sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O sentido da Quaresma em São Leão Magno a partir de algumas de suas homilias

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

Introdução
A quaresma é um tempo privilegiado para a nossa conversão pessoal e pastoral. Somos convidados a fazer práticas de caridade, ajudando pessoas mais necessitadas que nós, práticas de oração, voltando-nos mais para Deus e o seu Reino, práticas de jejum, preparando-nos com a vida para a Páscoa do Senhor Jesus.
Leão Magno foi Papa da Igreja católica de 440 a 461. Ele atuou de uma forma decisiva num período difícil na sociedade do Império romano aonde teve que defender o povo diante das ameaças de invasão de outros povos, sobretudo ao povo de Roma, e além disso ele enfrentou a heresia monofisita, que negava a humanidade do Verbo de Deus. Em seu tempo ocorreu o Concílio de Calcedônia, que definiu as duas naturezas do Senhor, a sua humanidade e a sua divindade na única Pessoa do Verbo de Deus Encarnado. Ele também falou sobre a quaresma, o seu sentido, o jejum e práticas de obras boas nesse período que impulsiona à Páscoa, a passagem da morte para a vida em Jesus Cristo e também é a nossa páscoa, presente e futura. A seguir nós veremos o pensamento de Leão Magno a respeito da Quaresma, colhendo alguns itens de algumas de suas homilias.
1. O significado do Jejum
Leão Magno é famoso pelos seus sermões dados nos tempos litúrgicos. Um de suas homilias sobre a Quaresma fala do jejum. Ele resgata a prática feita pelos judeus que dominados pelos filisteus venceram os seus inimigos, entregando-se a um jejum renovando a sua fé em Deus nos seus corpos e nas suas almas. Ao se imporem uma severa penitência abstendo-se do alimento e da comida, venceram neles mesmos os apelos da gula e impuseram a fuga os seus adversários, que foram embora famintos. Ele traz presente o fato para o Povo de Deus para que use de uma forma semelhante o mesmo remédio para ser curado de possíveis vícios. Se eles tinham adversários materiais, nós podemos ter adversários espirituais mas com a ajuda de Deus nós podemos superá-los através da conversão pessoal e comunitária.
O Papa percebe que a quaresma é um tempo privilegiado para a prática da virtude, no caso o jejum, porque ele possibilita um controle maior sobre nós mesmos antes que os adversários da gente. Para que tudo ande da melhor forma, Leão Magno fala que os desejos terrenos devem estar em sintonia com os desejos do espírito. A quaresma seja uma oportunidade em cuja observância as pessoas são convidadas a vivê-la, apague todas as negligências e as faltas sejam perdoadas. Dessa forma será celebrada a Páscoa com maior animo, alegria, fonte de perdão e de amor.
2. Tempo de obras boas
O Papa exorta aos fiéis para que a Quaresma seja um tempo de práticas de obras boas, de caridade, de oração, de vida. Elas nos ajudam a combater as tentações da vida, me vista da nossa salvação. O fato é que Aquele, Jesus, que está em nós é mais forte que Tentador de modo que nós podemos confiar na sua presença e na sua força. Em suas homilias Leão afirma que se Senhor permitiu que fosse tentado por Satanás de modo que o venceu nas tentações, deu-nos o exemplo para que fossemos fortalecidos pelo seu auxilio. Ele o venceu não só enquanto Deus, mas enquanto homem, de modo que Ele lutou para que nós pudéssemos lutar em seguida de modo que o venceu para que também nós o vencêssemos na vida humana. Assim era conveniente para a economia da nossa salvação que o ser humano vencesse as espertezas do mais soberbo inimigo não pelo poder de sua divindade, no caso de Jesus, mas pelo mistério de sua humildade. Dessa forma, Jesus sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, conservou a humanidade longe de ser atingida por questões capciosas pelo tentador manifestando a sua divindade pelo serviço dos anjos e dos santos. Assim a existência terrena é permeada por provações na fé, por vitórias ligadas a compromissos porque quem serve o Senhor, deve preparar a sua alma para a tentação(cfr. Sb 2,1), para a luta em favor do bem.
A prática de boas obras possibilita uma vida melhor com o Senhor e com as pessoas. Se entre essas existir o jejum fortalecerá o interior da pessoa para que a perda de um pouco do excesso corpóreo, o espírito fique robustecido pelas delícias espirituais. Se houver algum excesso em vinganças, palavras vazias, essas possam dar lugar ao perdão, ao amor fraterno. Somos chamados ao perdão para que recebamos o dom (do perdão) por parte de Deus. Ao passar perto do pobre, não fiquemos surdos às suas súplicas, mas possamos ser misericordiosos com os indigentes, para conseguir misericórdia no julgamento. O Papa nos exorta a se alegrar em amenizar os pobres porque aumentarão as nossas riquezas; alegremo-nos em dar as vestes aos nus, para cobrirmos com as vestes necessárias; sintamos a nossa humanidade com os enfermos em sua fraqueza, exilados em suas provações, órfãos em seus abandono, as viúvas em suas tristezas, de modo que as ajudas prestadas tragam porções de benevolência para que as pratica com amor no coração.
Ninguém é isento de fazer obras boas que exaltem o Senhor na história, porque a pessoa é chamada ser sempre mais perfeita e santa, assim como Jesus exortou as suas discípulas e os seus discípulos para imitar o Pai que está nos céus. A Quaresma é um tempo favorável à salvação aonde se declara guerra aos vícios humanos para assim aumentar o progresso de todas as virtudes. Se em todos os tempos é chamada a pessoa à uma vida de paz e de amor, tem a Quaresma como ponto importante para a vida de conversão e de vida nova.
Quando o coração é grande, a medida de nossa misericórdia não dependerá dos limites de nossa riqueza. Ainda que se tenha poucos recursos, a grandeza da boa vontade terá os seus méritos. Se exteriormente o mundo romano pelos seus imperadores concediam liberdade para alguns presos por ocasião da festa pascal, a quaresma possa iluminar as pessoas para que vivam interiormente o dom do perdão, da ajuda para os necessitados, para ocorrer um encontro com o Cristo Ressuscitado na alegria.
O Papa diz que a Páscoa é uma festa sublime de modo que o tempo quaresmal seja bem preparado para participar ativamente da festa. Se é bem verdade que a pessoa se veste mais elegantemente em dia de festa, para manifestar a beleza na parte corporal a alegria do espírito, deve ter um cuidado especial para que nossa casa de oração receba maiores enfeites, para a celebração do  mistério de nossa redenção. Pela imitação do Espírito de Cristo são chamadas as pessoas pelo não desprezo dos humildes, mas por obras de caridade.
Os dias preparatórios à Páscoa, que são os dias quaresmais possam mostrar a beleza da Páscoa com práticas boas, de caridade e de amor. Como o apóstolo Paulo insiste, é preciso a prática do bem com todos(cfr. Gl 6,10). Essa não deve ser só concedida para os fiéis, mas os cristãos devem socorre aqueles e aquelas que ainda não receberam o evangelho a fim de serem ajudados em suas necessidades. Eles também foram regenerados pelo sangue de Cristo, os quais nem a origem corporal, nem o nascimento espiritual os separam de nós. O Papa também fala que o tempo da Quaresma é tempo propício de construção de paz, diante da violência, ou de mortes para que haja vida em abundância pela ressurreição de Jesus Cristo.  
Conclusão
Nós podemos afirmar a partir de algumas homilias de Leão Magno a importância da quaresma, para que o tempo que estamos celebrando na vida pessoal, familiar, comunitária, social seja de muita oração, jejum e de caridade. O Espírito Santo nos ilumine na caminhada que nós devemos fazer para viver o amor do Pai no seguimento a Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, no mundo de hoje.
 Fonte: CNBB

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