sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Dom Bosco e os jovens

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora (MG)


O Piemonte no período pós napoleônico vivia um quadro desolador. Na esteira do Capitalismo, que no trabalho de larga escala utilizava as pessoas fazendo-as escravas de um sistema brutal de produção e lucro, ficavam despojados até de si próprios, super utilizados ou se à margem do processo estariam fadados a uma pobreza absoluta. E nesse particular os jovens eram as vítimas mais fragilizadas de um sistema abusivo ou excludente. Foi nesse cenário que surgiu Dom Bosco que, consciente das agruras do seu tempo, elegera os jovens a querer promovê-los uma vida digna dentro de um ideal cristão. Dom Bosco não indisporia patrões contra empregados, sabia que essa seria uma luta vã. Iniciou os jovens pobres em lojas e oficinas promovendo o aprendizado de trabalhos em meio às atividades de recreação e religiosas. Sua fórmula de integração era simples: “Que os jovens não sejam só amados, mas que eles próprios saibam que são amados... Que sendo amados nas coisas que lhes agradam, aprendam a ver o amor nas coisas que, naturalmente, pouco lhe agradam”.

Mais tarde criou as escolas noturnas. Queria incansavelmente promover a educação dos jovens trabalhadores, sempre qualificá-los em dimensões profissionalizantes. Ali, os jovens eram despertos para um mundo igualitário, inclusivo, através do trabalho; trabalho esse que integrava atividades recreativas e espiritualidade. Para ele, a educação missionária nunca poderia se esquecer da alegria. João Bosco conhecera a tristeza de perto, ficou órfão aos dois anos de idade e a mãe e seus três filhos pequenos passou a viver uma vida marcada pela dificuldade financeira. Precisou trabalhar para custear seus estudos. Precisou superar muitas dificuldades com sua fé. Viveu conforme seus desígnios conciliatórios: “É preciso estar de acordo com todos”. Não promoveu desavenças com o poder, abraçou os jovenzinhos pobres promovendo-lhes um caminho para serem adultos realizados e realizadores. Combateu também os vícios por sua escravidão intrínseca, promovendo as virtudes.
No princípio reunia os jovens de rua no salão do seminário com disciplina e muita alegria. A alegria era o grande estímulo. Após a recreação inseria uma prece promovendo espiritualidade. Convidava os jovens para voltarem e eles voltavam sempre com outros e mais outros. No tocante às oficinas, onde havia muito o que criar ou consertar, ele ensinava os jovens a ganharem o pão com seu trabalho sem se indisporem com o trabalho, trabalhando felizes. Sua caridade e doçura contagiava todos os que se aproximavam dele. Com o tempo, o grupo de jovens que voluntariamente o procuravam foi crescendo mais e mais, ele inspirava confiança aos jovens. Sua missão estava sendo bem sucedida.
Certa vez, em meio a um dos seus muitos sonhos premonitórios, ele sonhou com Jesus lhe indicando o caminho. Ele era ainda um menino. No sonho ele brigava com outros meninos e um homem e o Mestre dele se aproximara e lhe teria dito: “Educar não com pancadas, mas com mansidão e caridade”. Faria isso mais tarde. “Os inimigos do jovem lutam sem parar. Por isso, nós também só descansaremos no céu”. Trabalhava intensamente e promovia o trabalho como saída para os meninos. Inspirado por São Francisco de Sales veio a criar os Salesianos como uma Sociedade missionária que abraçaria a pedagogia salvífica. Seu trabalho foi reconhecido pelo Estado, pelos poderosos e até mais recentemente por João Paulo II, ao conferi-lo o título de Pai e Mestre da Juventude.
Suas palavras antes de morrer demonstram o amor que tinha pelos jovens e por sua missão: “Digam aos meus jovens que os espero a todos no céu”. Seu modo de exorcizar o mal era o querer bem e fazer o bem. Um homem que levou a sério a síntese da mensagem de Cristo de amor e serviço, antevendo uma miríade de possibilidades num olhar fecundo educacional e participativo. Nunca abriu mão da alegria como antídoto para a tristeza. Com Dom Bosco, o menino virava adulto sorrindo pela promoção humana. A grandeza de seu trabalho frente à juventude é um exemplo que muitos educadores, catequistas, padres e pais devem se espelhar com guia e seu apostolado permanece contemporâneo e instigante.
Neste 31 de janeiro comemora-se o seu dia. Salve Dom Bosco, grande homem e santo! A juventude de todos os tempos há de recordá-lo em sua dimensão magistral. “Viver para servir e não para ser servido”. Prestemos atenção ao seu recado, um recado para os jovens e sempre jovem.     

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