quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Sal e Luz

Dom Caetano Ferrari
Diocese de Bauru, SP

A comunidade cristã deve notabilizar-se pela fé e a caridade. No trecho evangélico da Missa de hoje narrado por São Mateus - Mt 5, 13-16 - Jesus disse a seus discípulos: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo”. Essa declaração Jesus a fez logo depois de ter proclamado as “Bem-aventuranças às multidões que o seguiam, no discurso conhecido como o “Sermão da Montanha”. É por meio das obras da fé e da caridade que a Igreja, comunidade dos fiéis discípulos e missionários de Jesus Cristo, será sal bom que salga para valer e luz colocada em candeeiro bem no alto que brilha para iluminar a todos. Isaías na primeira leitura acentua as principais obras da caridade: pão aos famintos, veste aos nus, acolhida aos pobres e peregrinos, solidariedade aos indigentes e socorro aos necessitados. Estas boas obras farão nascer das trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. São Paulo na segunda leitura fala que a verdadeira obra da fé é anunciar Jesus Cristo, e este crucificado, não mediante discursos persuasivos segundo a sabedoria humana e com linguagem elevada, mas na simplicidade de quem nada sabe senão do conhecimento que tem de Jesus pelo poder do Espírito Santo, a fim de que a nossa fé se baseie no poder de Deus e não no dos homens. 
A Palavra de Deus, hoje, nos convida a ser sal da terra e luz do mundo mediante a nossa fé e a nossa caridade, a fim de que as pessoas vendo as nossas boas obras deem glória a Deus e se animem a fazer parte da nossa comunidade de Igreja. Ser sal da terra e luz do mundo, eis em linguagem figurada a vocação e a missão dos fiéis cristãos. 
A Igreja insiste em dizer que os discípulos missionários só poderão evangelizar com eficiência, isto é, serem “sal e luz”, se cumprirem algumas condições. Por exemplo, o Papa Paulo VI destacou como condição para todo evangelizador buscar e acolher a ação do Espírito Santo e dar o testemunho de vida como primeiro meio de evangelização. O Papa São João Paulo II, a atuação do Espírito Santo como protagonista da missão e a primazia da graça de Deus. O Papa Bento XVI, a santidade de vida dos agentes da evangelização que é imprescindível. E o Papa Francisco, que os evangelizadores sejam evangelizadores com Espírito, que rezem com coração orante e trabalhem com afinco.
Para que o anúncio do Evangelho no mundo atual como proposto pelo Papa Francisco na “Evangelii Gaudium” (A Alegria do Evangelho) em chave de “Igreja em saída” seja realizado, há que se ter presente o que o Catecismo da Igreja Católica fala sobre a fé em relação aos fiéis em geral, mas que notadamente os evangelizadores precisam expressá-la com precisão, isto é, “como fé professada, fé celebrada e fé vivida”. Só a partir desta base é que encontrarão credibilidade e a sua pregação agradará a Deus e tocará o coração e a mente das pessoas. É deste modo, com os pressupostos e as recomendações feitas pelos Papas, que a Igreja vem convidando os discípulos missionários à conversão pastoral. O Documento de Aparecida aprovado pela Assembleia dos Bispos da América Latina e do Caribe convida nossas comunidades de Igreja a repensar, renovar e relançar a missão. Afirma que a Igreja para crescer pela atração precisa passar por uma forte comoção, “um choque eclesial”. Aparecida cobra de todos os batizados que assumam a sua condição identitária de discípulos missionários, convertam-se do comodismo e apatia, engajem-se com a sua paróquia ou comunidade na missão corpo a corpo, de casa em casa, de comunidade em comunidade, com muita criatividade e imaginação, com decisão e valentia. A conversão pastoral que Aparecida propõe deve ao menos levar a estas quatro renovações necessárias na Igreja hoje: eclesial, pastoral, espiritual e institucional. Mas, repetindo, não se há de se renovar a Igreja se cada cristão e todos em conjunto não se esforçarem individual e comunitariamente no trabalho da sua conversão pessoal. Por isso, Aparecida apresenta dez pontos chaves que esclarecem como deve ser o discípulo de Jesus. Cito-os sem comentários por falta de espaço: realizar um encontro vivo com Jesus, ter fascinação por Jesus, viver o seguimento de Jesus, assumir o estilo de vida de Jesus, anunciar Jesus aos outros, inserir-se na vida da comunidade de Igreja, aprofundar a formação na fé, assumir compromisso em transformar a sociedade, ser discípulo missionário apaixonado por Jesus, ser discípulo missionário a serviço da vida. Tudo isso pode ser lido e aprofundado na segunda parte do Documento de Aparecida.
Converter-se é, então, virar a vida para Jesus Cristo, encantar-se e ficar apaixonado por Ele, ser tomado por uma experiência indizível que vira a vida, muda tudo, sentir a presença ao mesmo tempo assustadora e maravilhosa da presença de Deus, ser invadido de um sentimento de maravilhamento diante do mundo, do céu e da terra, da natureza, das pessoas, de um sentimento de comunhão vital com todas as criaturas e de gratidão ao bom Deus, Criador de todas as coisas. Experiência de maravilhamento teve-a, por exemplo, São Francisco de Assis. Belíssimo o seu “Cântico das Criaturas”, que começa assim: “Altíssimo, Oniponte e Bom Senhor, a Vós, o louvor, a honra, o poder e a glória... Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, o irmão Sol, a irmã Lua e as Estrelas...” E termina, com este convite: “Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-Lhe graças, e servi-O com grande humildade”.
Fonte: CNBB

Nenhum comentário:

Postar um comentário