De fato, irmãos e irmãs, um
dos grandes sinais de que o ser humano foi criado como imagem e
semelhança do Deus Uno e Trino (triúno) consiste na liberdade a nós
conferida como dom e tarefa.
As Escrituras não somente atestam esta
verdade (cf. Gn 1, 26), mas comunicam a grande responsabilidade que daí
advém, pois a Santíssima Trindade não nos rebaixou perante as demais
criaturas: «Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos, a Lua e as
estrelas que Tu criaste: que é o homem para te lembrares dele, o filho
do homem para com ele te preocupares? Quase fizeste dele um ser divino;
de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras das
tuas mãos, tudo submeteste a seus pés» (Sl 8, 4-7).
Embora a pessoa humana não seja igual – e
jamais poderá ser – a uma Pessoa Divina, ela é chamada a assemelhar e
refletir a Sua Presença Santa. Até que um dia, cada ser humano será
confrontado pessoalmente com o Amor Triúno, para então dar conta de sua
vida e liberdade no tempo: «E, assim está determinado que os homens morram uma só vez e depois tenha lugar o julgamento» (Hb 9, 27).
Este recordar do quanto o exercício das
nossas escolhas é importante para Deus, servirá para melhor
compreendermos o drama apresentado por Jesus, por meio de uma parábola,
que pode ser intitulada de «agricultores assassinos» registrada em Mt
21, 33-43.45-46.
Meditá-la, fora de um vício anti-semita, é
poder perceber que Deus nos quer todos em contato com as Sagradas
Escrituras, e nos perguntando sobre o lugar em que podemos e precisamos
ocupar na história de Salvação. Foi por isso que os mais resistentes –
do tempo de Jesus – foram sendo introduzidos pelo mesmo na Revelação,
feito parábola, onde o dono de uma vinha arrenda-a a agricultores que
respondem de modo violento à confiança e dons a eles prestados.
Num certo momento da “estória” abriu
espaço para a participação deles: «Ora bem, quando vier o dono da vinha,
que fará àqueles vinhateiros? Eles responderam-lhe: Dará morte
afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe
entregarão os frutos na altura devida» (vv. 40-41).
O que eles não esperavam é o sábio Jesus
conduzindo-os a um exame de consciência, a fim de que se convertessem e
mudassem de vida. Mas, infelizmente, a decisão deles – comunicar o
Evangelho – não correspondeu novamente à Misericórdia e Verdade
expressas por Cristo Jesus: «Os sumos sacerdotes e os fariseus, ao
ouvirem as suas parábolas, compreenderam que eram eles os visados.
Embora procurassem meios para prendê-Lo, temeram o povo, que O
considerava profeta» (vv. 45-46).
Um Evangelho, como é próprio da graça de
Deus, que nos convida a pensar na nossa realidade presente! Claro que o
Reino de Deus sempre será um dom do Alto, mas ninguém está dispensado de
uma resposta livre e consciente, a começar pelos cristãos.
O Papa teólogo, agora emérito, ensinou
com maestria esta verdade: «Certamente, não podemos “construir” o reino
de Deus com as nossas forças; o que construímos permanece sempre reino
do ser humano com todos os limites próprios da natureza humana. O reino
de Deus é um dom e por isso mesmo é grande e belo, constituindo a
resposta à esperança. Nem podemos – para usar a terminologia clássica –
“merecer” o céu com as nossas obras. Este é sempre mais do que aquilo
que merecemos, tal como ser amado nunca é algo “merecido”, mas um dom.
Porém, com toda a nossa consciência da “mais valia” do Céu, permanece
igualmente verdade que o nosso agir não é indiferente diante de Deus e,
portanto, também não o é para o desenrolar da história. Podemos
abrir-nos a nós mesmos e ao mundo ao ingresso de Deus: da verdade, do
amor e do bem» (BENTO XVI, Salvos na Esperança, nº35).
Por isso, neste tempo que a Igreja
Católica vive (e sempre!), não podemos ficar esperando demasiado o
surgimento de uma pessoa, líder ou Papa que venha resolver aquilo que
passa pela minha disposição sincera e comprometida de tudo submeter ao
Senhor da Vinha, do Reino e da Igreja. Submissão esta que não nos aliena
e dispensa… Muito pelo contrário! Pois a nossa resposta e participação é
tão válida e necessária que, também nós, podemos colocar nos lábios do
Senhor da História e Justo Juiz de cada um, àquelas palavras tão duras
quanto verdadeiras: «Por isso vos digo: O Reino de Deus ser-vos tirado e
será confiado a um povo que produzirá os seus frutos» (v. 43).
Deus nos livre de construirmos, com más
escolhas, tal sentença, anteriormente citada! Por fim, oremos para que o
Espírito Santo venha iluminar os cardeais no próximo Conclave, para que
surja um novo Papa tão bom quanto o anterior, disposto a nos ajudar
nesta arte e necessidade de acolher os dons de Deus, sem nunca abusar de
sua Divina Misericórdia, nem tampouco da nossa liberdade! Louvor e Glória ao Senhor!
Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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