terça-feira, 30 de junho de 2015

Bispo comenta conflito entre indígenas e fazendeiros


Reprodução/CIMI
O bispo de Dourados (MS), dom Redovino Rizzardo, divulgou nota, no último sábado,  27, sobre os conflitos entre indígenas e fazendeiros dentro da circunscrição diocesana, no Mato Grosso do Sul. “Pela enésima vez, o território da diocese de Dourados se tornou palco de enfrentamentos entre indígenas e agricultores, revelando o descaso e a desumanidade do Poder Executivo e Judiciário ante uma situação de injustiça que a todos preocupa e prejudica”, diz o bispo.
 Na quarta-feira, 24, uma comunidade Guarani e Kaiowá foi atacada por fazendeiros, que chegaram ao local em que os indígenas estavam acampados efetuando disparos com armas de fogo. A ocupação dos índios teve início na segunda-feira, 22, e é uma retomada de área tradicional, onde está instalada uma fazenda.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o ataque ocorreu porque a Polícia Federal não cumpriu o acordo intermediado pelo Ministério Público Federal (MPF) que previa o acompanhamento de policiais aos fazendeiros que iriam retirar os pertences da fazenda. Diante da situação, o objetivo era expulsar os índios do local.
Durante a ação dos fazendeiros, que também atearam fogo no acampamento, dois adolescentes indígenas desapareceram. Os Guarani e Kaiowá não descartam a hipótese das crianças terem sido sequestradas.
Dom Redovino, em seu texto, lamenta a insuficiência das ações do Estado para a solução dos impasses entre índios e fazendeiros. Ao mesmo tempo, o bispo pede aos dois grupos para que “unam suas forças para pressionar as autoridades civis e judiciárias, no intuito de obter a tão almejada paz para todos, alicerçada na justiça”.
Leia o texto na íntegra: 

Bispo de Dourados se manifesta sobre os conflitos entre agricultores e indígenas na Diocese
Pela enésima vez, o território da Diocese de Dourados se tornou palco de enfrentamentos entre indígenas e agricultores, revelando o descaso e a desumanidade do Poder Executivo e Judiciário ante uma situação de injustiça que a todos preocupa e prejudica.
Nesses 15 anos desde que assumi o serviço pastoral na Diocese de Dourados, habitada por uma população de 35.000 índios confinados em aldeias incapazes de os sustentar, e por igual ou superior número de agricultores que adquiriram legalmente suas propriedades e delas precisam para viver, foram inúmeras as vezes em que os Bispos do Mato Grosso do Sul unimos nossas vozes aos que apresentam como solução viável e aceita por ambas as partes, a compra de terras pelo Governo Federal, para oferecê-las aos indígenas para que delas tirem o seu sustento.
Infelizmente, ao longo destes anos, as promessas feitas pelo Governo Central para encontrar uma saída para a “questão indígena”, não saíram do papel. Os grupos de trabalho organizados para ajudar na solução, não funcionaram. E as tímidas tentativas feitas para indenizar os proprietários de boa fé que adquiriram suas terras, foram abortadas pela Justiça local. Numa palavra, o Estado parece não ter a menor intenção de agir.
De nossa parte, os Bispos do Mato Grosso do Sul, se jamais nos posicionamos a favor das “retomadas” de propriedades privadas (que para a lei e os agricultores são “invasões”), da mesma forma sempre nos posicionamos contra o uso da força e da violência perpetrada pelos mais fortes contra os mais fracos.
Pedimos aos agricultores e indígenas cristãos que, sustentados e irmanados pela solidariedade, unam suas forças para pressionar as autoridades civis e judiciárias, no intuito de obter a tão almejada paz para todos, alicerçada na justiça. Pensamos que, nessa tarefa, lhes é de grande ajuda a exortação do Papa Francisco, contida em sua Encíclica: “A Alegria do Evangelho”, de 24 de novembro de 2013:
«Ninguém nos pode exigir que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos. Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela. Amamos este magnífico planeta, onde Deus nos colocou, e amamos a humanidade que o habita, com todos os seus dramas e cansaços, com os seus anseios e esperanças, com os seus valores e fragilidades. A terra é a nossa casa comum, e todos somos irmãos».

Dourados, 27 de junho de 2015

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo diocesano de Dourados

Fonte: CNBB

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