No Evangelho de João a vocação dos discípulos não se dá da mesma forma
que nos outros Evangelhos. Neste, Cristo chama pessoalmente e de forma
direta. Em João, o seguimento de Jesus se dá porque algumas pessoas
sabem quem Ele é e O comunicam a outros que, por sua vez, passam a
fazer a mesma experiência.O testemunho do Batista deve ter mudado completamente a vida dos dois discípulos. Vendo Jesus passar, ele diz: “Eis o Cordeiro de Deus”.
João O chama dessa forma porque descobriu n’Ele o Cordeiro Pascal (cf.
Ex 12) e o Servo sofredor (cf. Is 53), síntese das expectativas de
libertação do passado atualizadas na pessoa de Jesus que passa. Os dois
primeiros discípulos devem tomar a iniciativa, sem esperar que o
Senhor os chame. Para eles, bastou o testemunho de João Batista de que
Jesus é o libertador. A partir desse momento, descobrem que em Cristo
está a resposta a todos os seus anseios. O Batista, por causa do
testemunho, perde os discípulos. Estes, pela coragem da opção que
fizeram, dão pleno sentido a suas vidas e passam a ser testemunhas para
os outros.No versículo 38 encontramos as primeiras palavras de Jesus no Evangelho de João: “O que vocês estão procurando?” Do início ao fim de nossas vidas estamos à procura de algo ou de alguém.
Como discípulos, procuramos saber quem é Jesus. E Ele testa nossa
sede, perguntando-nos o que estamos procurando. Essa pergunta, que
aparece nos momentos cruciais do Evangelho de João, costuma se
manifestar nas fases decisivas de nossa vida: “O que estamos
procurando?”A resposta dos discípulos é movida pelo desejo de comunhão: “Mestre, onde moras?” Os
discípulos não estão interessados em teorias sobre Jesus. Querem, ao
contrário, criar laços de intimidade com Ele: conhecê-Lo, ter amizade
com Ele, acompanhá-Lo, saber onde Ele mora. Para criar intimidade com Jesus é preciso partir e fazer experiência: “Venham ver!” E o resultado da experiência já aparece: “Então eles foram, e viram onde Jesus morava. E permaneceram com ele naquele dia”. O verbo permanecer é muito importante no Evangelho de João. Por ora os discípulos permanecem com Jesus. Mais adiante, o Mestre dirá: “Permaneçam em mim”. Permanecer com Jesus e com as pessoas é fácil. O difícil é permanecer n’Ele e nas pessoas. Só aí é que a comunhão será plena.André era um dos discípulos que, diante do testemunho do Batista,
seguiram a Jesus e fizeram a experiência das “quatro horas da tarde”. Só
agora é que o evangelista revela o nome desse discípulo. O outro fica
anônimo, podendo assumir o nome de cada um dos seguidores do Mestre.
André significa homem (= ser humano). Será que o evangelista quer
insinuar que as pessoas só se tornam verdadeiramente humanas depois que
fazem a experiência do Mestre? Fato é que a experiência se converte em
testemunho que arrasta: André leva Simão a Jesus, e Simão leva os
ensinamentos Jesus às pessoas e assim por diante. O Evangelho mostra só
um flash do testemunho de André. De fato, o v. 41 diz que “ele encontrou primeiro seu irmão…” Isso dá a entender que teria encontrado, em seguida, outras pessoas. André fala no plural: “Encontramos o Messias”.
É uma experiência comunitária e progressiva de quem é Jesus. João
Batista o apontara como o Cordeiro de Deus; os primeiros discípulos o
chamam de Mestre; Pedro já fica sabendo que se trata do Messias.É desse modo que nós encontramos a Jesus: porque outra pessoa nos falou dele ou nos comprometeu numa tarefa apostólica. Jesus sempre reconhece aqueles que o Pai coloca em seu caminho. ele reconhece Natanael debaixo da figueira e também Simão, escolhido para ser a primeira Pedra da Igreja. Iluminados pelas palavras de João Batista,reconhecemos em Jesus o Cordeiro de Deus. Renovemos hoje um compromisso de segui-Lo e de colaborar para a construção de seu Reino de Paz e Fraternidade. Louvor e Glória ao Senhor!
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