Intensa participação dos jovens na Via Sacra, sexta à noite, em Guanabara. A alocução do Papa. Entrevista ao autor do texto
013-07-27 Rádio Vaticana
A jornada do Papa Francisco desta sexta-feira, 26 de Julho, no Brasil,
concluiu-se com a Via Sacra na marginal de Copacapana. O Papa chegou de
helicóptero às 17.20, (22.20 em Roma), passou no “papamóvel” entre os
fiéis, e introduziu depois, do palco, a celebração e o desenrolar da Via
Sacra. Eis o texto integral da alocução final do Papa, pronunciada em grande parte em espanhol:
"Queridos jovens,
Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho
da Cruz, que é um dos momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude.
No final do Ano Santo da Redenção, o Bem-aventurado João Paulo II quis
confiá-la a Cruz a vocês, jovens, dizendo-lhes: «Levai-a pelo mundo,
como sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em
Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção» (Palavras aos
jovens [22 de abril de 1984]: Insegnamenti VII,1 (1984), 1105). A partir
de então a Cruz percorreu todos os continentes e atravessou os mais
variados mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com
as situações de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Meus
irmãos, ninguém pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo
nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta
tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três perguntas nos
seus corações: O que vocês terão deixado na Cruz, queridos jovens
brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o
que terá deixado a Cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o
que esta Cruz ensina para a nossa vida?1. Uma antiga tradição da
Igreja de Roma conta que o Apóstolo Pedro, saindo da cidade para fugir
da perseguição do Imperador Nero, viu que Jesus caminhava na direção
oposta e, admirado, lhe perguntou: «Para onde vais, Senhor?». E a
resposta de Jesus foi: «Vou a Roma para ser crucificado outra vez».
Naquele momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com coragem
até o fim, mas entendeu sobretudo que nunca estava sozinho no caminho;
com ele, sempre estava aquele Jesus que o amara até o ponto de morrer na
Cruz. Pois bem, Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para
carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos,
mesmo os mais profundos. Com a Cruz, Jesus se une ao silêncio das
vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e
indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldades,
que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de
paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas
que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de
comida; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas
ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos
jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem
egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em
Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho. Na Cruz
de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele
acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas
cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo
com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida
(cf. Jo 3,16). 2. E assim podemos responder à segunda pregunta: o que
foi que a Cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O
que deixa em cada um de nós? Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar:
a certeza do amor inabalável de Deus por nós. Um amor tão grande que
entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá a
força para poder levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos
salvar. Na Cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua imensa
misericórdia. E este é um amor em que podemos confiar, em que podemos
crer. Queridos jovens, confiemos em Jesus, abandonemo-nos totalmente a
Ele (cf. Carta enc. Lumen fidei, 16)! Só em Cristo morto e ressuscitado
encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte
não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e a vida:
transformou a Cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em
sinal de amor, de vitória e de vida.O primeiro nome dado ao Brasil
foi justamente o de «Terra de Santa Cruz». A Cruz de Cristo foi plantada
não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no
coração e na vida do povo brasileiro e não só: o Cristo sofredor,
sentimo-lo próximo, como um de nós que compartilha o nosso caminho até o
final. Não há cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor não
venha compartilhar conosco.3. Mas a Cruz de Cristo também nos
convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar
sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem
tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a
sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a
mão. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a Cruz:
Pilatos, o Cireneu, Maria, as mulheres... Também nós diante dos demais
podemos ser como Pilatos que não teve a coragem de ir contra a corrente
para salvar a vida de Jesus, lavando-se as mãos. Queridos amigos, a Cruz
de Cristo nos ensina a ser como o Cireneu, que ajuda Jesus levar aquele
madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não tiveram medo
de acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura. E você como é?
Como Pilatos, como o Cireneu, como Maria? Queridos jovens, levamos as
nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a Cruz
de Cristo; encontraremos um Coração aberto que nos compreende, perdoa,
ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para amar cada
irmão e irmã com este mesmo amor. "As estações da Via Sacra evocavam
o sofrimento de Jesus expresso nos jovens de hoje. 14 as estações, 13
das quais ao longo de um percurso de 900 metros daquela marginal
atlântica. Um elenco excepcional animou a celebração que durou cerca
duma hora e um quarto. 280 artistas e voluntários do Brasil, mas também
de Porto Rico, México, Argentina, Alemanha, e Estados Unidos. Em cada
uma das estações foi desenvolvido um tema que tocava directamente a
juventude de hoje: missionariedade, conversão, comunidade, jovens mães,
seminaristas, religião em defesa da vida, casais, mulheres sofredoras,
estudantes, redes sociais e a juventude de todo o mundo. A
representação de cada uma das estações desenvolveu-se contemporaneamente
ao longo da Via Sacra e no palco central perante o Santo Padre, que se
faz assim presente em todos os momentos da celebração. Os textos das
meditações, aprovados pela Santa Sé em 2012, foram preparados pelos
sacerdotes dehonianos, P. Zezinho (José Fernandes de Oliveira) e P.
Joãozinho (João Carlos de Almeida) conhecidos no Brasil pelo seu empenho
junto dos jovens. Padre Joãozinho foi entrevistado pela Rádio Vaticano:
“Pode-se
dizer que entrei da gaiato no navio, porque D. Orani tinha pedido ao P.
Zezinho se podia fazer as meditações da Via Sacra. O P. Zezinho é um
símbolo da pastoral juvenil no Brasil. Podemos dizer que ele reinventou a
comunicação com a juventude nos anos 60-70. Foi, provavelmente, um dos
precursores dessa mesma pastoral, escrevendo textos famosos. Mas depois
desse convite, o P. Zezinho teve um derrame cerebral que lhe impediu
aceitar o convite. No entanto, foi ele próprio que depois me chamou para
exprimir o desejo de fazer as meditações. Na sequência disto, D. Orani
me convidou-me a ajudar o P. Zezinho. Levamos um mês para preparar todas
as estações; era a Via Sacra de Jesus e ao mesmo tempo a do P. Zezinho,
tornando-se depois na Via Sacra da “Juventude Solidária”. Este mote foi
aprovado pelo Vaticano e depois demos início aos trabalhos de
encenação, o que não é nada fácil. Pôr quase dois milhões de jovens na
marginal de Copacabana a seguir a Cruz. Inventamos momentos de surpresa
que não posso revelar, temos de esperar até amanhã, são segredos”
Fonte: News.VA
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