A
tragédia em Santa Maria, cidade universitária do Rio Grande do Sul,
comoveu o Brasil por provocar mais de 230 vítimas, em sua maioria,
jovens. Além disso, o país se entristeceu também por ver o sofrimento e,
quem sabe, até sentir a dor das famílias que perderam seus entes
queridos. De acordo o sacerdote e psicólogo, coordenador do Grupo de
Psicólogos Católicos da Arquidiocese do Rio de Janeiro, padre Adílson
Ribeiro dos Santos, o alento da fé é o referencial que dará suporte para
todos aqueles que experimentam o mistério da morte. A fé servirá de
apoio para lidar com a perda.
“Há diversas formas de
lidar com as situações de perda. Lidar com ela olhando como uma
fatalidade ou como uma abertura de perspectiva dentro do campo da fé,
sobretudo da fé cristã. O homem cristão encontra o sentido da sua vida
na visão beatífica de Deus, que é a contemplação de Sua face na
eternidade”, explicou.
De fato, todo ser humano
passará pela morte, afinal, essa acaba sendo a sua única certeza. Mas,
segundo o sacerdote, a dor pode dar sentido à existência humana se for
respaldada pela fé e pela solidariedade, manifestação do amor de Deus
que demonstra às pessoas que elas não estão sozinhas.
“O exercício do
voluntariado, os profissionais das diversas áreas que se reúnem para dar
suporte, os cultos ecumênicos, as Missas que são celebradas em Santa
Maria, tudo isso de alguma maneira é o substrato, o chão, para que na
dimensão da finitude, o ser humano encontre um amparo e um sentido para a
vida”, reforçou.
O sentimento de culpa
A culpa é um sentimento
que pode fazer parte da vida de algumas pessoas que passam por situações
traumáticas como a de Santa Maria. Culpa por ter permitido o filho ou a
filha ir à boate, por não terem sido tomadas atitudes preventivas para
evitar o acidente e assim por diante.
Para o padre Adilson, a
culpa é um sentimento que precisa ser trabalhado e que brota da
experiência de impotência ante a situação. Todavia, é um sentimento que
se perde ao longo do tempo por não ter argumentos que o sustente.
“Diante do fato ocorrido
sempre se julga que poderia ter sido feito algo e como nós não temos
como prever as contingências da vida, hora ou outra o ser humano é
surpreendido. Olhando nesta perspectiva, a culpa não teria muita razão
de ser. Ela é natural, mas logo se perde porque não encontra
argumentação que a sustente. À medida que a pessoa vai sendo acompanha
vai entendendo que sentir-se culpada não cabe a ela e isso a livra da
culpa”, esclareceu.
Como ajudar as pessoas na hora do luto?
Segundo o sacerdote, na
hora da dor, a ajuda e presença de todos são importantes. Porém, o
fundamental é não deixar a pessoa enlutada sozinha, sentindo-se
desamparada. “É preciso respeitar a sua singularidade. Mas, é importante
que ela se sinta amparada, protegida, que tem alguém junto com ela,
para que possa, diante do vazio, ir aos poucos preenchendo com o carinho
recebido. Não há muitas palavras a serem ditas nessas horas, mas só a
presença afetiva e efetiva mesmo.”
O desafio do recomeço
Retomar a vida pode ser a
grande luta que a pessoa enlutada irá travar consigo mesma. Por vezes,
os sentimentos que vêm são aqueles como o desespero e a solidão.
Perguntas como “o que será da minha vida a partir de agora” são comuns
aos ouvidos de muitos. É uma dor difícil de ser superada, mas segundo
padre Adilson, o tempo vai ajudar a administrar melhor o luto e a perda,
visto que esse é um processo próprio da vida humana.
“No ato da fecundação você
ganha a vida, o útero materno. Com o processo de desenvolvimento humano
você deixa o útero e ganha a sua infância; você perde a infância e
ganha a pré-adolescência; perde a pré-adolescência e ganha a
adolescência; perde a adolescência e ganha a juventude; perde a
juventude e ganha a vida adulta; perde a vida adulta e ganha a melhor
idade; perde a melhor idade e ganha a Deus", explicou o sacerdote sobre o
processo natural da vida.
Portanto, diz o padre, não
há nada que a vida não possa se encarregar de, novamente, encontrar um
sentido para levá-la adiante. “Estamos apenas de passagem por esse
mundo. A vida definitiva está por vir e esses nossos irmãos já foram
contemplados por Deus com a Eternidade. O alento da fé é o referencial
que com certeza vai dar suporte para todos que diante do mistério da
morte são capazes de criar e recriar a vida.”
Fonte: cancaonova
Nenhum comentário:
Postar um comentário