Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Sobre a questão de quem é a terra, há respostas ou afirmações teóricas e práticas. Em relação ao sentido de posse há os que detêm muita terra e outros nada. Uma vez perguntei a um amigo, que tinha 20 fazendas: “Para que tanta fazenda?”. Ele me respondeu que era para mostrar que tinha mais do que os outros! Parece-me que depois ele morreu e as fazendas ficaram, em sua maioria, sem uso adequado e só para a briga dos herdeiros!
No colóquio de Deus com Abraão, ficou acertado que este deveria ir para outro lugar. O homem de Deus queria saber se a nova terra, que o Senhor lhe estava dando, seria realmente de sua posse. A aliança de Deus com seu servo humano foi selada no compromisso de lhe dar a terra (Cf. Gênesis 15,5-18). A posse da área terrena significa o senhorio sobre ela, obedecendo a Deus. Ele quer que todo ser humano viva na terra para dela cuidar e aí tirar seu sustento sem degradá-la. Mas o sustento não significa em pensar só em si. Os pobres, os sem terra, os estrangeiros, os desvalidos e os desterrados têm direito ao uso da terra para viver dignamente. Quem tem demais não é dono. Precisa viver com solidariedade, justiça e amor em relação ao semelhante, que não tem a oportunidade de herdar, comprar, possuir e agregar para si muitos bens. A hipoteca ou o compromisso social com o semelhante está na base da propriedade, como lembrou o Papa S. João Paulo II na conferência de Puebla, México.
Nesta Campanha da Fraternidade estamos nos preparando para a celebração da Páscoa com os olhos voltados para o Filho de Deus. A superação da morte se dá quando nos convertemos para tirar de nós todo mecanismo de morte. O uso da casa comum do planeta não pode beneficiar somente a privilegiados, que detêm a maior parte da riqueza da terra, com atitude de egoísmo, que não os deixa ser humanos com os que sofrem e não têm vida digna. O tema da Campanha lembra nossa responsabilidade com a casa comum. Ela deve abrigar a todos, que precisam ser tratados como irmãos, dentro da justiça misericordiosa trazida pelo Filho de Deus. Ninguém é dono dos recursos do planeta. Todos são usuários e devem prestar conta ao dono, que é o Criador. Proteger o planeta, o meio ambiente e quem mora nele é fundamental para o benefício de todos. A poluição, a degradação ambiental, o arruinamento das águas e da terra, dos vegetais, dos animais e do ser humano não é perdoado. Assim é quem não se converte e não promove a vida adequada para todos. Lutar por políticas públicas, que cuidem da infra-estrutura e o saneamento básico, é indispensável por parte de todos. Jesus veio nos dar vida e ensinar como promovê-la de qualidade física, moral e espiritual para todos!
Paulo lembra que muitos vivem como inimigos da cruz de Cristo, por pensarem só no próprio estômago e não nos valores de promoção da legítima cidadania para todos, marcados com a cidadania de perspectiva celeste (Cf. Filipenses 3,17-4,1). De fato, quem pensa só no bem estar temporal, sem viver de acordo com os valores éticos, morais e religiosos, está fadado a ser materialista e não valorizar o que é indicado por Deus.
Na transfiguração do monte Tabor Jesus mostrou para alguns apóstolos sua divindade, com seu poder de dar vida plena a todos. Antes, porém, de ir para a glória definitiva, passaria pelo crivo do humano, com sofrimento, perseguição e morte na cruz, e depois mostraria, com a ressurreição, a vitória sobre a morte (Cf. Lucas 9,28-36). O mesmo acontece para quem quer seguir o caminho que leva à vitória na vida. Precisamos viver na fraternidade, embora isso exija que demos de nós pelo bem do outro e do cuidado com a vida do planeta!
A Páscoa está aí para nos dar a certeza de seguir quem tem condição de nos dar a recompensa pelo bem que, nesta vida, fazemos para todos!
Fonte: CNBB
Fonte: CNBB
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