domingo, 28 de fevereiro de 2016

Novas Oportunidades

Dom Caetano Ferrari
                                                                     Bispo de Bauru


A parábola da figueira estéril ou parasita, que suga o húmus da terra e nada produz, contada por Jesus, segundo o relato feito por São Lucas no trecho lido na Missa de hoje - Lc 13, 1-9 - é uma história da paciência de Deus que dá novas oportunidades na esperança de que as pessoas se convertam. Essas pessoas são a multidão dos judeus que ainda não entendiam os sinais dos fatos presentes, não sabiam compreender a vinda de Jesus, sua presença no meio deles, a chegada do Reino de Deus. Por isso, estavam a rejeitar Jesus, progressivamente, pois Jesus subia a Jerusalém para morrer. Esse povo era realmente de cabeça dura, não mudaram em nada em sua antiga fé e no modo de vivê-la, mas persistiam nas velhas crenças e práticas. Assim sendo, estavam a choramingar a morte de Judas, o Galileu, e de seus companheiros no entrevero que tiveram com a polícia de Pilatos. Jesus disse a essas pessoas que era também inútil chorar a morte daquelas 18 vítimas do desabamento de uma torre em construção no bairro de Siloé. Elas continuavam a acreditar que essas vítimas de morte violenta estavam a pagar por pecados pessoais próprios, como um castigo divino de vingança pelos erros e pecados que elas mesmas teriam cometido. Jesus estava percebendo que a sua pregação, que Ele começou dizendo - “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15) - estava sendo infrutífera. Essa multidão de judeus da Galiléia e de Jerusalém, sobretudo seus líderes religiosos e políticos, não se convertiam nem davam a entender que quisessem se converter, ao contrário,continuavam hipócritas e cegos que estão a rejeitar a Jesus, recusando a salvação que Ele, em nome do Pai, veio lhes trazer. Então, Jesus disse: “se vós não vos converterdes, ireis todos morrer do mesmo modo”, isto é, de morte violenta igual à daqueles galileus. Eram como a figueira da parábola, estéril e parasita. Assim como seria melhor cortar a árvore já, para não continuar ocupando e sugando a terra em vão, melhor seria também que tivessem a morte já, porque do modo como se comportam não passam igualmente de parasitas. No entanto, Deus está a lhes dar novas oportunidades, acrescentando-lhes os cuidados da sua graça e bênção, na esperança de produzirem dignos frutos de conversão e de bem, à semelhança da nova chance que o dono da vinha dá à figueira, mandando cavar em roda e pôr adubo, confiando que para o ano ela venha a produzir os frutos esperados. 
Figueira e vinha são imagens muito usadas na Bíblia. Particularmente os profetas usavam as imagens da vinha e da figueira ora para ressaltar que elas são símbolos da prosperidade, paz e tranquilidade da nação e da fartura de bens para o povo, ora para afirmar que elas são o próprio povo e que Deus é o seu proprietário, que dele cuida com todo o desvelo como o agricultor delas cuida com zelo. 
A mensagem evangélica da Liturgia de hoje também nos questiona com toda crueza e dureza: Somos uma videira estéril, uma figueira parasita? O que somos e o que desejamos ser? A Quaresma é tempo de conversão e mudança de direção e de vida. Com toda a paciência de pai e mãe, Deus está a nos dar novas oportunidades e a derramar sobre nós graças e bênçãos, como adubos da melhor qualidade, confiando que venhamos, enfim, a produzir frutos de arrependimento, de bens espirituais em relação a Deus, que nos divinizam, e materiais em relação aos outros, especialmente, àqueles que voltam seus rostos feridos e aflitos, esperando de nós o calor da proximidade e o gesto da misericórdia, que nos humanizam.   
Será que, hoje, Deus se queixaria de nós como, outrora, pela boca de profetas se queixou de seu povo, e os ordenou a vaticinar contra o povo com severas advertências? “Que se poderia fazer por minha vinha, que eu não tenha feito? Por que, quando eu esperava vê-la produzir uvas, ela não deu senão uvas verdes?... Esperei deles a prática da justiça e eis o sangue derramado; esperei a retidão, e eis os gritos de socorro” (Is 5,4-7).  
 “Vou reuni-los todos e os suprimirei, oráculo do Senhor. Não ficará uma só uva na vinha, nem figo na figueira. Todas as folhas murcharão”..., porque pecamos contra Javé (Jr 8,13-14). “A vinha secou, a figueira murchou; a romãzeira, a palmeira, a macieira, todas as árvores definham; a alegria, envergonhada, foi para longe dos homens” (Jl 1,12).
O mesmo profeta Joel, profeta quaresmal, se dirige a nós, mais uma vez trazendo como oráculo do Senhor, um convite especial de Deus para nós nesta Quaresma: “Agora, portanto, oráculo do Senhor, retornai a mim de todo vosso coração, com jejum, com lágrimas e gritos de luto. Rasgai os vossos corações, e não as vossas roupas, retornai a Javé, vosso Deus, porque Ele é bondoso e misericordioso, lento para a ira e cheio de amor, e se compadece da desgraça”. (Jl 2, 12-13). 
Que o Senhor nos conceda a graça da conversão quaresmal e de possuirmos um coração misericordioso e compassivo como o de Jesus. 
 Fonte: CNBB

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