quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Instabilidade e insegurança

Dom Genival Saraiva
Administrador Apostólico da arquidiocese da Paraíba


A população brasileira está conhecendo o fenômeno da instabilidade social, de modo intenso e prolongado, e, como consequência, experimenta a insegurança, no seu dia a dia, de modo amplo e diversificado. Sob o prisma da cidadania, a instabilidade social não é condizente com o direito do indivíduo e da coletividade à expectativa de normalidade na sua vida; sob o aspecto institucional, a insegurança social é incompatível com a natureza do Estado democrático que deve assegurar à população a segurança em todos os sentidos. Todos compreendem que “a insegurança prende-se com a falta ou ausência de segurança. Esse conceito, que deriva do termo latim ‘securĭtas’, refere-se aquilo que está livre de perigo, de danos ou de riscos, ou ainda aquilo que é certo, firme e que não dá margem para dúvidas”.
Instabilidade e insegurança são realidades muito presentes na vida das pessoas e da população. Com efeito, há uma correlação muito estreita entre instabilidade e insegurança quando conceitualmente consideradas e quando lidas como experiência concreta. O cidadão comum, que tem uma compreensão pragmática da realidade, e o estudioso, interessado na etiologia (origem, causa) desse fenômeno, chegam a conclusões semelhantes, por caminhos diferentes. O que está acontecendo no Brasil, em relação à instabilidade e insegurança sociais, é objeto de conversa entre pessoas de todas as categorias, na parada do ônibus, na sala de espera dos consultórios, nas salas de aula, em todo lugar. Porventura, há alguém que não presenciou isso ou não participou, de alguma forma, da discussão desse assunto?
A crise social e política, hoje muito visível no Brasil, está ligada, diretamente, a muitos fatos que chegam ao conhecimento da população pelos meios de comunicação e nos cenários que têm as pessoas diante de seus olhos, onde vivem ou onde transitam, cotidianamente ou ocasionalmente.
A leitura desse estado de coisas passa por uma análise sistêmica. Com efeito, a realidade social configura-se como um sistema aberto, com múltiplos elementos que interagem, exercendo e recebendo influência de toda ordem. O que está acontecendo nos presídios, nas ruas, nos quarteis e em outros lugares tem uma correlação. As tensões no trabalho, em razão do perigo a que estão expostos, inclusive com a previsibilidade de viuvez e orfandade dentro de casa, os baixos salários e as precárias condições de trabalho dos policiais não estão na raiz da crise que atinge essa categoria profissional? Sempre houve violência num País com grandes desigualdades sociais. Os crescentes índices de violência social, também registrada no meio rural, estão relacionados com o problema do desemprego que, conforme as estatísticas, afetam mais de 11 milhões de pessoas. O retrato dos presídios no Brasil não fala por si, em se tratando de violência?
A corrupção desviou bilhões de reais que deveriam ser aplicados em programas voltados para o bem da sociedade - escolas, hospitais, estradas, segurança pública, saneamento básico. Portanto, a crise econômica e a corrupção do mundo político e empresarial estão na origem de muitos problemas, como a instabilidade e a insegurança social. Na verdade, muitos dos problemas enfrentados, hoje, pela população, têm um registro de muitos anos na história dos municípios e estados brasileiros. Sucedem-se governantes, alternam-se partidos no poder e, via de regra, não há uma linha de continuidade em políticas públicas que devem ser consideradas prioritárias, quando se olha a dimensão de bem comum.
Na realidade social, nada é fruto do acaso. Se há problemas, há causas. Se há problemas, há soluções. Por certo, muitas soluções não são viabilizadas porque não há decisão política, porque a participação da sociedade não acontece, na forma e no nível esperados.
 Fonte: CNBB

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