Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
O evangelho do décimo sétimo domingo do Tempo Comum tem para nós que
cremos uma importância especial. Relata o momento em que Jesus ensina
aos discípulos a oração que hoje em dia continuamos rezando e que nos
identifica como discípulos de Jesus: o Pai-Nosso.
É importante destacar o contexto em que o Evangelho situa a oração. É
acompanhada de uma catequese em que Jesus ilumina os discípulos sobre a
perseverança da oração. Por isso Jesus apresenta a parábola ou a
narrativa do senhor que pede pão a seu amigo porque está com uma
visita. Ensina-nos também a confiança com a qual devemos rogar a Deus. É
por isso que a parábola compara a bondade de um pai dentre os nossos e
a do Pai celestial.
Além disso, a Igreja, em sua liturgia, faz com que este evangelho seja
precedido pela leitura do Gênesis na qual Abraão intercede diante de
Deus pelos habitantes de Sodoma e Gomorra, a quem Deus quer castigar
por suas iniqüidades. Aí é que encontramos a chave em que nos podemos
fixar neste domingo. A oração apresentada por Jesus não é a de quem
pede de forma egoísta por seu próprio bem, mas a de quem intercede por
seus irmãos. Abraão participa dessa espécie de leilão às avessas com
Deus para buscar uma razão para salvar seus irmãos, os habitantes de
Sodoma e Gomorra, do castigo e da morte que se avizinha deles.
No início, Abraão nada tem a ver com isso. Em Sodoma vive um sobrinho
seu, mas este será salvo por Deus. Com os demais habitantes das duas
cidades Abraão não tem mais nenhum laço, a não ser o fato de eles
pertencerem à humanidade. Os habitantes são maus, por isso serão
castigados, e Abraão foi escolhido por Deus para ser pai de um povo que
será o fiel depositário da promessa. Abraão poderia ter ido embora e
não ver o que estava para acontecer. Ou poderia ter comentado com Deus
como era necessário, embora fosse triste, tomar decisões radicais para
extirpar o mal da sociedade humana. Mas faz exatamente o contrário.
Tenta desesperadamente salvar os que se haviam condenado por suas
próprias ações.
E Deus cede a Abraão. A cifra necessária de justos para salvar a cidade cai de 50 para 10 ante a insistência de Abraão.
Algo parecido se pode dizer do Evangelho, quando aquele que vai pedir
os pães não faz para si, mas para dar de comer a um amigo que acabara
de chegar à casa.
Poderíamos dizer que a chave da oração está no pedido de intercessão:
pedir a Deus por nossos irmãos e irmãs. Isso requer uma grande
solidariedade. É que realmente somos irmãos e irmãs. Sua morte ou seu
fracasso é realmente nossa morte e nosso fracasso. Oremos intercedendo
por eles e elas porque, se nós que somos maus, oferecemos coisas boas a
nossos filhos, quanto mais o Espírito de vida do Pai do céu que tanto
nos ama.
A oração do discípulo deve ser cheia de amor pelos seus semelhantes,
porque, como Jesus mesmo mostrou, ninguém será feliz completamente se
seu irmão não é feliz.
Fonte: Catequese Católica
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