quarta-feira, 27 de abril de 2016

Carga maior

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

No início da comunidade cristã alguns queriam impor uma cultura judaica incluída na evangelização aos não judeus, como a exigência da circuncisão. Paulo e Barnabé foram conversar com os apóstolos em Jerusalém para tratar da questão. Ficou esclarecido que os gentios ou não judeus não deveriam ter um peso de exigências maior do que o conteúdo do Evangelho (Cf. Atos 15,1-29). De fato, evangelização não é imposição de dados culturais a outros de culturas diferentes. É sim, apresentação da verdade e dos valores apresentados por Jesus, ajudando as pessoas, em suas culturas, a clarear e acrescentar a novidade da Boa-nova dele para a salvação de todos. Valores estritamente culturais devem ser distinguidos da proposta do Senhor e não impostos como se fossem confundidos com este enunciado.
Até dentro da comunidade pode haver pessoas que assumem postura de querer aplicar costumes de culturas vividas anteriormente até na prática litúrgica de hoje, como se fossem verdades de fé a serem seguidas sempre por todos. Por isso, é preciso haver bom senso, humildade e obediência ao que é assumido e ensinado pelas autoridades competentes, fruto do seguimento e da interpretação adequada da natureza criada por Deus, das Sagradas Escrituras, dos Concílios e outras instâncias eclesiais.  Caso contrário, pode haver o autoritarismo de alguns que, desobedientes, se julgam com poder acima das legítimas autoridades. Alguns usam até da mídia para espalhar e querer impor suas idéias, com sofismas e más interpretações das orientações oficiais. Muitas vezes arrastam pessoas acríticas e de boa fé, para seguirem suas opiniões divergentes das legítimas autoridades.
O moralismo, ou atitude de impor autoritariamente condenações por atitudes interpretadas ao pé da letra sobre determinadas normas, faz aumentar a carga de dor na consciência de quem é frágil por não conhecer ou não experimentar o ideal de amor e da misericórdia divina. A linguagem de se interpretar tudo como pecado ou mal moral pode tirar a pessoa fragilizada do caminho da bondade de Deus. O Senhor é como o pai do filho pródigo, muito mais interessado na conversão e no bem do filho do que em ter atitude de desprezo e de condenação ou vingança.
Jesus veio para nos libertar de todo o mal. Ele nos mostra o caminho que leva à vida, à paz, à justiça misericordiosa. É o bom pastor, que vai atrás da ovelha perdida. Até do alto da cruz pede ao Pai o perdão para todos, desculpando a todos que o colocaram na cruz. Estamos todos incluídos nesse seu pedido ao Pai, felizmente! Mesmo assim, há quem parece só ver a maldade nos outros, condenando a todos! Até por pequenas falhas e mesmo por interpretações errôneas de sua parte! Procuram espalhar os julgados erros dos outros pela internet e outros meios. Quanta divisão e discórdia, até por pequenas coisas, como o uso de uma roupa, ou por não se usar um véu!
A alegria de se seguir a Cristo faz a pessoa ajudar os outros a também segui-Lo, ao invés de ficar criticando os outros, e até as autoridades, por questões de menos importância e que fazem do crítico pessoa de cara amarrada e cheia de azedume: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo14,23). Quem aceita ser morada de Jesus ajuda os outros a se erguerem e não o contrário! Ajuda os outros a carregarem o próprio fardo ao invés de aumentar o mesmo!
FonteCNBB

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