Por Pe. Geovane Saraiva
O século XII exultou com a vitalidade cultural, originalidade
intelectual e profunda espiritualidade de um homem extremamente marcado e
seduzido pela bondade infinita de Deus, Bernardo de Claraval, que para
muitos foi considerado a maior figura humana da idade média. Ele nasceu
na França, numa família importante da nobreza, perto de Dijon, em 1901.
Aos 19 anos de idade, passou por uma grande dor, ao perder sua piedosa e
querida mãe. Mas a vida prossegue e logo se deu conta que o amor de
Deus era algo precioso e sublime, fazendo uma opção, que lhe foi
decisiva e fundamental em sua vida, abandonando tudo que era do mundo
para ingressar na Ordem dos Cistercienses, que se iniciava e ensaiava
seus primeiros passos.
Considerado um homem de personalidade forte, disciplinado, ao mesmo
tempo em que procurando viver um grau de santidade, de tal modo, que foi
capaz de vencer as resistências, mesmo dentro de sua família. Tornou-se
e um líder de muita influência, empolgando a todos, através de seus
sermões e comentários sobre as Sagradas Escrituras, e ainda, sobre
liturgia da Igreja, no mundo de seu tempo.
Deixou marcas profundas na história da espiritualidade católica. Em
diversas ocasiões, obedecendo à voz de Deus, deixou a vida contemplativa
para ir ao encontro de questões que agitava o mundo em que ele estava
inserido, com sua presença bem determinada, concreta e segura, nos
grandes acontecimentos que a humanidade vivia, considerando e levando em
conta que ele era um homem de vida contemplativa, um religioso e monge.
São Bernardo, pela graça de Deus, tornou-se um abade inflamado de
amor e zelo pela casa de Deus. O zelo pela tua casa me devora (cf. Sl
69,9; Jo 2,17). Foi exímio como pregador, místico, escritor, fundador de
mosteiros, abade, conselheiro de papas, reis e bispos. Foi também
político polêmico e ao mesmo tempo pacificador.
A grande e maior obra de Bernardo de Claraval foi cantar o amor
eterno de Deus, se revelado no Cristo, desde Belém até o Gólgota. Ao
mesmo tempo em que foi poeta do amor incomparável de Nossa Senhora,
nesta belíssima oração: “Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que
jamais se ouviu dizer que nenhum daqueles que recorreram à vossa
assistência, e reclamaram o vosso auxílio, fosse por Vós desamparado.
Animado, eu, pois, com igual confiança, a Vós recorro Virgem entre todas
singular, e gemendo sob o peso dos meus pecados, prosto-me aos vossos
pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó mãe do Filho de Deus,
humanado; antes, dignai-vos ouvi-las e acolhei-as benignamente. Amém”.
O grande Poeta Dante, da Divina Comédia, o elegeu como seu guia no
paraíso, colocando nos seus lábios a saudação a Virgem Maria: “Tu, ó
Virgem, és tão valiosa na intercessão, de tal modo, que quem quiser
alcançar uma graça, sem recorrer a Ti, é semelhante a uma ave, que tenta
voar sem asas”.
Na Igreja Católica, a partir da vida de São Bernardo, em tudo que ele
fez e deixou, nas expressões de piedade popular, sobretudo, o culto a
Virgem Maria, temos muito que louvar e agradecer a Deus. Sua vida foi um
verdadeiro hino de louvor, profundamente marcado pela misericórdia
infinita de Deus. Terminou seus últimos dias de vida em sua casa, no
mosteiro de Claraval, rodeado de afeto e admiração dos seus monges,
entregando sua alma a Deus no dia 20 de agosto de 1153. Dezenove anos
depois a Igreja o elevou às honras dos altares e depois lhe deu o título
de Doutor da Igreja.
Bendito seja Deus por este homem santo, sábio e voltado para a
contemplação dos mistérios divinos. “O justo medita a sabedoria e sua
palavra ensina a justiça, pois traz no seu coração a lei de seu Deus”
(Sl 36, 30s).
* Pe. Geovane Saraiva, padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor,
Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), e
da Academia Metropolitana de Letras de
Fortaleza - pegeovane@paroquiasantoafonso.org.br
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