Quaresma: Papa pede atenção «concreta» aos necessitados
Mensagem de Bento XVI alerta contra indiferença e desinteresse face ao sofrimento alheio
Cidade do Vaticano, 22 fev 2012 (Ecclesia) - A mensagem de Bento
XVI para a Quaresma, que hoje se inicia, pede aos católicos de todo o
mundo que façam deste tempo uma oportunidade para “prestar atenção ao
outro”, com “preocupação concreta pelos mais pobres”.
“Uma sociedade como a atual pode tornar-se surda, quer aos
sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida.
Não deve ser assim na comunidade cristã”, refere o texto, divulgado pela
Santa Sé.
O Papa critica “a indiferença” e “o desinteresse que nascem do
egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela ‘esfera privada’”
na cultura atual, atitudes que quer ver contrariadas por um “olhar de
fraternidade”.
“O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a
sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o
facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé
deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro ‘alter ego’, infinitamente
amado pelo Senhor”, pode ler-se.
O documento, com versão em português, intitula-se ‘Prestemos atenção
uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras’,
expressão retirada da Carta aos Hebreus, do Novo Testamento.
Bento XVI alerta para o perigo de “uma espécie de ‘anestesia
espiritual’”, que impede de atender ao sofrimento alheio com um “olhar
feito de humanidade e de carinho”.
“O nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre”,observa.
Recordando o episódio bíblico [livro do Génesis] em que Deus
interpela Caim, a respeito do assassinato do seu irmão Abel, a mensagem
papal incita a consciência de cada pessoa a sentir-se responsável por
quem é “criatura e filho de Deus”: “Também hoje Deus nos pede para
sermos o ‘guarda’ dos nossos irmãos”.
“O facto de sermos o ‘guarda’ dos outros contrasta com uma
mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa
de a considerar na sua perspetiva escatológica e aceita qualquer opção
moral em nome da liberdade individual”, precisa.
Bento XVI diz que a cultura contemporânea parece ter perdido “o
sentido do bem e do mal”, sendo necessário “reafirmar com vigor que o
bem existe e vence”.
“O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade
e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e
favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do
bem”, assinala.
Esse bem, acrescenta, inclui a chamada “correção fraterna”, numa “responsabilidade espiritual pelos irmãos”.
“A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de
misericórdia a de ‘corrigir os que erram’. É importante recuperar esta
dimensão do amor cristão”, escreve o Papa.
A mensagem de Bento XVI
diz que os católicos não devem “ficar calados diante do mal” e lamenta
que alguns prefiram, “por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se
à mentalidade comum”.
“A nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no
mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão
social”, prossegue.
A Quaresma é um período de 40 dias - excetuando os domingos -,
marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de
preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos.
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