sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Abrir os olhos

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

A fé é dom de Deus, que nos faz abrir os olhos para enxergarmos a vida na direção por Ele indicada. Se quisermos usar de nossa visão para irmos por outros caminhos somos livres de fazê-lo. Mas não atingiremos a meta que nos faz pessoas realizadas. Só nos tornamos felizes quando usarmos a vida toda para praticar o bem segundo as coordenadas do Criador e não a dos instintos. Para isso, nossa fé nele nos envolve na dinâmica da exercitação contínua do amor. A Epifania ou a revelação de Deus à humanidade toda, e não só ao povo judeu, inscreve-nos no número dos que têm condição de usar da passagem pela terra como verdadeiros filhos e filhas do mesmo Senhor. Ele quer o bem de todo ser humano, a ponto de assumir nossa natureza frágil e nos ensinar, através da mesma, a direcionar nossa caminhada segundo o termo por Ele indicada.

Na celebração do Natal de Jesus tivemos oportunidade específica de meditar no porque um Deus tão grandioso assume nossa vida humana tão frágil. Desse modo, Ele nos mostra nossa missão de, mesmo limitados, podermos atingir o cume da vida, que nos faz divinizados e obtermos com Ele uma vida imorredoura. Basta caminharmos seguindo seu exemplo. O maior ensinamento é o de darmos nossa própria vida para promovermos a dignidade da pessoa humana, imagem de Deus, mesmo a custas do sacrifício pessoal em bem dessa causa. É a ação da alteridade com amor a base de transformação de nossos limites e problemas para consertarmos o convívio humano.
A criança que se mostra à humanidade, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, quer reinar com seu amor, que dá sentido à nossa existência. Os magos do oriente, Baltazar, Belquior e Gaspar, reconheceram a verdade da criança que nasceu numa manjedoura e veio reinar com um reino de promoção e respeito a cada ser humano. Essa criança não veio tirar os reinos humanos, mas veio humanizá-los e divinizá-los. Seu poder é divino, atuando no humano: ”Os povos caminham à tua luz e os reis, ao clarão de tua aurora” (Isaías 60, 3).
A novidade trazida pela criança que se mostra à humanidade como o Salvador, faz todos terem condição de vida realizada. Isso agora é possível também aos que estão fora do grupo privilegiado dos judeus: “Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Efésios 3,6). Por isso, ninguém pode dizer-se discriminado por Deus. Todos são convidados, pela consciência do bem e pelo Evangelho explicitado, a se unirem ao Rei que chegou para formarem com Ele um só povo, vivendo na união, na justiça, na solidariedade e na paz. Ninguém mais pode tirar a vida e a dignidade do semelhante, que agora se torna seu verdadeiro irmão.
A Epifania do Senhor nos mostra quem Jesus é e porque veio como criança, dando-nos condição de enxergar o caminho que promove cada ser humano em sua dignidade.
Fonte: CNBB

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