Mensagem do papa Bento XVI demonstra preocupação com deslocamentos migratórios
Neste
domingo, dia 15 de janeiro, a Igreja celebra o Dia Mundial do Migrante e
do Refugiado. O tema central da mensagem do papa Bento XVI foi
“Migrações e nova evangelização”, intimamente ligado à ideia de
migrações como característica nos dias atuais. O Sumo Pontífice
manifestou sua preocupação com a complexidade dos deslocamentos
migratórios, e aconselhou aos cristãos que assumam o compromisso da Nova
Evangelização com a acolhida fraterna do irmão migrante e refugiado.
Na mensagem, o papa quer sensibilizar a
todos sobre a situação desumana que milhares de pessoas, migrantes e
refugiadas, em todo o mundo são submetidas, tendo seus direitos e
dignidade humana desrespeitados. O pontífice utiliza expressões como
“novo vigor”, “novas modalidades”, “novas problemáticas”, “novas
estratégias pastorais”, “novas situações”, para sinalizar a ideia de
novas condutas e atitudes. “A hora presente chama a Igreja a realizar
uma nova evangelização inclusive no vasto e complexo fenômeno da
mobilidade humana, intensificando a ação missionária tanto nas regiões
de primeiro anúncio, como nos países de tradição cristã”, propõe o Santo
Padre.
Segundo o papa, na sociedade
contemporânea, em busca de melhores condições de vida, ou para fugir de
condições de violência, como guerras, miséria e catástrofes naturais,
foi produzida uma grande mistura de pessoas e de povos sem precedentes,
com novas problemáticas do ponto de vista não só humano, mas também
ético, étnico, religioso e espiritual. “A Igreja enfrenta o desafio de
ajudar os migrantes a manterem firme a fé, mesmo quando falta o apoio
cultural que existia no país de origem, lançando mão inclusive de novas
estratégias pastorais, assim como de métodos e linguagens para um
acolhimento vivo da Palavra de Deus”.
Conforme a mensagem do Dia Mundial do
Migrante e do Refugiado de 2010, Bento XVI, reiterou a necessidade do
diálogo entre distintos povos e culturas diante da falta de fé e
fraternidade cristãs. O pontífice finalizou a mensagem de 2012,
convocando aos cristãos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e
leigas, sobretudo, os jovens e as jovens, que se mostrem sensíveis e
ajudem aos inúmeros “irmãs e irmãos que, tendo fugido da violência,
devam se confrontar com novos estilos de vida e com dificuldades de
integração”.
Leia agora a Mensagem do papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2012:
Migrações e nova evangelização
Queridos Irmãos e Irmãs!
Anunciar Jesus Cristo, único Salvador do
mundo, «constitui a missão essencial da Igreja, tarefa e missão, que as
amplas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais
urgentes» (Exort. apost. Evangelii nuntiandi, 14). Aliás, hoje, sentimos
a urgência de promover, com novo vigor e novas modalidades, a obra de
evangelização num mundo onde a queda das fronteiras e os novos processos
de globalização deixaram as pessoas e os povos ainda mais próximos,
tanto pela expansão dos meios de comunicação, como pela frequência e a
facilidade com que indivíduos e grupos se podem deslocar. Nesta nova
situação, devemos despertar em cada um de nós o entusiasmo e a coragem
que impeliram as primeiras comunidades cristãs a ser intrépidas
anunciadoras da novidade evangélica, fazendo ressoar no nosso coração as
palavras de São Paulo: «Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me
gloriar, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não
evangelizar!» (1 Cor 9,16).
O tema, que escolhi para o Dia Mundial
do Migrante e do Refugiado em 2012 – «Migrações e nova evangelização» –,
nasce desta realidade. De fato, a hora presente chama a Igreja a
realizar uma nova evangelização inclusive no vasto e complexo fenômeno
da mobilidade humana, intensificando a ação missionária tanto nas
regiões de primeiro anúncio, como nos países de tradição cristã.
O Beato João Paulo II convidava-nos a
«alimentar-nos da Palavra para sermos “servos da Palavra” no trabalho da
evangelização... numa situação que se vai tornando cada vez mais
variada e difícil com a progressiva mistura de povos e culturas que
caracteriza o novo contexto da globalização» (Carta apost. Novo
millennio ineunte, 40). Com efeito, as migrações dentro ou para fora da
nação, como solução para a busca de melhores condições de vida ou para
fugir de eventuais perseguições, guerras, violência, fome e catástrofes
naturais, produziram uma mistura de pessoas e de povos sem precedentes,
com novas problemáticas do ponto de vista não só humano, mas também
ético, religioso e espiritual.
As atuais e palpáveis consequências da
secularização, a aparição de novos movimentos sectários, uma difundida
insensibilidade à fé cristã, uma acentuada tendência à fragmentação,
tornam difícil focalizar uma referência unificadora que encoraje a
formação de «uma só família de irmãos e irmãs em sociedades que se
tornam cada vez mais multiétnicas e interculturais, onde também as
pessoas de várias religiões são estimuladas ao diálogo, para que se
possa encontrar uma serena e frutuosa convivência no respeito das
legítimas diferenças», como eu escrevia na Mensagem do ano passado para
este Dia Mundial. O nosso tempo está marcado por tentativas de cancelar
Deus e a doutrina da Igreja do horizonte da vida, enquanto ganham
terreno a dúvida, o cepticismo e a indiferença, que gostariam de
eliminar todo e qualquer referimento social e simbólico da fé cristã.
Em tal contexto, sucede frequentemente
que os migrantes que conheceram Cristo e O aceitaram se sintam impelidos
a considerá-Lo como não relevante na própria vida, a perder o sentido
da fé, a deixar de se reconhecerem como parte da Igreja, acabando muitas
vezes por viverem uma existência que já não é caracterizada por Cristo e
pelo seu Evangelho. Cresceram no seio de povos marcados pela fé cristã,
mas depois com frequência emigram para países onde os cristãos são uma
minoria ou a antiga tradição de fé já não é convicção pessoal, nem
confissão comunitária, mas está reduzida a um fato cultural. Aqui a
Igreja enfrenta o desafio de ajudar os migrantes a manterem firme a fé,
mesmo quando falta o apoio cultural que existia no país de origem,
lançando mão inclusive de novas estratégias pastorais, assim como de
métodos e linguagens para um acolhimento vivo da Palavra de Deus. Em
alguns casos, trata-se duma ocasião para proclamar que, em Jesus Cristo,
a humanidade se torna participante do mistério de Deus e da sua vida de
amor, abrindo-se a um horizonte de esperança e de paz através,
nomeadamente, do diálogo respeitoso e do testemunho concreto da
solidariedade, enquanto, noutros casos, há a possibilidade de despertar a
consciência cristã adormecida, através dum renovado anúncio da Boa Nova
e duma vida cristã mais coerente para fazer descobrir a beleza do
encontro com Cristo, que chama o cristão à santidade em todo o lado,
mesmo em terra estrangeira.
Mas o atual fenômeno migratório é também
uma oportunidade providencial para o anúncio do Evangelho no mundo
contemporâneo. Homens e mulheres provenientes das mais diversas regiões
da terra, que ainda não encontraram Jesus Cristo ou que O conhecem só de
maneira parcial, pedem para ser acolhidos em países de antiga tradição
cristã. Em relação a eles, é necessário encontrar modalidades adequadas
para que possam encontrar e conhecer Jesus Cristo e experimentar o dom
inestimável da salvação, que para todos é fonte de «vida em abundância»
(cf. Jo 10,10); os próprios migrantes desempenham um papel precioso a
este respeito, porque podem, por sua vez, tornar-se «anunciadores da
Palavra de Deus e testemunhas do Senhor Ressuscitado, esperança do
mundo» (Exort. apost. Verbum Domini, 105).
No exigente itinerário da nova
evangelização em âmbito migratório, assumem um papel decisivo os agentes
pastorais – sacerdotes, religiosos/as e leigos/as – que se encontram a
trabalhar num contexto cada vez mais pluralista; em comunhão com os seus
Bispos, inspirando-se no Magistério da Igreja, convido-os a procurar
caminhos de partilha fraterna e anúncio respeitoso, superando contrastes
e nacionalismos. Por sua vez, as Igrejas tanto de proveniência, como de
trânsito e de acolhimento dos fluxos migratórios saibam intensificar a
sua cooperação em benefício tanto dos que partem como daqueles que
chegam e, em todo o caso, de quantos têm necessidade de encontrar no seu
caminho o rosto misericordioso de Cristo no acolhimento do próximo.
Para uma frutuosa pastoral de comunhão, poderá ser útil atualizar as
tradicionais estruturas que atendem os migrantes e os refugiados,
dotando-as de modelos que correspondam melhor às novas situações em que
aparecem diferentes culturas e povos a interagir.
Os refugiados que pedem asilo, fugindo
de perseguições, violências e situações que põem em perigo a sua vida,
têm necessidade da nossa compreensão e acolhimento, do respeito pela sua
dignidade humana e seus direitos, assim como da consciência dos seus
deveres. O seu sofrimento reclama dos diversos Estados e da comunidade
internacional que haja atitudes de mútuo acolhimento, superando temores e
evitando formas de discriminação e que se procure tornar concreta a
solidariedade também mediante adequadas estruturas de hospitalidade e
programas de reinserção. Tudo isto exige uma ajuda recíproca entre as
regiões que sofrem e aquelas que, anos após anos, acolhem um grande
número de pessoas em fuga e também uma maior partilha de
responsabilidades entre os Estados.
A imprensa e os outros meios de
comunicação desempenham um papel importante para fazer conhecer, com
imparcialidade, objetividade e honestidade, a situação de quantos foram
forçados a deixar a sua pátria e os seus afetos e desejam começar a
construir uma nova existência.
As comunidades cristãs reservem
particular atenção aos trabalhadores migrantes e suas famílias,
acompanhando-os com a oração, a solidariedade e a caridade cristã;
valorizando aquilo que enriquece reciprocamente e promovendo novos
projetos políticos, econômicos e sociais, que favoreçam o respeito pela
dignidade de cada pessoa, a tutela da família, o acesso a uma habitação
condigna, ao trabalho e à assistência.
Sacerdotes, religiosos e religiosas,
leigos e, sobretudo, os jovens e as jovens, mostrem-se sensíveis e
ajudem incontáveis irmãs e irmãos que, tendo fugido da violência, se
devem confrontar com novos estilos de vida e com dificuldades de
integração. O anúncio da salvação em Jesus Cristo será fonte de alívio,
esperança e «alegria completa» (cf. Jo 15,11).
Por fim, desejo recordar a situação de
numerosos estudantes vindos de outros países que enfrentam problemas de
inserção, dificuldades burocráticas, aflições na busca de alojamento e
de estruturas de acolhimento. De modo particular, as comunidades cristãs
mostrem-se sensíveis com tantos jovens que, além do crescimento
cultural, têm necessidade – precisamente devido à sua tenra idade – de
pontos de referência, cultivando no seu coração uma profunda sede de
verdade e o desejo de encontrar Deus. De modo especial, as Universidades
de inspiração cristã sejam lugares de testemunho e de irradiação da
nova evangelização, aparecendo seriamente comprometidas, no ambiente
acadêmico, não só em cooperar para o progresso social, cultural e
humano, mas também em promover o diálogo entre as culturas, valorizando a
contribuição que podem dar os estudantes estrangeiros. Estes
sentir-se-ão impelidos a tornar-se, eles mesmos, protagonistas da nova
evangelização, se encontrarem testemunhas autênticas do Evangelho e
modelos de vida cristã.
Queridos amigos, invoquemos a
intercessão de «Nossa Senhora do Caminho», para que o anúncio jubiloso
da salvação de Jesus Cristo infunda esperança no coração daqueles que se
encontram, em condições de mobilidade, pelas estradas do mundo. A todos
asseguro a minha oração e concedo a Bênção Apostólica.
Vaticano, 21 de Setembro de 2011.
Benedictus PP. XVI



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