O Evangelho de hoje relata a terceira duma série de controvérsias com vários
grupos judaicos, iniciada em Marcos 2,1. Talvez, surpreendentemente, a
discussão de hoje se deu não somente com os fariseus, mas com os
discípulos de João Batista. Marcos fala disso porque os discípulos de
João formavam uma comunidade que sobreviveu à morte do Batista, sem
dúvida até o segundo século da nossa era (cf. Jo 3,25). O motivo foi
porque os discípulos de Jesus não davam grande importância ao jejum ,
uma prática que, ao lado da oração e da esmola, era muita cara às
tradições religiosas dos judeus. Aliás, práticas também que continuam a
ter muito sentido para os cristãos de hoje, se bem que com ênfases e
expressões diferentes.No trecho de hoje,o Senhor Jesus não se concentra sobre o jejum como
tal, mas sobre o simbolismo de jejuar ou não no contexto das bodas ou
casamento. A imagem do banquete de casamento tinha conotações
messiânicas e a referência a Jesus, como o Noivo, tem esse sentido. Com a
vinda de Jesus Nazareno, chegou a hora do casamento, ou seja, dum novo
relacionamento entre Deus e as pessoas. Mas também nesse texto, bem no
meio das controvérsias, se faz uma alusão clara à cruz, ao destino de
Cristo, pois “vão chegar dias em que o noivo será tirado do meio deles. Nesse dia, eles vão jejuar”.
A fidelidade à vontade do Pai, na pregação da novidade da chegada do
Reino de Deus, levará Cristo inevitavelmente à morte, pois o velho
sistema politico-religioso é incapaz de adaptar-se à grande novidade da
Boa Nova trazida por Ele. Por isso, Marcos termina o texto colocando duas comparações sobre a
relação entre o velho e o novo: o pano remendado e os barris de vinho. A
Boa Nova, com as suas consequências sociais e religiosas, é como um
pano novo no qual não pode remendar roupas velhas, e como barril novo
que preserva vinho novo. Para acolher Jesus e o Seu projeto é
necessário acabar com estruturas arcaicas de dominação e de
discriminação. Quem procurar salvaguardar esquemas antiquados e
injustos não vai conseguir vivenciar a Boa Nova. O Salvador
veio exigir de todos nós mudança radical, tanto no nível individual
como social. Não veio “remendar”, mas trazer algo novo , um novo
relacionamento entre as pessoas, com Deus, com elas mesmas e com a
criação.Louvor e Glória ao Senhor!
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