domingo, 30 de setembro de 2012

Comissão Episcopal para a Amazônia avalia Missão

Por Jaime Carlos Patias   
29 / Set / 2012 08:47
Os bispos e assessores da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, reunidos nesta sexta-feira, 28, na sede das Pontifícias Obras Missionárias (POM), em Brasília - DF, refletiram sobre os desafios enfrentados pela Igreja nos regionais que compõem a Amazônia legal.

Padre Thierry Linard de Guertechin, presidente do Instituto Brasileiro de desenvolvimento, IBRADES, teceu alguma considerações sobre os resultados do último Censo do IBGE referente ao “mapa das religiões” publicado em junho deste ano.
Para o cardeal dom Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, “é preciso levar a sério os dados revelados pela pesquisa”. Enquanto os católicos somam 64,6% da população, os evangélicos no Brasil passaram de 15,4% em 2000 para 22,2% em 210. Entre as igrejas pentecostais a Assembleia de Deus é a que mais cresceu. A Igreja Universal do Reino de Deus foi a que mais encolheu. “Chama a atenção o crescimento no grupo de evangélicos ‘não determinados’ (7,5 milhões) o que mostra uma desagregação”, afirmou padre Thierry. Sobre a evasão dos fieis católicos, padre Thierry avalia que institucionalmente a Igreja investiu mais na ‘Casa Grande’ do que na ‘Senzala’, comparação utilizada para indicar que há mais paróquias nos grandes centros do que na periferia onde a população é maior. “Precisamos abrir as portar das nossas igrejas e expandir o trabalho”, disse.
Na opinião de Padre Camilo Pauletti, diretor das Pontifícias Obras Missionárias - POM, “é preciso investir na formação de lideranças e na criação de grupos de reflexão como círculos bíblicos, num modelo de Igreja descentralizado”. Nesse modelo, dom Moacyr Grechi, arcebispo emérito de Porto Velho – RO, lembrou que “a igreja Matriz deve ser ponto de referência para coordenar a ação pastoral e não para centralizar”. Diante dos desafios “não é para desesperar. Nós temos que mostrar o caminho”.
Os desafios para a Missão
Sobre as emergências e necessidades, padre Raimundo Vanthuy, representante do Regional Norte 1 (Amazônia e Roraima) destacou a falta de padres, a escassez de recursos, investimento na formação e a falta de assessoria jurídica e administrativa. “Há muito trabalho, mas aparecem também sinais de cansaço. É preciso fortalecer os leigos, mas também apostar mais na formação dos padres para a Amazônia” sublinhou.
Outra questão preocupante é a situação dos povos indígenas que enfrentam a cobiça de grandes mineradoras ligadas aos políticos locais. Padre Vanthuy citou uma denúncia feita pela revista Época dando conta de que, somente uma Empresa ligada ao senador Romero Jucá, ex-líder do governo no Senado, pede para atuar em nove áreas de mineração, todas elas em terras indígenas. O tráfico de adolescentes e jovens para exploração sexual entre os indígenas de São Gabriel da Cachoeira – AM, e a situação da saúde no Vale do Javari, onde 80% da população indígena está com hepatite C e D, são, segundo o padre, outros graves problemas. Além disso, sem escola e trabalho, os jovens ficam vulneráveis e se tornam presa fácil do tráfico de drogas. “No passado já enfrentamos os fazendeiros e os militares. A grande questão hoje é como enfrentar os narcotraficantes”, destacou padre Vanthuy.
Dom Erwin Kräutler, bispo da Prelazia do Xingu - PA, e presidente do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, manifestou preocupação com relação aos grandes projetos do governo como a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte em Altamira - PA. “As lideranças estão sendo compradas e enganadas com ofertas para aceitar o projeto como a salvação da região. Alguns já começam a perceber que estão sendo enganados e não apoiam mais a ideia”, explicou dom Erwin. O bispo está preocupado também com o ressurgimento de uma “Igreja triunfalista com liturgias pomposas que já não representa aquela que nasceu do histórico Encontro de Santarém, em 1972. Quando dom José Luís Ascona, bispo de Marajó fala de tráfico de seres humanos e eu dos povos indígenas, não sentimos apoio”, desabafou.
Padre Luigi Ceppi apresentou a situação de Rondônia onde a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, juntas empregam 33.700 trabalhadores. “Uma vez terminada as obras, como absorver esses trabalhadores?” indagou.
“Na evangelização atingimos apenas 15% da população. Como sanar essa lacuna?” Para o representante de Rondônia e Acre, “ao invés de ficarmos gritando de fora precisamos nos inserir nos locais de decisões para uma participação ativa”. Padre Ceppi sublinhou a necessidade de dar maior autonomia aos povos tradicionais para torná-los independentes dos organismos e do governo.
“Estávamos aguardando esta reunião com ansiedade”, disse o cardeal dom Claudio Hummes ao concluir os trabalhos. “Através dos relatórios apresentados a Comissão pode ouvir cada Região que compõe a Amazônia legal. Isso nos deu uma ampla visão dos desafios, sofrimentos e esperanças. A paixão missionária que sempre move a Igreja está viva”, sublinhou dom Cláudio.
Segundo o cardeal, a evangelização deve ser sempre retomada. “Temos de ir até às pessoas e sermos capazes de fazermos uma missão que se aproxima das pessoas. Isso dá a certeza de que a Igreja as ama na proximidade com o povo, com os indígenas. O segundo aspecto é o fenômeno da urbanização. Amazônia não é mais só florestas, mas tem grandes periferias. Como a Igreja vai acompanhar essa mudança? Surge também, uma forte necessidade de investir na formação dos leigos para que eles participem da Missão da Igreja e da transformação da sociedade”, concluiu.
Participaram da reunião ainda, dom Jaime Viera Rocha, arcebispo de Natal - RN, dom Vital Chitolina, bispo de Diamantino - MT, dom Sérgio Castriani, bispo da Prelazia de Tefé – AM, dom Philip Dickmans, bispo de Miracema – TO, padre Raimundo Possidônio, representante do Norte 2, (Amapá e Pará), padre José Ângelo Figueira, representante do Nordeste 5 (Maranhão), padre Sávio Corinaldesi, secretário da Pontifícia Obra de São Pedro Apóstolo e Irmã Maria Irene Lopes, secretária da Comissão Episcopal para a Amazônia.  Fonte: POM

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