, aqui, chega quase ao absurdo! Mas ele foi em frente confiando no Senhor. O Senhor nos pede coisas que não entendemos, mas Ele nos pode pedir, certamente, e nós devemos dar, com certeza, porque Ele mesmo, o nosso Deus, nos deu tudo! Ele, que pede que Abraão lhe sacrifique o filho único e amado, é o mesmo Deus que, como diz São Paulo na segunda leitura deste Segundo Domingo quaresmal, "não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós!" Eis o grande mistério: Deus, no seu amor por nós – primeiro pelo povo de Israel, descendência de Abraão, e, depois, por toda a humanidade com a qual Ele deseja formar o novo povo, que é a Igreja – Deus, no seu amor por nós, entregou à morte o seu Filho único, o Amado, o Justo e Santo, aquele no qual Ele coloca todo o seu bem-querer. Não é assim que Ele no-lo apresenta hoje no Monte Tabor? "Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz"! É este Filho que será entregue à morte. O Evangelho de São Lucas nos diz que, precisamente nesta ocasião, Jesus transfigurado falava com Moisés e Elias "sobre a sua partida, isto é, a sua morte, que iria se consumar em Jerusalém" (Lc 9,31).

No Evangelho de São Marcos que escutamos, o próprio Jesus, ao descer da montanha, "ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos". Sobre o Monte Tabor, com o Transfigurado envolto em glória, paira a sombra da paixão, da morte do Filho amado e único, que o Deus de Abraão entregará por nós até o fim. Ao filho de Abraão, a Isaac, Deus poupou no último momento; não poupará, contudo, o seu próprio Filho.
Em Jesus se cumprem as promessas feitas aos antigos pais, o que a “Lei e os Profetas” disseram, agora representados por Elias e Moisés. Mas Ele nos pede também para que Ele seja tudo em nossa vida e não deixemos ninguém ocupar o Seu lugar. Para que tenhamos vida plena, Ele nos entregou o Seu próprio Filho para nossa salvação.
A glória de Jesus no Tabor, antegozo da sua ressurreição, anima-nos e alenta-nos neste caminho quaresmal. Ao nos falar da oração, da penitência, da esmola, ao nos exortar ao combate aos vícios e à leitura espiritual, a Igreja, fazendo-nos contemplar o Transfigurado, revela-nos qual o objetivo da batalha da Quaresma: encontrar o Cristo cheio de glória e, com Ele, sermos glorificados. Olhemos o Tabor e veremos o que o Senhor preparou para nós! Pensemos no Tabor, e a penitência terá um sentido, as mortificações deste tempo serão feitas com alegria! Que diz o Evangelho? Diz que, diante dos apóstolos, Jesus transfigurou-se: "Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a Terra poderia alvejar". A Transfiguração é uma profecia, uma antecipação da glória da Páscoa, e a Páscoa de Cristo é a garantia da nossa glorificação. Porque Cristo morreu e ressuscitou, nós também, mortos com Ele, seremos daquela multidão vestida de branco de que fala o Apocalipse (Ap 7,9). As observâncias da santa Quaresma não são um peso, mas um belo caminho, um belo instrumento para conduzir-nos à Páscoa do Senhor!
A transfiguração de Jesus é uma catequese que revela aos discípulos e a nós Quem é Jesus: O Filho Amado de Deus! Em nossa caminhada para a Páscoa somos também convidados a subir com Jesus a montanha e, na companhia dos três discípulos, viver a alegria da comunhão com Ele. As dificuldades da caminhada não podem nos desanimar. No meio dos conflitos, o Pai nos mostra desde já sinais da Ressurreição, e do alto daquele monte Ele continua a nos gritar: “Este é o Meu Filho Amado, escutai-O”. Não desanimemos diante das dificuldades! Os Planos de Deus não conduzem ao fracasso, mas à Ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim!
Esta centelha da glória divina inundou os Apóstolos de uma felicidade tão grande que fez Pedro exclamar: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas”! Pedro quer prolongar a situação! O que é bom, o que importa, não é estar aqui ou ali, mas estar sempre com Cristo, em qualquer parte, e vê-Lo por trás das circunstâncias em que nos encontramos. Se estivermos com Ele, tanto faz que estejamos rodeados dos maiores consolos do mundo ou prostrados na cama de um hospital, padecendo dores terríveis. O que importa é somente isto: vê-Lo e viver sempre com Ele! Esta é a única coisa verdadeiramente boa e importante na vida presente e na próxima. Desejo ver-Te, Senhor, e procurarei o Teu rosto nas circunstâncias habituais da minha vida!
Nós devemos encontrar esse Jesus na nossa vida corrente, no meio do trabalho, na rua, nos que nos rodeiam, na oração, quando nos perdoa no Sacramento da Penitência (Confissão), na Sagrada Escritura, na Eucaristia onde se encontra verdadeira, real e substancialmente presente. Devemos aprender a descobri-Lo nas coisas ordinárias, correntes, fugindo da tentação de desejar o extraordinário.
Não podemos ficar no Monte… de braços cruzados… O seguidor de Cristo deve descer do monte para enfrentar o mundo e os problemas dos homens! Somos convidados a ser Missionários da Transfiguração!
Fonte: CNBB

Ramos, Paixão, Fraternidade

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a Igreja abre a Semana Santa. Também ocorre neste domingo a Coleta da Solidariedade – fruto de nossas penitências quaresmais e reflexão sobre o tema da Campanha da Fraternidade.

Nesta semana encerraremos o tempo da Quaresma e viveremos o ápice da liturgia católica no “tríduo pascal”. Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor traz a tradição da entrada em Jerusalém e a nossa profissão de fé solene, e a leitura da paixão, abrindo esta semana especial.
No Evangelho da bênção de ramos (Mc 11, 1-10 ou Jo 12, 12-16) vemos que o cortejo organizou-se rapidamente. Jesus faz a sua entrada em Jerusalém como Messias, montado num burrinho, conforme havia sido profetizado muitos séculos antes (Zc. 9,9). Jesus aceita a homenagem, e, quando os fariseus, que também conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria, o Senhor disse-lhes: “Eu vos digo, se eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19, 40).
Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montaria humilde: quer que demos testemunho d’Ele com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a nossa sincera preocupação pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através das circunstâncias do viver humano. Naquele cortejo triunfal, quando Jesus vê a cidade de Jerusalém, chora! Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira. O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como estes, um dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos depois a cidade será arrasada. Jesus chora a impenitência de Jerusalém. Como são eloquentes estas lágrimas de Cristo. O Papa Francisco, em sua homilia na abertura da Quaresma, na Quarta-feira de Cinzas lembrou que devemos pedir o “dom das lágrimas”.
Nessa Eucaristia solene que abre a Grande Semana da nossa fé, a Semana Santa, que culminará com a Solenidade da Páscoa, domingo próximo, fizemos memória da Entrada do Senhor Jesus em Jerusalém. Ele é o Filho de Davi, o Messias esperado por Israel, que vem tomar posse de sua Cidade Santa. Mas, que surpresa! É um Messias humilde, que entra não a cavalo, mas num humilde burrico, sinal de serviço e pequenez. Ei-lo: seu serviço será dar a vida pela multidão. Ele é Rei, mas rei coroado de espinhos e não de humana vanglória. Termos seguido o Senhor nessa solene procissão com ramos é tê-Lo reconhecido como nosso rei, rei pobre e humilde. Tê-Lo seguido é nos dispor a segui-Lo nas pobrezas e humildades da vida, dispondo-nos a participar de Sua paixão e cruz para ter parte na glória de Sua ressurreição. Trazer os ramos bentos nas mãos simboliza que cada um de nós quer acolher Jesus Cristo como Senhor de sua vida e professar solenemente a fé que nos distingue como católicos.
O Evangelho da Paixão (Mc 14,1-15,47) é hoje proclamado pela primeira vez na Semana Santa. Acolhendo a Palavra do Profeta Isaias (50, 4-7) que nos fala do servo sofredor, e da Carta aos Filipenses (2,6-11) com o belo hino cristológico, nos revela o espírito que deve reinar nesta última semana do tempo quaresmal, e como nos devemos preparar para a Páscoa que se aproxima.
O meio que Deus escolheu para nos salvar não foi o que é grande e vistoso, tão apreciado pelo mundo. Ao invés, o Pai nos salvou pela humilde obediência do Filho Jesus. Reconheçamos na voz do Servo Sofredor da primeira leitura a voz do Filho de Deus: “O Senhor Deus me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhes resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para arrancarem a barba. O Senhor é o meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, porque sei que não serei humilhado”. O Filho buscou, humildemente, na obediência de um discípulo, a vontade do Pai – e aí encontrou força e consolo, encontrou a certeza de sua vida. São Paulo, na segunda leitura de hoje, confirma isso com palavras não menos impressionantes: “Jesus Cristo, existindo na condição divina, esvaziou-se de si mesmo, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Neste mundo que se julga dono da verdade, desprezando os preceitos do Senhor Deus e seus planos para nós, aprendamos a humilde obediência de Cristo Jesus, entremos em comunhão com o Cristo obediente ao Pai até a morte. Só então seremos livres realmente, somente então viveremos de verdade!
Depois, o modo de Pedro, que “seguiu Jesus de longe”. Não se deve seguir Jesus de longe! Quem O segue assim? Quem pensa poder ser discípulo pela metade; quem se ilude, pensando seguir o Senhor sem combater seus vícios e pecados; quem imagina poder servir a Deus e ao dinheiro, ao Senhor e aos costumes e modos e pensamentos do mundo! Como terminarão estes? Farão o mesmo que Pedro naquele momento: “negando conhecer Jesus!” – Senhor, olha para nós como olhaste para Pedro; dá-nos o arrependimento e o pranto (dom das lágrimas) pela covardia e frieza em Te seguir! Faze-nos verdadeiros discípulos Teus, que Te sigam de perto até a cruz, como o Discípulo Amado, ao lado de Tua Santíssima Mãe!
Uma atitude bela e digna de um verdadeiro discípulo do Senhor: aquele gesto da misteriosa mulher que ungiu a cabeça do Senhor com nardo puro, caríssimo! São Marcos detalha: “Ela quebrou o vaso e derramou o perfume na cabeça de Jesus”. Quebrou o vaso, ou seja, derramou todo o perfume, sem reservas, sem pena, com abundância! Para o Senhor, tudo; para o Salvador, o melhor! E São João diz que “a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo” (Jo 12,3). Ó mulher feliz, discípula generosa! Dando tudo ao Senhor, perfumou toda a casa com o bom odor de um amor sem reservas! Senhor Jesus, faz-nos generosos para contigo! Que Te amemos como essa mulher: sem reservas, sem fazer contas! Ó Senhor, que nos amaste até o extremo, ensina-nos a Te amar assim também, colocando nossos perfumes, isto é, aquilo que temos de precioso, em especial as nossas vidas, a teus pés! Então, o mundo será melhor, porque o bom odor do amor haverá de se espalhar como testemunho da Tua presença!
Neste domingo, somos chamados a um gesto concreto na conclusão da Campanha da Fraternidade, com a coleta especial, como nos ensina o Texto Base: “O primeiro gesto concreto de conversão quaresmal para os discípulos missionários é a participação na vida da comunidade que serve e celebra. O segundo é a oferta da doação em dinheiro na Coleta da Solidariedade, a ser realizada no Domingo de Ramos, dia 29 de março. Esta coleta é destinada aos pobres. Por meio deste gesto concreto, a Igreja dá testemunho de fraternidade e aponta o caminho cristão da partilha (cf. At 2,45) para a superação das grandes desigualdades presentes nas estruturas da sociedade brasileira” (Cf. Texto Base, CNBB, CF 2015, número 241).
A coleta deste ano “destina-se também a combater a fome no mundo por meio de uma ação promovida pela Caritas, com o lema: ‘Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas” (Cf. Texto Base, CNBB, CF 2015, número 242).
Ao acolhermos Jesus, relembrando a Sua entrada em Jerusalém, lembremos que a conversão profunda deste tempo propício nos pede um gesto concreto, despertando e nutrindo em nosso espírito a vida comunitária e a verdadeira solidariedade na busca do bem comum, educando para a vida fraterna, a justiça e a caridade, exigências fundamentais do Evangelho. Participemos ativamente e de coração aberto da Semana Santa!
 Fonte: CNBB

Empresário, nobre tarefa

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, afirma que a vocação de um empresário é uma nobre tarefa. Lamentavelmente, essa nobreza é atacada pela corrupção que afeta funcionamentos de instâncias decisivas nos rumos da sociedade brasileira. A altivez da tarefa do empresário, diz o Papa Francisco, se verifica na medida em que este se deixe interpelar por um sentido mais amplo da vida e se engaje no serviço decisivo ao bem comum, em um esforço para tornar as riquezas deste mundo mais acessíveis a todos. Para isso, as complexidades e exigências das atividades econômicas não podem estar sob a regência do mercado, com suas forças cegas e invisíveis. O mercado tende sempre a comprometer o crescimento justo, que beneficia a coletividade. Com a desarvorada pretensão de aumentar a rentabilidade de poucos, gera novos excluídos e cristaliza situações de privilégios. 

O que está se passando na sociedade brasileira é consequência de ações na política econômica que não estão fundamentadas em duas referências básicas para se alcançar uma realidade mais justa: o respeito à dignidade de cada pessoa e a busca pelo bem comum. Conforme indica o Papa Francisco, essas referências estão inseridas apenas no discurso político. Por isso mesmo, incomoda muito quando se exige a ética, a distribuição de bens, a defesa dos postos de trabalho e a proteção dos fracos. Incomoda também quando se fala da solidariedade mundial ou mesmo do Deus que exige um compromisso em prol da justiça.
A digna missão dos empresários não pode dispensar a nobreza própria dos políticos verdadeiros, capazes de dialogar e dedicados a sanar os graves problemas que afetam a sociedade contemporânea. O mundo empresarial e o universo político, sem dispensar os cidadãos todos, diante dos desafios deste momento - referência sobretudo à corrupção - têm a chance de dar uma nova resposta à sociedade. Para isso, é necessário um exame de consciência capaz de promover condutas éticas, exercício com força incisiva na vida do povo. Como fará diferença quando a politica abandonar a dinâmica de atender interesses partidários e de pequenos grupos para ser vivida como uma preciosa vocação, uma das formas mais completas do exercício da caridade!
Um novo tempo pode ser gerado se, particularmente, empresários e políticos, mas também outros segmentos e instituições da sociedade, conseguirem dar uma resposta nova, tomando como referência determinante o povo e a vida dos pobres. Sem esse parâmetro, corre-se o risco de apenas “passar uma tinta” que acalma ânimos, faz transparecer que a corrupção não acontece e que os mecanismos de favorecimentos e negociatas são apenas factoide. Não se pode esconder a ferida e a enfermidade que se abatem sobre o caminho da sociedade brasileira, agravada pelos enraizamentos históricos e pela perda de sentido de pátria e de cidadania.
É hora de um amplo diálogo social para superar esse abalo sísmico nos alicerces da sociedade. Nesse horizonte, é urgente que as instituições e segmentos diversos se posicionem adequadamente em estado de alerta e de contribuição. Ao promover a Campanha da Fraternidade 2015, corajosamente abordando o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, a Igreja Católica no Brasil reafirma seu compromisso de trabalhar para o pleno desenvolvimento do ser humano e para promover o bem comum. Isto só se faz em amplo diálogo com o Estado, com as culturas, ciências e com aqueles que confessam diferentemente a fé.
O Papa Francisco defende o modelo de uma Igreja “em saída”, capaz de oferecer novas respostas à sociedade. O convite é para sair da própria comodidade e ter coragem de alcançar todas as periferias. A Igreja está desafiada a experimentar um aprofundado processo de transformação. O mundo empresarial e o âmbito político estão também desafiados a descobrir suas dinâmicas próprias “de saída” para encontrar um novo modelo. Somente assim será possível investir na formação de um tecido cultural que liberte a sociedade brasileira para caminhar rumo ao desenvolvimento. Empresários, políticos, intelectuais, cientistas, cidadãos todos, eis o desafio: defender a nobreza das suas ações.
 Fonte: CNBB

Papa às cooperativas italianas: globalizar a solidariedade

2015-02-28 Rádio Vaticana

As cooperativas são inovadoras e criativas e promovem uma nova matemática em que 1+1 é igual a 3. Com estas palavras o Santo Padre encorajou as cooperativas a globalizarem a solidariedade
Na manhã deste sábado dia 28 de fevereiro o Papa Francisco encontrou-se com os membros das cooperativas italianas que encheram totalmente a Sala Paulo VI. Presentes cooperadores de diferentes áreas de trabalho: agricultura, industria, comércio, pescas, área social, imobiliário e tantas outras. Em particular, foram apresentados testemunhos de cooperativas que, partindo de problemas sociais de difícil resolução, encontraram no método cooperativo a solução.
Nas palavras que lhes dirigiu o Papa Francisco frisou precisamente o método das cooperativas como sendo inovador e criativo, exortou-as a globalizarem a solidariedade e lançou cinco encorajamentos para a atividade das cooperativas:
Em primeiro lugar exortou-as a serem o motor de desenvolvimento das comunidades locais, criando novas cooperativas, criando novas possibilidades de trabalho nomeadamente para os jovens, as mulheres e os adultos que ficam sem emprego. O Santo Padre sublinhou o exemplo das empresas recuperadas.
Como segundo encorajamento o Papa referiu-se à função de ativar como protagonistas novas soluções de bem-estar sobretudo na área da saúde. O Santo Padre afirmou o dom da caridade colocando as pessoas e os mais necessitados sempre no centro. Apontou o princípio da subsidariedade que permite trabalhar colocando juntas as forças.
Terceira ideia lançada pelo Papa: a economia e a sua relação com a justiça social. O Santo Padre recordou que não basta criar riqueza para depois distribuir ou assumir o princípio da responsabilidade social em formato de marketing. O Papa sublinhou o valor do cooperativismo que permite que o sócio não seja somente um fornecedor ou utente mas um protagonista que cresce como pessoa em modo cooperativo no qual 1+1 são 3. Cooperar significa precisamente operar em conjunto para atingir um fim – declarou o Santo Padre.
Em quarto lugar o Papa Francisco encorajou as cooperativas para o seu papel de apoio às famílias pedindo-lhes que as apoiem procurando harmonizar o trabalho com a vida familiar. Em particular, citou o papel das mulheres para que se sintam realizadas e completamente livres e cada vez mais protagonistas.
Para fazer tudo isto é preciso dinheiro – declarou o Papa no seu último encorajamento às cooperativas – sublinhando que estas não foram fundadas por grandes capitalistas. O Santo Padre exortou os cooperadores a investirem bem nas soluções encontradas colocando em comum os meios e pagando justos salários. Recordou a expressão “o dinheiro é o esterco do diabo” que pode destruir o homem. Por isso, disse o Papa, não deve comandar o capital sobre as pessoas mas as pessoas sobre o capital.
No final da sua intervenção o Papa Francisco exortou as cooperativas a lutarem honradamente contra as manipulações do mercado. (RS)
(from Vatican Radio)
Fonte: News;VA

Intenções do Papa para março: pelos cientistas e pelas mulheres na Igreja

2015-02-28 Rádio Vaticana

Cidade do Vaticano (RV) – O Santo Padre propôs, ao Apostolado da Oração, as seguintes intenções para este mês de março:
Intenção Universal: “Cientistas ao serviço do bem. Para que todos aqueles que se dedicam à investigação científica se ponham ao serviço do bem integral da pessoa humana”.
Intenção pela Evangelização: “Contributo da mulher na Igreja. Para que se reconheça cada vez mais o contributo específico da mulher na vida da Igreja”.
De fato, os desafios para este mês de março, são: denunciar situações, das quais se tenha conhecimento, onde a ciência não está a serviço da dignidade humana; se tiver algum familiar, estudando ou trabalhando nesta área, procurar alertá-lo para a consciência de usar a ciência em prol da vida; animar as mulheres que se dedicam ao seu serviço da Igreja.
Oração:
“Pai de Bondade, Tu nos criaste com inteligência e deste-nos o poder de cuidar da criação. Ao longo dos séculos, a humanidade foi desenvolvendo a técnica e a ciência, criando melhores condições de vida. Mas também, em nome do progresso, se cometem tantos abusos e a dignidade dos teus filhos fica submetida a outros interesses. Quero pedir-Te por todos os que se dedicam à investigação científica, para que usem a sua inteligência para o bem da pessoa humana e não para a degradação. Peço-te também para que na Igreja se reconheça cada vez mais o contributo da mulher, nas instâncias de decisão e no serviço à comunidade dos teus filhos”. (MT/Arautos)
(from Vatican Radio)
Fonte: News.VA

P. Cantalamessa: encontrar Jesus que caminha ao nosso lado

2015-02-28 Rádio Vaticana

Na primeira pregação da Quaresma na Capela Redemptoris Mater no Vaticano, o Padre Raniero Cantalamessa, Pregador da Casa da Pontifícia, afirmou, nesta sexta-feira, que o grande desafio de um cristão é encontrar Jesus que caminha ao seu lado. A conversão que nos pede Jesus não é um “tornar para trás” mas sim “fazer um salto em frente” – sublinhou ainda o padre capuchinho que dedicou a sua meditação à Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” do Papa Francisco e considerou que nesta Quaresma devemos encher do Espirito Santo a nossa alma. Mas, tudo começa por um encontro pessoal com Cristo:
“A possibilidade de um tal encontro pessoal depende do facto que Jesus ressuscitado está vivo e deseja caminhar ao lado de cada crente assim realmente como caminhava ao lado dos seus discípulos de Emaús ao longo da viagem”
Para o Papa Francisco – continuou o Padre Raniero – o encontro pessoal não substitui o encontro eclesial, mas este, o encontro eclesial, deve ser livre e espontâneo e não por hábito ou uso. Neste âmbito são muito importantes os movimentos eclesiais e laicais que “são a ocasião para muitos leigos adultos de tomarem consciência do próprio batismo e de decidirem livremente a sua pertença”. Converter-se não é voltar para trás mas seguir em frente – afirmou o Pregador da Casa Pontifícia:
“Converter-se já não significa tornar para trás à aliança violada: significa fazer um salto em frente e entrar no Reino que apareceu gratuitamente por decisão de Deus no meio dos homens.”
O Padre Cantalamessa concluiu a sua pregação dizendo que neste tempo de Quaresma devemos encher a nossa alma com o Espírito Santo:
“E este tempo da Quaresma, veneráveis padres, irmãos e irmãs é o tempo mais adequado para a inspiração, para fazer fortes e grossas respirações do Espírito Santo através daquele pouco que podemos fazer, em modo que depois, quando vamos ao encontro dos outros – sem que reparemos – talvez, a nossa respiração, o nosso hálito perfuma um pouco de Jesus. Boa Quaresma a todos.” (RS)



(from Vatican Radio)
Fonte: News.VA

Santo do Dia - Santos Romão e Lupicino

Os irmãos, apaixonados pelos Padres do deserto, fundaram mosteiro baseado nas regras de São Pacômio, São Basílio e Cassiano
Santos Romão e Lupiciano - Irmãos peregrinos
São Romão entrou para a vida religiosa com 35 anos, na França, onde nasceram os dois santos de hoje. Ele foi discernindo sua vocação, que o deixava inquieto, apesar de já estar na vida religiosa. Ao tomar as constituições de Cassiano e também o testemunho dos Padres do deserto, deixou o convento e foi peregrinar, procurando o lugar onde Deus o queria vivendo.

Indo para o Leste, encontrou uma natureza distante de todos e percebeu que Deus o queria ali.
Vivia os trabalhos manuais, a oração e a leitura, até o seu irmão Lupicino, então viúvo, se unir a ele. Fundaram então um novo Mosteiro, que se baseava nas regras de São Pacômio, São Basílio e Cassiano.
Romão tinha um temperamento e caminhada espiritual onde com facilidade era dado à misericórdia, à compreensão e tolerância. Lupicino era justiça e intolerância. Nas diferenças, os irmãos se completavam, e ajudavam aos irmãos da comunidade, que a santidade se dá nessa conjugação: amor, justiça, misericórdia, verdade, inspiração, transpiração, severidade, compreensão. Eles eram iguais na busca da santidade.
O Bispo Santo Hilário ordenou Romão, que faleceu em 463. E em 480 vai para a glória São Lupicino.
Santos Romão e Lupicino, rogai por nós!

1ª Semana da Quaresma - Sábado 28/02/2015- Liturgia Diária

Primeira Leitura (Dt 26,16-19)

Leitura do Livro do Deuteronômio.
Moisés dirigiu a palavra ao povo de Israel e lhe disse: 16“Hoje, o Senhor teu Deus te manda cumprir esses preceitos e decretos. Guarda-os e observa-os com todo o teu coração e com toda a tua alma.
17Tu escolheste hoje o Senhor para ser teu Deus, para seguires os seus caminhos, e guardares seus preceitos, mandamentos e decretos, e para obedecerdes à sua voz. 18E o Senhor te escolheu, hoje, para que sejas para ele um povo particular, como te prometeu, a fim de observares todos os seus mandamentos. 19Assim ele te fará ilustre entre todas as nações que criou, e te tornará superior em honra e glória, a fim de que sejas o povo santo do Senhor teu Deus, como ele disse”.

- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.

Salmo de Hoje (Sl 118,1-8)

— Feliz é quem na lei do Senhor Deus vai progredindo!
R- Feliz é quem na lei do Senhor Deus vai progredindo!

1- Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! Feliz o homem que observa seus preceitos, e de todo coração procura Deus! R
2- Os vossos mandamentos vós nos destes, para serem fielmente observados. Oxalá seja bem firme a minha vida em cumprir vossa vontade e vossa lei! R
3- Quero louvar-vos com sincero coração, pois aprendi as vossas justas decisões. Quero guardar vossa vontade e vossa lei; Senhor, não me deixeis desamparado! R

Compreendendo e Refletindo

Sozinhos nós não conseguimos amar, perdoar nem vencer as mágoas, somente conseguimos essa graça pela força da oração com a ajuda do Senhor.
“Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” (Mateus 5, 44).

De acordo com a cultura e o pensamento religioso do povo judeu, basta que amemos o nosso próximo;  ao passo que aquele a quem temos como inimigo, porque de alguma forma nos prejudicou e nos fez mal, nós podemos odiá-lo. Contudo, Jesus nos diz que não deve ser assim, nós precisamos amar até os nossos inimigos.
Meu amor não pode ser um amor mínimo, mas sim, como é o amor do coração do Pai, um amor pleno, um amor sublime, um amor que não exclui ninguém. Um amor no qual sou capaz de dar a outra face a quem me feriu, a quem me machucou e a quem me fez mal.
É o amor que vence os ressentimentos e as mágoas. Se eu não consigo vencer a minha mágoa e meu ressentimento pelas minhas forças humanas, eu preciso vencê-los pela força da oração. E por isso o Senhor nos diz que devemos rezar por aqueles que nos perseguem. Uma oração sincera e verdadeira: “Senhor, eu não consigo. Senhor, eu tenho raiva dessa pessoa. Senhor, eu não consigo amá-la; por favor, me ajude!
O mínimo que eu posso desejar a alguém é que Deus o abençoe, o guarde, o ilumine e conduza o seu coração. Essa é a oração que vem do fundo da minha alma, a oração que vem do meu coração, para que o Senhor realmente me ajude a amar a quem eu não consigo amar.
Isso não significa que é necessário você gostar de todo o mundo ou ter todos como amigos. Não, isso se trata de outra afeição, de outra intimidade, de outra forma de relacionamento. Contudo, para termos paz em nosso coração, para o nosso coração ser pleno e vigoroso, como é o coração de Deus, não podemos negar nem sonegar amor a ninguém.
Está certo que existem pessoas que são difíceis e deixam muitas marcas em nós, mas a maior força da minha vida é a força do Evangelho, é ele que me dá a graça, é ele que me ajuda a superar, é ele que me ajuda a combater o mal e dizer: “Jesus, conduza meus passos, conduza os meus sentimentos”.
Deus abençoe você!

Padre Roger Araújo - Canção Nova

Evangelho (Mt 5,43-48)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 43“Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ 44Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!
45Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre os justos e injustos. 46Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? 47E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? 48Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O sentido da Quaresma em São Leão Magno a partir de algumas de suas homilias

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

Introdução
A quaresma é um tempo privilegiado para a nossa conversão pessoal e pastoral. Somos convidados a fazer práticas de caridade, ajudando pessoas mais necessitadas que nós, práticas de oração, voltando-nos mais para Deus e o seu Reino, práticas de jejum, preparando-nos com a vida para a Páscoa do Senhor Jesus.
Leão Magno foi Papa da Igreja católica de 440 a 461. Ele atuou de uma forma decisiva num período difícil na sociedade do Império romano aonde teve que defender o povo diante das ameaças de invasão de outros povos, sobretudo ao povo de Roma, e além disso ele enfrentou a heresia monofisita, que negava a humanidade do Verbo de Deus. Em seu tempo ocorreu o Concílio de Calcedônia, que definiu as duas naturezas do Senhor, a sua humanidade e a sua divindade na única Pessoa do Verbo de Deus Encarnado. Ele também falou sobre a quaresma, o seu sentido, o jejum e práticas de obras boas nesse período que impulsiona à Páscoa, a passagem da morte para a vida em Jesus Cristo e também é a nossa páscoa, presente e futura. A seguir nós veremos o pensamento de Leão Magno a respeito da Quaresma, colhendo alguns itens de algumas de suas homilias.
1. O significado do Jejum
Leão Magno é famoso pelos seus sermões dados nos tempos litúrgicos. Um de suas homilias sobre a Quaresma fala do jejum. Ele resgata a prática feita pelos judeus que dominados pelos filisteus venceram os seus inimigos, entregando-se a um jejum renovando a sua fé em Deus nos seus corpos e nas suas almas. Ao se imporem uma severa penitência abstendo-se do alimento e da comida, venceram neles mesmos os apelos da gula e impuseram a fuga os seus adversários, que foram embora famintos. Ele traz presente o fato para o Povo de Deus para que use de uma forma semelhante o mesmo remédio para ser curado de possíveis vícios. Se eles tinham adversários materiais, nós podemos ter adversários espirituais mas com a ajuda de Deus nós podemos superá-los através da conversão pessoal e comunitária.
O Papa percebe que a quaresma é um tempo privilegiado para a prática da virtude, no caso o jejum, porque ele possibilita um controle maior sobre nós mesmos antes que os adversários da gente. Para que tudo ande da melhor forma, Leão Magno fala que os desejos terrenos devem estar em sintonia com os desejos do espírito. A quaresma seja uma oportunidade em cuja observância as pessoas são convidadas a vivê-la, apague todas as negligências e as faltas sejam perdoadas. Dessa forma será celebrada a Páscoa com maior animo, alegria, fonte de perdão e de amor.
2. Tempo de obras boas
O Papa exorta aos fiéis para que a Quaresma seja um tempo de práticas de obras boas, de caridade, de oração, de vida. Elas nos ajudam a combater as tentações da vida, me vista da nossa salvação. O fato é que Aquele, Jesus, que está em nós é mais forte que Tentador de modo que nós podemos confiar na sua presença e na sua força. Em suas homilias Leão afirma que se Senhor permitiu que fosse tentado por Satanás de modo que o venceu nas tentações, deu-nos o exemplo para que fossemos fortalecidos pelo seu auxilio. Ele o venceu não só enquanto Deus, mas enquanto homem, de modo que Ele lutou para que nós pudéssemos lutar em seguida de modo que o venceu para que também nós o vencêssemos na vida humana. Assim era conveniente para a economia da nossa salvação que o ser humano vencesse as espertezas do mais soberbo inimigo não pelo poder de sua divindade, no caso de Jesus, mas pelo mistério de sua humildade. Dessa forma, Jesus sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, conservou a humanidade longe de ser atingida por questões capciosas pelo tentador manifestando a sua divindade pelo serviço dos anjos e dos santos. Assim a existência terrena é permeada por provações na fé, por vitórias ligadas a compromissos porque quem serve o Senhor, deve preparar a sua alma para a tentação(cfr. Sb 2,1), para a luta em favor do bem.
A prática de boas obras possibilita uma vida melhor com o Senhor e com as pessoas. Se entre essas existir o jejum fortalecerá o interior da pessoa para que a perda de um pouco do excesso corpóreo, o espírito fique robustecido pelas delícias espirituais. Se houver algum excesso em vinganças, palavras vazias, essas possam dar lugar ao perdão, ao amor fraterno. Somos chamados ao perdão para que recebamos o dom (do perdão) por parte de Deus. Ao passar perto do pobre, não fiquemos surdos às suas súplicas, mas possamos ser misericordiosos com os indigentes, para conseguir misericórdia no julgamento. O Papa nos exorta a se alegrar em amenizar os pobres porque aumentarão as nossas riquezas; alegremo-nos em dar as vestes aos nus, para cobrirmos com as vestes necessárias; sintamos a nossa humanidade com os enfermos em sua fraqueza, exilados em suas provações, órfãos em seus abandono, as viúvas em suas tristezas, de modo que as ajudas prestadas tragam porções de benevolência para que as pratica com amor no coração.
Ninguém é isento de fazer obras boas que exaltem o Senhor na história, porque a pessoa é chamada ser sempre mais perfeita e santa, assim como Jesus exortou as suas discípulas e os seus discípulos para imitar o Pai que está nos céus. A Quaresma é um tempo favorável à salvação aonde se declara guerra aos vícios humanos para assim aumentar o progresso de todas as virtudes. Se em todos os tempos é chamada a pessoa à uma vida de paz e de amor, tem a Quaresma como ponto importante para a vida de conversão e de vida nova.
Quando o coração é grande, a medida de nossa misericórdia não dependerá dos limites de nossa riqueza. Ainda que se tenha poucos recursos, a grandeza da boa vontade terá os seus méritos. Se exteriormente o mundo romano pelos seus imperadores concediam liberdade para alguns presos por ocasião da festa pascal, a quaresma possa iluminar as pessoas para que vivam interiormente o dom do perdão, da ajuda para os necessitados, para ocorrer um encontro com o Cristo Ressuscitado na alegria.
O Papa diz que a Páscoa é uma festa sublime de modo que o tempo quaresmal seja bem preparado para participar ativamente da festa. Se é bem verdade que a pessoa se veste mais elegantemente em dia de festa, para manifestar a beleza na parte corporal a alegria do espírito, deve ter um cuidado especial para que nossa casa de oração receba maiores enfeites, para a celebração do  mistério de nossa redenção. Pela imitação do Espírito de Cristo são chamadas as pessoas pelo não desprezo dos humildes, mas por obras de caridade.
Os dias preparatórios à Páscoa, que são os dias quaresmais possam mostrar a beleza da Páscoa com práticas boas, de caridade e de amor. Como o apóstolo Paulo insiste, é preciso a prática do bem com todos(cfr. Gl 6,10). Essa não deve ser só concedida para os fiéis, mas os cristãos devem socorre aqueles e aquelas que ainda não receberam o evangelho a fim de serem ajudados em suas necessidades. Eles também foram regenerados pelo sangue de Cristo, os quais nem a origem corporal, nem o nascimento espiritual os separam de nós. O Papa também fala que o tempo da Quaresma é tempo propício de construção de paz, diante da violência, ou de mortes para que haja vida em abundância pela ressurreição de Jesus Cristo.  
Conclusão
Nós podemos afirmar a partir de algumas homilias de Leão Magno a importância da quaresma, para que o tempo que estamos celebrando na vida pessoal, familiar, comunitária, social seja de muita oração, jejum e de caridade. O Espírito Santo nos ilumine na caminhada que nós devemos fazer para viver o amor do Pai no seguimento a Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, no mundo de hoje.
 Fonte: CNBB

Confiar para construir nova história

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

Quando lemos Gênesis, 22, estamos diante da maior prova de fé de Abraão. Os estudiosos afirmam que o episódio do sacrifício de Isaac serviu de base para que o povo de Deus jamais admitisse sacrifícios humanos. Disso aprendemos que a vida é dom de Deus, mas isso não significa que Ele exija para si a vida de suas criaturas, nem no passado, nem no presente.
O trecho em questão não quer justificar leis ou costumes adotados pelo povo de Deus ao longo da história. Ele é, isso sim, o melhor retrato da pessoa que crê em meio à escuridão da vida. O versículo 1 afirma que “Deus pôs Abraão à prova”, sem contudo avisá-lo de que se tratava de prova. E o teste de Abraão é o mais duro possível: Isaac, segundo o versículo 2, é seu filho único e Abraão o ama muito.
Abraão havia sido convocado a deixar o passado, confiando na promessa daquele que o chamou, prometendo-lhe terra e descendência. Isaac é filho dessa promessa e, ao mesmo tempo, é a esperança do futuro. Abraão é chamado a renunciar também ao futuro, devolvendo a Deus o dom da promessa. Assim acabam todas as seguranças para o velho patriarca. Deus age desse modo porque somente Ele é segurança, Ele que se mantém fiel até o fim. Passando pela prova, Abraão amadurece na fé, tornando-se construtor de nova história e pai de um povo que irá perpetuar sua memória e ações em outros tempos e lugares.
O povo de Deus não só se identificou com o Abraão eloqüente. Que conversa com Deus, mas se identificou também com o Abraão que se cala diante do mistério. No episódio do sacrifício de Isaac, o patriarca quase não fala, e Deus se manifesta somente no início e no fim do relato. Abraão tem de fazer tudo sozinho, em silêncio e envolvido pelo mistério incomparável de Deus, superando com fé e confiança os absurdos que a vida apresenta. Mas o povo se identifica também com Isaac, pois somos todos frutos de uma promessa e esperança de futuro. Nós, como Isaac, perguntamos quando percebemos que em nossa caminhada falta o essencial. E a única força que nos anima é esta: “Deus vai providenciar”. Eu mesmo, desde adolescente, sempre levei a sério, em todos os momentos de minha vida, esta certeza: “Deus vai providenciar”. E, com razão, Ele providenciou tudo na minha vida, que nada tenho que arrepender. Convido, nesta quaresma, aos meus leitores a colocarem, acima de tudo e de todos, Deus, rezando: “Deus vai providenciar!”.
Isaac é fruto da promessa. Mas Deus tirou de Abraão todas as seguranças para que ele não se acomodasse. Só assim é que a promessa se torna realização: “Uma vez que não me recusaste teu único filho, eu te abençoarei largamente e tornarei tua descendência tão numerosa como as estrelas do céu e como a areia da praia... Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra, porque tu me obedeceste”.
 Fonte: CNBB

Do pior para o melhor

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)

A transfiguração continua a revelação da identidade de Jesus, iniciada no batismo no Rio Jordão. Jesus é o Filho amado de Deus, enviado para ser ouvido. É ele a Palavra, o Evangelho, a habitação de Deus. Nele encontraram sentido as Escrituras representadas por Moisés e Elias. Os três apóstolos, espectadores atônitos e medrosos diante da manifestação de Deus, vivem depois a doçura daquela experiência, mas devem continuar, descer para a planície, depois da antecipação da luz do Ressuscitado.

No contato com as pessoas, Jesus se revela mais humano do que todos os homens e mulheres que encontra, manifestando sensibilidade inigualável diante da alegria, os sofrimentos e todas as dores dos diversos grupos de pessoas. O resultado é que ninguém consegue ficar indiferente diante de sua presença. O episódio da Transfiguração expressa, visto do ângulo humano, a imensa delicadeza com os discípulos destinados anunciar o seu mistério.  Jesus leva à montanha os três, chamados a participar mais de perto de alguns acontecimentos decisivos, para revelar-lhes sua própria identidade. Começaram a entrar no mistério, para descer da montanha com novas disposições.
Subamos com Jesus e seus discípulos ao Tabor, para conhecer mais de seus segredos. Não desceremos diminuídos em nossas aspirações ou frustrados em nossos planos de realização humana. Se nos confrontarmos com o Senhor, nascerá em nós o maravilhoso dilema, conduzidos pelas mãos e o exemplo de Pedro, aquele afoito discípulo e apóstolo, para quem bastavam as três tendas, para Jesus, Moisés e Elias. Nem pensou em si ou em seus companheiros!
Para que o mistério se realize em nós, subamos à montanha para rezar. Isso quer dizer escolher como programa uma imensa vida de oração. E a Quaresma, tempo privilegiado em que nos encontramos, é ocasião propícia para crescer na intimidade com Deus. Se rezar é um dever, este nasce de dentro do coração, em quem se reconhece criatura amada profundamente por Deus. Basta um olhar pessoal trocado com o Senhor, no reconhecimento da obra prima que realizou ao nos criar e salvar, para que os joelhos da alma ou do corpo se dobrem, as mãos se elevem no louvor e na ação de graças ou as lágrimas de pecadores arrependidos se derramem. Quem reza se salva, quem reza contempla, quem reza melhora de vida como pessoa humana e como cristão.
Chegados ao Monte Tabor, a atenção do Senhor concedeu aos discípulos a presença de duas testemunhas, e que testemunhas! Nada menos do que a visão de Moisés e Elias. Aquele que é Senhor da Lei submete-se a ela, como se fossem juízes os pobres discípulos ali presentes. Não é diferente em nossa vida cristã. Basta verificar a história da Salvação, com a quantidade de homens e mulheres que a Escritura apresenta, pessoas que passaram por todas as provações imagináveis. E a história da Igreja? Para recordar apenas uma alegre notícia, há poucos dias o Papa reconheceu formalmente o martírio de Dom Oscar Romero, que será proximamente beatificado, um sinal precioso para a nossa geração. E sabendo ser grande a lista, somos mais privilegiados do que os apóstolos! Olhando em torno a nós, não serão poucas as outras testemunhas, homens e mulheres que gritam com a vida a verdade da fé em Cristo. "Portanto, com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição" (Hb 12, 1-2). As testemunhas, verdadeiras companhias qualificadas, nos fazem melhores!
O Cenário está preparado. Se somos companheiros de Jesus e de seus Apóstolos, não tenhamos medo de entrar na nuvem, nada menos do que a presença do Espírito Santo, muito mais efetiva do que as eventuais nuvens "eletrônicas" de nossos dias. É necessário, para ser melhores, o aprendizado da contemplação, um olhar apurado que não despreza os sinais deixados por Deus. Vale a pena exercitar, a esta altura da Quaresma, este olhar contemplativo, que vai além das aparências. Seremos melhores se formos mais serenos e atentos, acolhendo as muitas indicações que nos são oferecidas pelo Espírito Santo.
Agora, os discípulos de ontem e de hoje precisam ouvir! "Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: 'Rabi, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias' Na realidade, não sabia o que devia falar, pois eles estavam tomados de medo. Desceu, então, uma nuvem, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: 'Este é o meu Filho amado. Escutai-o!' E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém: só Jesus estava com eles" (Mc 9, 5-8). O discípulo aprende ao conviver com o mestre e ouvi-lo! Se vale para o  aprendizado das coisas humanas, o que dizer da escola de vida divina, oferecida pelo Senhor! E como para bom entendedor, meia palavra basta, a Palavra que sai da boca de Deus é fonte inesgotável para o aperfeiçoamento humano.
Da Transfiguração para cá, estando o Senhor entre nós, quando reunidos em seu nome, a mesma experiência se repete. Os olhos se abrem, os ouvidos apuram melhor o que escutam, a Trindade se revela. E os discípulos continuam a aventura proposta por Jesus, acolhendo a revelação do amor de Deus, que lhes mostra também o melhor que existe no coração humano. Descendo do Tabor para a planície do quotidiano, são chamados a anunciar e testemunhar o que apenas vislumbraram, mas experimentaram diretamente, quando o Senhor ressuscitou. Não cabe voltar atrás nem fugir das responsabilidades que lhes foram entregues, mas serão sempre missionários e missionárias, enfrentando todos os desafios que se apresentarem.
Onde lhes for dado estar presentes, os cristãos haverão de ser restauradores de ruínas! Onde houver pessimismo e derrotismo, anunciarão a vitória do bem e da verdade, pela força da Ressurreição de Cristo. Quando encontrarem pessoas destruídas pelos próprios pecados ou os pecados dos outros, saberão ser artistas, conduzidos pela luz do Espírito Santo, recompondo a unidade quebrada, permitindo que Deus faça dos cacos quebrados um bonito mosaico, obra de arte que só pode vir de seu amor infinito. Espalharão a semente do perdão, nascida do Pai das Misericórdias, convidando a todos para dele se aproximarem. Sua presença no mundo é testemunha de que o dia de hoje é sempre melhor do que ontem, e o amanhã se abre em horizonte de esperança.
Fonte: CNBB