Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)
Há poucos dias, o simpático Papa
Francisco comunicou à Igreja e ao mundo que daria aos padres o poder de
perdoar o pecado de aborto, durante o Ano da Misericórdia. A notícia
despertou interpretações variadas, sobretudo nos meios extra-eclesiais. É
preciso saber, e é louvável, o significado deste bonito gesto do Papa
Francisco. Seu gesto revela a sensibilidade para com o pecador que
deseja se libertar do mal cometido. Usando de suas faculdades próprias,
desejou manifestar sua grande preocupação com a pessoa humana, passível
de erro, sujeita a fragilidades e a pecados, mas capaz de arrependimento
e de conversão. Trata-se de um gesto de suprema bondade e decidida
disposição para o amor ao próximo e amor a Deus, manifestada pelo
Pontifice
Quando o Papa determinou que o ano de
2016, a partir de 8 de dezembro de 2015, até o domingo de Cristo Rei do
ano vindouro, fosse Ano da Misericórdia, quis, mais uma vez, em nome da
Igreja, apresentar à humanidade o rosto misericordioso de Jesus Cristo,
que foi capaz de dar a sua vida pela salvação dos pecadores. Ao escrever
a bula de convocação deste referido Ano, Misericordiae Vultus, o Santo
Padre convoca a todos, indistintamente, para a conversão e para
confiança na suprema bondade de Deus. Muitos grupos são enumerados na
referida bula, como pessoas que devem ser motivadas a mudar de vida,
tendo, da parte dos sacerdotes, decidida atenção, para que se libertem
de seu pecado e iniciem uma nova vida, livre das garras do mal. Para
isso, o Papa determinou que em todas as catedrais e em outras igrejas à
critério dos bispos, haja uma ‘porta santa’, à semelhança das portas
santas que existem em Roma, para ser sinal da passagem da vida de pecado
para a vida da graça.
É neste contexto que o Papa proclama
esta convocação dos padres para que se disponham, mais do que já fazem,
ao máximo atendimento de confissões, concedendo a absolvição e o perdão a
quem sinceramente esteja arrependido e disposto a assumir nova fase na
sua fé cristã.
Assim também com o pecado do
abortamento. Na verdade, este pecado que, pela sua extrema gravidade,
causa a excomunhão eclesial, depende da ação própria dos bispos para a
devida reintegração à Igreja. Porém, por graça de favor do Sucessor de
Pedro, durante aquele ano, estão os sacerdotes autorizados a perdoar tal
pecado, reintegrando o fiel na vida da Igreja.
Para esclarecimento, citemos o trecho da
carta do Papa Francisco ao Cardeal Fischela: Um dos graves problemas do
nosso tempo é certamente a alterada relação com a vida. Uma mentalidade
muito difundida já fez perder a necessária sensibilidade pessoal e
social pelo acolhimento de uma nova vida. O drama do aborto é vivido por
alguns com uma consciência superficial, quase sem se dar conta do
gravíssimo mal que um gesto semelhante comporta. Muitos outros, ao
contrário, mesmo vivendo este momento como uma derrota, julgam que não
têm outro caminho a percorrer. Penso, de maneira particular, em todas as
mulheres que recorreram ao aborto. Conheço bem os condicionamentos que
as levaram a tomar esta decisão. Sei que é um drama existencial e moral.
Encontrei muitas mulheres que traziam no seu coração a cicatriz causada
por esta escolha sofrida e dolorosa. O que aconteceu é profundamente
injusto; contudo, só a sua verdadeira compreensão pode impedir que se
perca a esperança. O perdão de Deus não pode ser negado a quem quer que
esteja arrependido, sobretudo quando com coração sincero se aproxima do
Sacramento da Confissão para obter a reconciliação com o Pai. Também por
este motivo, não obstante qualquer disposição em contrário, decidi
conceder a todos os sacerdotes para o Ano Jubilar a faculdade de
absolver do pecado de aborto quantos o cometeram e, arrependidos de
coração, pedirem que lhes seja perdoado. Os sacerdotes se preparem para
esta grande tarefa sabendo conjugar palavras de acolhimento.
O Ano da Misericórdia seja oportuno para
todos nós, também chamados à conversão na prática da caridade para com
os que sofrem por pecados graves cometidos, mas que estejam sinceramente
arrependidos e dispostos a não mais cometê-los.
Mais uma vez se pode contemplar a conhecida máxima de Santo Agostinho: “Detestar o pecado, mas amar o pecador”.
Deus é rico em misericórdia!
Fonte: CNBB
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