Jesus narra a parábola do
semeador e a explica aos seus discípulos. A semente semeada é a Palavra.
São diversas as situações em que ela é ouvida. Uns a ouvem por mera
curiosidade, sem compromisso; outros ouvem sinceramente, mas arrefecem
seu ânimo diante dos riscos que podem correr. Há também osque a escutam,
mas a esquecem logo, iludidos pelas falsas seduções dos sistemas de
exploração deste mundo. Porém, Jesus nos chama a ouvir e acolher a Sua
Palavra dando abundantes frutos de amor, misericórdia e justiça.
A história em si é simples: “Um
semeador saiu a semear a sua semente, e, quando semeava, caiu alguma
junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram; E outra caiu
sobre pedra, e, nascida, secou-se, pois que não tinha umidade; E outra
caiu entre espinhos, e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram; E
outra caiu em boa terra; e, nascida, produziu fruto, cento por um.” (Lucas 8,5-8).
A explicação de Jesus é também fácil de entender: “A
semente é a Palavra de Deus. A que caiu à beira do caminho são os que a
ouviram; vem, a seguir, o diabo e arrebata-lhes do coração a Palavra,
para não suceder que, crendo, sejam salvos. A que caiu sobre a pedra são
os que, ouvindo a Palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz,
crêem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam. A que
caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram
sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos
não chegam a amadurecer. A que caiu na boa terra são os que, tendo
ouvido de bom e reto coração retêm a Palavra; estes frutificam com
perseverança” (Lucas 8,11-15).
Alguém ensina as Escrituras a várias
pessoas; a resposta dessas pessoas depende do estado do coração delas,
isto é, de sua atitude. Consideremos o semeador, a semente e o solo.
O trabalho do semeador é colocar a
semente no solo. Uma vez que a semente for deixada no celeiro, nunca
produzirá uma safra, por isso seu trabalho é importante. Mas a
identidade pessoal do semeador não é. O semeador nunca é chamado pelo
nome nesta história. Nada nos é dito sobre sua aparência, sua
capacidade, sua personalidade ou suas realizações. Ele simplesmente põe a
semente em contato com o solo. A colheita depende da combinação do solo
com a semente.
Aplicando-se espiritualmente, os
seguidores de Cristo devem estar ensinando a Palavra. Quanto mais ela é
plantada nos corações dos homens, maior será a colheita. Mas a
identidade pessoal do professor não tem importância: “Eu plantei,
Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que
planta é alguma cousa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento” (1 Coríntios 3,6-7).
A semente é a Palavra de Deus. Cada
conversão é o resultado do assentamento do Evangelho dentro de um
coração puro. A Palavra gera (Tiago 1,18), salva (Tiago 1,21), regenera
(1 Pedro 1,23), liberta (João 8,32), produz fé (Romanos 10,17),
santifica (João 17,17) e nos atrai a Deus (João 6,44-45).
Como o Evangelho se espalhava no primeiro
século, foi-nos dito muito pouco sobre os homens que o divulgaram,
porém, muito nos foi dito sobre a mensagem que eles disseminaram: estude
o livro dos Atos dos Apóstolos e note que em cada cidade para onde os
apóstolos viajaram, os homens eram convertidos como resultado da Palavra
que era ensinada. A importância das Escrituras deve ser ressaltada ao
máximo.
O fruto produzido depende da resposta à
Palavra. É decisivamente importante ler, estudar e meditar sobre as
Escrituras. A Palavra tem que vir habitar em nós (Colossenses 3,16),
para ser implantada em nosso coração (Tiago 1,21). Temos de permitir que
nossas ações, nossas palavras e nossas próprias vidas sejam formadas e
moldadas pela Palavra de Deus.
Uma safra sempre depende da natureza da
semente, não do tipo da pessoa que a plantou. Um pássaro pode plantar
uma castanha: a árvore que nascer será um castanheiro, e não um pássaro.
Isto significa que não é necessário tentar traçar uma linhagem
ininterrupta de fiéis cristãos, recuando até o primeiro século. Há força
e autoridade próprias da Palavra para produzir cristãos como aqueles do
tempo dos apóstolos.
A Palavra de Deus contém força
vivificante. O que é necessário são homens e mulheres que permitam que a
Palavra cresça e produza frutos em suas vidas; pessoas com coragem para
quebrar as tradições e os padrões religiosos em volta deles, para
simplesmente seguir o ensinamento da Palavra de Deus. Hoje em dia, a
Palavra tem sido frequentemente misturada com tanta tradição, doutrina e
opinião que é quase irreconhecível. Mas se pusermos de lado todas as
inovações dos homens e permitirmos que ela trabalhe, podemos nos tornar
fiéis discípulos de Cristo justamente como aqueles que seguiram Jesus
há quase dois mil anos. A continuidade depende da semente.
É perturbador notar que a mesma semente
foi plantada em cada tipo de solo, mas os resultados foram muito
diferentes. A mesma Palavra de Deus pode ser plantada em nossos dias,
mas os resultados serão determinados pelo coração daquele que ouve.
Alguns são solos de beira de estrada,
duro, impermeável. Eles não têm uma mente aberta e receptiva para
permitir que a Palavra de Deus os transforme. O Evangelho nunca
transformará corações como estes, porque eles não o permitem entrar.
As raízes das plantas, no solo pedregoso,
nunca se aprofundam. Durante os tempos fáceis, os brotos podem parecer
interessantes, mas, abaixo da superfície do terreno, as raízes não estão
se desenvolvendo. Como resultado, vem uma pequena temporada seca ou um
vento forte, e a planta murcha e morre. Os cristãos precisam desenvolver
suas raízes por meio da fé em Cristo e do estudo da Palavra cada vez
mais profundo. Tempos difíceis virão, e somente aqueles que tiverem
desenvolvido suas raízes abaixo da superfície sobreviverão.
Quando se permite que ervas daninhas
cresçam junto com a semente pura, nenhum fruto pode ser produzido. As
ervas disputam a água, a luz solar e os nutrientes e, como resultado,
sufocam a boa planta. Existe uma grande tentação a permitir que
interesses mundanos dominem tanto nossa vida que não nos resta energia
para devotar ao crescimento do Evangelho em nossas vidas.
Então, há o bom solo que produz fruto. A conclusão desta parábola é deixada para cada um escrever. Que espécie de solo é você?
“Eis que o semeador saiu a semear.”
A cena é atual. Também agora, o semeador divino lança a sua semente. A
obra da salvação continua a cumprir-se e o Senhor quer servir-se de nós:
deseja que nós, os cristãos, abramos ao seu amor todos os caminhos da
terra; convida-nos a propagar a mensagem divina, com a doutrina e com o
exemplo, até aos confins do mundo. Pede-nos que cada um de nós, cidadãos
da sociedade eclesial e da sociedade civil, seja outro Cristo,
santificando o seu trabalho profissional e as suas obrigações de estado.
Se olharmos à nossa volta, para este
mundo que amamos, porque foi feito por Deus, veremos que a parábola se
realiza: a Palavra de Jesus é fecunda, suscita em muitas almas desejos
de entrega e de fidelidade. A vida e o comportamento dos que servem ao
Senhor mudaram a história, e mesmo muitos que não O conhecem se regem –
talvez nem disso se aperceberem – por ideais nascidos do Cristianismo.
Vemos também que parte da semente cai em
terra estéril ou entre espinhos e abrolhos: há corações que se fecham à
luz da fé. Os ideais de paz, de reconciliação, embora aceitos e
proclamados, são – não poucas vezes – desmentidos pelos fatos. Alguns
empenham-se inutilmente em afogar a voz de Deus, impedindo a sua difusão
por meio da força bruta ou com outra arma menos ruidosa, mas talvez
mais cruel, porque insensibiliza o espírito: a indiferença. Louvor e Glória ao Senhor!
Padre Bantu Mendonça- Canção Nova
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