Por Jaime Carlos Patias
29 / Set / 2012 08:47
Os
bispos e assessores da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB,
reunidos nesta sexta-feira, 28, na sede das Pontifícias Obras
Missionárias (POM), em Brasília - DF, refletiram sobre os desafios
enfrentados pela Igreja nos regionais que compõem a Amazônia legal.
Para o
cardeal dom Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e presidente
da Comissão Episcopal para a Amazônia, “é preciso levar a sério os dados
revelados pela pesquisa”. Enquanto os católicos somam 64,6% da
população, os evangélicos no Brasil passaram de 15,4% em 2000 para 22,2%
em 210. Entre as igrejas pentecostais a Assembleia de Deus é a que mais
cresceu.
A Igreja Universal do Reino de Deus foi a que mais encolheu. “Chama a
atenção o crescimento no grupo de evangélicos ‘não determinados’ (7,5
milhões) o que mostra uma desagregação”, afirmou padre Thierry. Sobre a
evasão dos fieis católicos, padre Thierry avalia que institucionalmente a
Igreja investiu mais na ‘Casa Grande’ do que na ‘Senzala’, comparação
utilizada para indicar que há mais paróquias nos grandes centros do que
na periferia onde a população é maior. “Precisamos abrir as portar das
nossas igrejas e expandir o trabalho”, disse.
Na
opinião de Padre Camilo Pauletti, diretor das Pontifícias Obras
Missionárias - POM, “é preciso investir na formação de lideranças e na
criação de grupos de reflexão como círculos bíblicos, num modelo de
Igreja descentralizado”. Nesse modelo, dom Moacyr Grechi, arcebispo
emérito de Porto Velho – RO, lembrou que “a igreja Matriz deve ser ponto
de referência para coordenar a ação pastoral e não para centralizar”.
Diante dos desafios “não é para desesperar. Nós temos que mostrar o
caminho”.
Os desafios para a Missão
Sobre as
emergências e necessidades, padre Raimundo Vanthuy, representante do
Regional Norte 1 (Amazônia e Roraima) destacou a falta de padres, a
escassez de recursos, investimento na formação e a falta de assessoria
jurídica e administrativa. “Há muito trabalho, mas aparecem também
sinais de cansaço. É preciso fortalecer os leigos, mas também apostar
mais na formação dos padres para a Amazônia” sublinhou.
Outra
questão preocupante é a situação dos povos indígenas que enfrentam a
cobiça de grandes mineradoras ligadas aos políticos locais. Padre
Vanthuy citou uma denúncia feita pela revista Época dando conta de que,
somente uma Empresa ligada ao senador Romero Jucá, ex-líder do governo
no Senado, pede para atuar em nove áreas de mineração, todas elas em
terras indígenas. O tráfico de adolescentes e jovens para exploração
sexual entre os indígenas de São Gabriel da Cachoeira – AM, e a situação
da saúde no Vale do Javari, onde 80% da população indígena está com
hepatite C e D, são, segundo o padre, outros graves problemas. Além
disso, sem escola e trabalho, os jovens ficam vulneráveis e se tornam
presa fácil do tráfico de drogas. “No passado já enfrentamos os
fazendeiros e os militares. A grande questão hoje é como enfrentar os
narcotraficantes”, destacou padre Vanthuy.
Dom
Erwin Kräutler, bispo da Prelazia do Xingu - PA, e presidente do
Conselho Indigenista Missionário – CIMI, manifestou preocupação com
relação aos grandes projetos do governo como a construção da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte em Altamira - PA. “As lideranças estão sendo
compradas e enganadas com ofertas para aceitar o projeto como a salvação
da região. Alguns já começam a perceber que estão sendo enganados e não
apoiam mais a ideia”, explicou dom Erwin. O bispo está preocupado
também com o ressurgimento de uma “Igreja triunfalista com liturgias
pomposas que já não representa aquela que nasceu do histórico Encontro
de Santarém, em 1972. Quando dom José Luís Ascona, bispo de Marajó fala
de tráfico de seres humanos e eu dos povos indígenas, não sentimos
apoio”, desabafou.
Padre
Luigi Ceppi apresentou a situação de Rondônia onde a construção das
usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, juntas
empregam 33.700 trabalhadores. “Uma vez terminada as obras, como
absorver esses trabalhadores?” indagou.
“Na
evangelização atingimos apenas 15% da população. Como sanar essa
lacuna?” Para o representante de Rondônia e Acre, “ao invés de ficarmos
gritando de fora precisamos nos inserir nos locais de decisões para uma
participação ativa”. Padre Ceppi sublinhou a necessidade de dar maior
autonomia aos povos tradicionais para torná-los independentes dos
organismos e do governo.
“Estávamos
aguardando esta reunião com ansiedade”, disse o cardeal dom Claudio
Hummes ao concluir os trabalhos. “Através dos relatórios apresentados a
Comissão pode ouvir cada Região que compõe a Amazônia legal. Isso nos
deu uma ampla visão dos desafios, sofrimentos e esperanças. A paixão
missionária que sempre move a Igreja está viva”, sublinhou dom Cláudio.
Segundo o
cardeal, a evangelização deve ser sempre retomada. “Temos de ir até às
pessoas e sermos capazes de fazermos uma missão que se aproxima das
pessoas. Isso dá a certeza de que a Igreja as ama na proximidade com o
povo, com os indígenas. O segundo aspecto é o fenômeno da urbanização.
Amazônia não é mais só florestas, mas tem grandes periferias. Como a
Igreja vai acompanhar essa mudança? Surge também, uma forte necessidade
de investir na formação dos leigos para que eles participem da Missão da
Igreja e da transformação da sociedade”, concluiu.
Participaram
da reunião ainda, dom Jaime Viera Rocha, arcebispo de Natal - RN, dom
Vital Chitolina, bispo de Diamantino - MT, dom Sérgio Castriani, bispo
da Prelazia de Tefé – AM, dom Philip Dickmans, bispo de Miracema – TO,
padre Raimundo Possidônio, representante do Norte 2, (Amapá e Pará),
padre José Ângelo Figueira, representante do Nordeste 5 (Maranhão),
padre Sávio Corinaldesi, secretário da Pontifícia Obra de São Pedro
Apóstolo e Irmã Maria Irene Lopes, secretária da Comissão Episcopal para
a Amazônia. Fonte: POM
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