Dom Genival Saraiva
Bispo emérito de Palmares (PE)
No campo da violência social, muitos casos, como assaltos, latrocínios, brigas de torcidas organizadas, por fazerem parte da crônica cotidiana, já nem chegam a chamar a atenção da população, embora sejam mais ou menos chocantes, conforme a sua natureza. A crônica internacional e a nacional registraram quatro casos que se caracterizam como chocantes porque envolveram três crianças e um adolescente vulnerável. A crônica internacional registrou dois casos. O primeiro: um bebê foi encontrado morto no mar, em consequência do naufrágio do barco em que viajava com seus pais que fugiam de seu país, em busca de liberdade na Europa; o segundo: um garoto japonês, com 7 anos, foi abandonado pelos pais numa floresta, “habitada por ursos selvagens”. A crônica nacional registrou o terceiro caso chocante: um menino de 10 anos, acompanhado de outro menor, foi morto por policiais, dirigindo um carro roubado e portando arma de fogo; o quarto caso tem como vítima um adolescente vulnerável (“retardo mental”) e foi molestado, sexualmente, por um sacerdote católico.
Cada caso tem sua linguagem. “O corpo do bebê, que não parece ter mais de 1 ano, foi retirado do mar na sexta-feira depois do naufrágio de um barco de madeira.” O socorrista alemão que resgatou o corpo do bebê nas águas do Mediterrâneo “disse ter visto o bebê na água ‘como um boneco, com os braços esticados’.” Dentre os milhares de migrantes que fogem de guerras, perseguições e misérias, em seus países de origem, muitos não conseguem chegar ao porto de destino porque os barcos em que viajam são extremamente frágeis. Estamos diante de um quadro de injustiça que tem vertentes sociais, políticas e religiosas; muitos destes que foram tragados pelas águas do mar já eram considerados “mortos vivos”. O garoto japonês foi vítima da insensatez de seus pais que, como castigo por peraltices próprias da idade, o deixaram na floresta. Ao encontrar o filho, “o pai lhe pediu desculpas”. Disse-lhe o garoto: “você é um bom pai. Eu te perdoo.” Na educação familiar, há sempre lugar para a correção paterna e materna; o castigo, qualquer que seja a sua forma, não educa, provoca confrontação e gera contestação. Esse é o registro do terceiro caso: “A Polícia Militar matou uma criança suspeita de furtar um carro durante um confronto na noite de quinta-feira no Morumbi, bairro nobre da zona Sul de São Paulo.
O menino, de 10 anos, estava dirigindo o carro, foi baleado e morreu na hora. Um outro garoto de 11 anos que estava com ele dentro do carro (no banco de trás) foi detido, sem oferecer qualquer resistência, segundo os policiais.” Espera-se que inquérito em curso retrate a realidade. De qualquer maneira, é chocante o fato de ser morta uma criança na mesma forma como são perigosos assaltantes. Essas crianças são vítimas do desajustamento familiar, mal que está na origem desse caso: “É algo que deve nos envergonhar enquanto sociedade. A partir do momento em que temos crianças tão novas possivelmente envolvidas em crimes precisamos refletir qual o nosso papel e nossa omissão. Mostra total falência do sistema de proteção social de crianças e adolescentes do país.” O quarto caso envolve uma pessoa vulnerável. “Vulnerável é algo ou alguém que está suscetível a ser ferido, ofendido ou tocado. Vulnerável significa uma pessoa frágil e incapaz de algum ato. O termo é geralmente atribuído a mulheres, crianças e idosos, que possuem maior fragilidade perante outros grupos da sociedade.” Este caso é muito grave porque, além de crime – pedofilia – é um pecado praticado por um sacerdote católico. Recente Decreto do Papa Francisco trata da aplicação de pena de remoção de um bispo de sua Diocese, em caso de negligência “no exercício do seu ofício, em particular no que se refere aos casos de abusos sexuais cometidos contra menores e adultos vulneráveis”. O Arcebispo de Uberaba-MG já aplica a esse caso o que dispõe o Motu próprio do Papa Francisco “Qual mãe amorosa”.
Haverá, porventura, alguém que não considere chocantes esses casos que têm pessoas frágeis como vítimas?
Fonte: CNBB
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