Dom Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião (RJ)
Estamos no mês de setembro, Mês da
Bíblia, que para nós, no hemisfério sul, é também o mês em que se inicia
a Primavera. Embora nem sempre percebamos com clareza as estações do
ano devido à diversidade das situações climáticas do país, as primeiras
chuvas que começam a cair em nossa região, depois de uma longa estiagem,
dão uma esperança de vida que renasce. Aliás, foi exatamente esse o
clima da Páscoa celebrada no hemisfério norte, no tempo primaveril. Para
nós é também a época em que comemoramos o Dia da Árvore, recordando a
nossa responsabilidade para com a criação. Logo no início de outubro,
dentro da mesma estação do ano, no dia de São Francisco de Assis
aprofundaremos ainda mais a preocupação com a criação, aprendendo do
“santo da ecologia”.
Para nós que vivemos em época do Papa
Francisco, que publicou a primeira carta encíclica sobre o cuidado da
criação – a “Laudato Si’” –, é uma grande responsabilidade como
cristãos.
No próximo domingo, dia 20 de setembro,
precedendo o início da Primavera e o Dia da Árvore, a Arquidiocese do
Rio promoverá um plantio de árvores em paróquias de todos os oito
vicariatos, iniciando uma série de plantios durante os próximos meses,
coincidindo com o final do Ano da Esperança e início do Ano do Jubileu
da Misericórdia. Entre tantas atividades, escolhemos esta que nos ajuda a
educar e contribui com a nossa casa comum.
Iniciamos o mês, no dia 1º de setembro,
celebrando o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. A data foi
instituída pelo Papa Francisco e tem um sentido ecumênico, já que a
mesma é também comemorada pela Igreja Ortodoxa.
Com todas estas iniciativas, o Santo
Padre pretende que se ofereça aos fiéis e às comunidades a oportunidade
de “renovarem a adesão pessoal à vocação de protetores da criação”,
“elevando a Deus o agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou
ao nosso cuidado”.
“Como cristãos, queremos oferecer a
nossa contribuição à superação da crise ecológica que a humanidade está a
viver. Por isto devemos, antes de tudo, procurar no nosso rico
patrimônio espiritual as motivações que alimentam a paixão pelo cuidado
da criação, recordando sempre os que creem em Jesus Cristo, Verbo de
Deus que se fez homem por nós”, explica o Pontífice.
O Papa Francisco alerta que a “crise
ecológica” impele a uma “profunda conversão espiritual” e frisa que os
cristãos são chamados a uma “conversão ecológica que comporta deixar
emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências
do encontro com Jesus”, citando a encíclica Laudato Sí’ (217).
De fato, viver a vocação de guardiões da
obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da
experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa.
O Papa Francisco recorda que vivemos em
um tempo em que todos os cristãos enfrentam idênticos e importantes
desafios, aos quais, para resultarem mais críveis e eficazes, devemos
dar respostas comuns. Por isso, convido a todos para, a iniciar pela
Primavera de 2015, ano da Laudato Si’, dar um testemunho concreto com o
cuidado da “nossa casa comum”, com o plantio de árvores em toda a nossa
grande cidade, que mesmo tendo a maior floresta urbana do mundo,
necessita, em muitos lugares, de uma arborização que humanize ainda mais
nossa bela metrópole. A Igreja assim contribui também com esta missão
que é de todos nós. Dando passos simples, mas concretos, temos certeza
de que a experiência pascal da morte e ressurreição de Cristo nos fará
comprometidos, da mesma forma, com o planeta que habitamos, para que
também ele experimente que pode renascer com o cuidado que os homens
passam a ter com a natureza.
Concluo com a Oração Cristã com a
Criação, presente na encíclica Laudato Sí’: “Nós Vos louvamos, Pai, com
todas as vossas criaturas que saíram da vossa mão poderosa. São vossas e
estão repletas da vossa presença e da vossa ternura. Louvado sejais!
Filho de Deus, Jesus, por Vós foram criadas todas as coisas. Fostes
formado no seio materno de Maria, fizestes-Vos parte desta terra, e
contemplastes este mundo com olhos humanos. Hoje estais vivo em cada
criatura com a vossa glória de ressuscitado. Louvado sejais! Espírito
Santo, que, com a vossa luz, guiais este mundo para o amor do Pai e
acompanhais o gemido da criação, Vós viveis também nos nossos corações a
fim de nos impelir para o bem. Louvado sejais! Senhor Deus, Uno e
Trino, comunidade estupenda de amor infinito, ensinai-nos a
contemplar-Vos na beleza do universo, onde tudo nos fala de Vós.
Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão por cada ser que criastes.
Dai-nos a graça de nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe.
Deus de amor, mostrai-nos o nosso lugar neste mundo como instrumentos
do vosso carinho por todos os seres desta terra, porque nem um deles
sequer é esquecido por Vós. Iluminai os donos do poder e do dinheiro
para que não caiam no pecado da indiferença, amem o bem comum, promovam
os fracos, e cuidem deste mundo que habitamos. Os pobres e a Terra estão
bradando: Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz, para
proteger cada vida, para preparar um futuro melhor, para que venha o
vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza. Louvado sejais! Amém”.
E de nossa parte, damos graças a Deus e
dizemos: em tudo dai graças a Deus pela sua obra criada em favor dos
homens e das mulheres.
Fonte: CNBB
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